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Genocídio: Em 150 anos, ao menos 500 crianças indígenas morreram em internatos nos EUA

Foram identificadas 408 escolas que operaram entre 1819 e 1969 no país; mortes de alunos foram resultado de abuso, doenças e acidentes
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A primeira investigação federal a escolas – internatos que durante 150 anos operaram nos Estados Unidos com o objetivo de anular a identidade cultural de milhares de crianças indígenas – os quais foram arrancados de suas famílias e comunidades – identificou em sua etapa inicial mais de 500 mortes de alunos nessas instituições.

Segundo informação emitida nesta quarta-feira pelo Departamento do Interior, foram identificadas 408 escolas que operaram em 27 estados e territórios entre 1819 e 1969. As cifras iniciais das mortes de alunos são só de 20 dessas instituições.

O Departamento do Interior que, entre suas funções se encarrega de relações com a população indígena dos Estados Unidos e que administrou o sistema de internatos, informou que com a continuidade da investigação se espera que o número de mortes de estudantes identificados poderia ascender até dezenas de milhares. 

As políticas federais das escolas-internatos para indígenas aplicadas durante um século e meio tinha “o duplo objetivo de assimilação cultural e despojo territorial de povos indígenas por meio da remoção e relocalização forçada de seus filhos”, reportou o Departamento do Interior ao apresentar o primeiro volume de sua investigação.  

Foram identificadas 408 escolas que operaram entre 1819 e 1969 no país; mortes de alunos foram resultado de abuso, doenças e acidentes

Wikipédia
Milhares de crianças indígenas morreram em internatos nos EUA




Abuso, doenças e acidentes

As mortes de alunos foram resultado de abuso, doenças e acidentes, segundo o informe.  Algumas das escolas foram administradas diretamente pelo governo federal, e outras foram operadas por organizações religiosas, católicas e protestantes, com financiamento e supervisão federal. 

“As consequências das políticas federais dos internatos para indígenas – incluindo o tramo intergeracional causado pela separação da família e a erradicação cultural infligidas sobre gerações de crianças tão jovens até de 4 anos idade – são desgarradores e inegáveis”, declarou a secretária do Interior, Deb Haaland, indígena do povo de Laguna e primeira pessoa indígenas em um gabinete presidencial na história do país, ao apresentar o informe.

Ao menos 40 mil crianças indígenas morreram em internatos nos EUA, reporta Reuters

“Muitos estadunidenses poderiam se alarmar ao ficar sabendo de que Estados Unidos também tem uma história de arrancar crianças nativas de suas famílias em um esforço para erradicar nossa cultura e borrar-nos como povo. É uma história da qual temos que aprender se nosso país busca se curar dessa tragédia”, escreveu Haaland em um artigo de opinião publicado nesta quarta-feira no Washington Post, recordando que seus próprios avós maternos e seu bisavô foram enviados à força para estes internatos. 

Informa que durante mais de um século, dezenas de milhares de crianças foram arrancadas de suas comunidades e colocados nesses internatos, e há cálculos de que em 1926, quase 83% de indígenas em idade escolar estavam nesse sistema. Muitos foram castigados fisicamente ao se atreveram a falar seu idioma ou praticar suas tradições. Um fundador de uma destas escolas resumiu a missão desse sistema como “mate o indígena, salve o homem”. 

A investigação federal impulsionada por Haaland é uma resposta ao fato de que nunca antes o governo prestou contas sobre este sistema para crianças indígenas, incluindo as mortes de alunos. Haaland também anunciou que será iniciada um giro de funcionários de sua secretária durante um ano pelo país para que ex-estudantes indígenas desses internatos compartilhem suas memórias como parte de uma coleção de história oral permanente.

Deborah Parker da Coalizão Nacional e Saneamento dos Internatos Indígenas, organização que ajudou o Departamento do Interior na identificação das escolas, comentou à agência AP que elogiou o trabalho inicial, mas que se requer mais do governo. “Nossas crianças merecem ser regressados a cada família. Estamos aqui para fazer justiça a eles e não vamos deixar de advogar por isso até que os Estados Unidos prestem contas plenas pelo genocídio cometido contra os nativos”.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
Tradução de Beatriz Cannabrava.



As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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