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Eleitos em 2020, democratas têm sido incapazes de barrar leis conservadoras nos EUA

Como demonstrado nas últimas semanas, e recentemente com fim do direito ao aborto, vontade do povo não é o que impera neste “farol da democracia”
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“As netas hoje não deveriam ter de lutar as batalhas que já haviam sido ganhas pelas suas avós”, declara um cartaz nos protestos de dezenas de milhares que explodiram ao redor do país diante da decisão da Suprema Corte de Estados Unidos anulando o direito constitucional ao aborto, enquanto nos desfiles anuais massivos de orgulho gay, cartazes declaram que “seguimos nós”, com um amplo coro de representantes das diversas forças democratizadoras advertindo que a decisão é só uma parte do ataque contra os direitos e liberdades civis deste país. 

Alguns proclamam que esta ofensiva direitista é nada menos que o avanço do “cristofascismo”.  A decisão sobre o aborto é só um de uma série de recentes triunfos direitistas no nível federal e estadual, apesar da expulsão de Trump e do controle da Casa Branca e do Congresso estar com os democratas.

Fim da proteção ao aborto nos EUA, vigente há 49 anos, é sequela do governo Trump

A ofensiva inclui a imposição de proibições contra livros que abordam temas gay ou sobre racismo e história, redução de restrições sobre armas de fogo, supressão do direito ao voto, redução de liberdades civis de imigrantes e da comunidade gay em vários estados, entre outros avanços ominosos.

Em parte, esta estratégia direitista prosperou porque os republicanos agora controlam os congressos em 30 estados, enquanto os democratas controlam em só 17. 

Alguns advertem que esta decisão é um passo mais para detonar uma “guerra civil” que muitos da ultra direita têm promovido durante anos, inclusive organizando forças paramilitares para esse propósito, e cujo primeiro ensaio foi a tentativa de golpe de Estado por forças neofacistas há um ano e meio. 

Como demonstrado nas últimas semanas,  e recentemente com fim do direito ao aborto, vontade do povo não é o que impera neste “farol da democracia”

Jota
Por certo, com esta decisão e outros fracassos democráticos, continua o deterioro da legitimidade das principais instituições da república




Propósitos eleitorais

Os democratas, do presidente para baixo, de imediato usaram a decisão para propósitos eleitorais (e junto com diversas ONGs, para arrecadar fundos), esperando que possa mudar a dinâmica das eleições legislativas federais de novembro; até agora o prognóstico é que os republicanos retomariam o controle do Congresso. 

Mas o problema com essa mensagem, expressaram diversos ativistas, é que as pessoas já votaram para que os democratas retomassem o controle da Casa Branca e do Congresso há menos de dois anos, e ainda assim, sucedeu tudo isso. 

Vale sublinhar que entre 60% e 70% do país apoia o direito ao aborto. Igual maioria apoia reforma migratória, controle de armas, acesso universal a serviços de saúde, direitos trabalhistas, medidas para combater a mudança climática e a desigualdade econômica e outras coisas mais. Mas como foi demonstrado de novo na semana passada, a vontade do povo não é o que impera neste “farol da democracia”. 

Por certo, com esta decisão e outros fracassos democráticos, continua o deterioro da legitimidade das principais instituições da república. A confiança popular na Suprema Corte diminuiu 11 pontos desde o ano passado, chegando ao seu nível mais baixo com só 25%, segundo a pesquisa mais recente do Gallup. A taxa de aprovação do presidente agora oscila ao redor de 39% e a do Congresso está em apenas 21%, na média das principais pesquisas mais recentes. 

Diante do avanço da direita minoritária, é cada vez mais claro que só votar ou sair para marchar sobre o tema de cada quem não é suficiente. O desfile do orgulho gay de Nova York neste domingo (26) foi encabeçado pela organização nacional de serviços de saúde para as mulheres Planned Parenthood que marchou com cartazes declarando “juntos, lutamos por todos”. 

Rage Against the Machine, Olivia Rodrigo, Madonna e outros artistas denunciaram as últimas notícias e estão arrecadando fundos para apoiar de maneira direta organizações que oferecem serviços de aborto em vários estados e para defender direitos civis. Organizações e movimentos de defesa de direitos e liberdades civis dizem que estão buscando como responder de maneira conjunta contra a violência legal, política, social e física da ofensiva direitista contra as mulheres, os gays, as minorias, os imigrantes, os jornalistas, entre outros.

Alguns dizem que agora se inicia – ou deveria se iniciar – um movimento amplo de resistência para o resgate democrático dos Estados Unidos.

Bônus Musical | Aretha Franklin – Respect

David Brooks é correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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