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Chomsky defende Assange: "Lei de Espionagem dos EUA não cabe em uma sociedade livre"

“Intelectuais, jornalistas e políticos incluindo Chomsky e Ellsberg exigem fim da perseguição estadunidense de Assange e elogiam a AMLO e outros líderes latino-americanos por defender o fundador de Wikileaks”.
Jim Cason
La Jornada
Washington

Tradução:

A um par de quadras da Casa Branca, centenas de intelectuais, advogados, ativistas em defesa dos direitos civis, legisladores e jornalistas se reuniram no Clube Nacional de Jornalistas nesta sexta-feira (20) para demandar que o presidente Joe Biden rejeite todas as acusações criminais contra Julian Assange e ponha fim à perseguição do fundador do Wikileaks, que se encontra encarcerado na Inglaterra onde luta contra esforços para extraditá-lo aos Estados Unidos.

O Tribunal Belmarsh, assim chamado pelo nome da prisão onde está agora Assange, inclui testemunhos sobre as crescentes tentativas para usar a lei estadunidense e a “segurança nacional” para minar a liberdade de imprensa, como também para informar sobre reuniões recentes com o presidente Andrés Manuel López Obrador e outros mandatários latino-americanos que ofereceram seu apoio no esforço internacional para libertar o jornalista australiano. Os organizadores do fórum desta sexta-feira informaram que outras cinco mil pessoas participaram de maneira virtual deste evento. 

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Assange está formalmente acusado de violar a “Lei de Espionagem” – promulgada há um século para perseguir espiões alemães durante a Primeira Guerra Mundial –  por obter e publicar documentos militares e diplomáticos secretos. “Obrigar o governo a prestar contas é central à missão de uma imprensa livre e uma democracia funcional”, afirmou no fórum Katrina van den Heuvel, diretora da revista The Nation, publicação que tem exigido desde o início que as acusações sejam descartadas. No fim do ano passado, New York Times, The Guardian, Le Monde, Der Spiegel e El País – todos os quais publicaram material secreto entregado pelo Wikileaks – emitiram uma carta aberta apelando ao governo dos Estados Unidos para que anule as acusações contra Assange.

Noam Chomsky, falando via videoconferência desde sua residência no Arizona, agregou que “a Lei de Espionagem não tem lugar em uma sociedade livre e democrática” e afirmou que “não deve surpreender-nos que essa lei esteja sendo utilizada para castigar jornalistas… deixar que cidadãos saibam o que o Estado está fazendo é um delito imperdoável para muitos governos”.

“Intelectuais, jornalistas e políticos incluindo Chomsky e Ellsberg exigem fim da perseguição estadunidense de Assange e elogiam a AMLO e outros líderes latino-americanos por defender o fundador de Wikileaks”.

Andrew Rusk – Flickr
Vários senadores estadunidenses, incluindo Bernie Sanders também condenam a perseguição contra Assange




Daniel Ellsberg

Daniel Ellsberg, que há mais de 50 anos foi o funcionário que entregou os chamados Papéis do Pentágono ao New York Times, declarou nesta sexta-feira que a Lei de Espionagem tem um conflito fundamental com os direitos de livre expressão garantidos pela Primeira Emenda da Constituição.  

“Os políticos eleitos não gostam de ser questionados sobre as decisões que tomam”, explicou Jeremy Corbyn, o ex-líder do Partido Laboral britânico, o qual chegou a Washington para participar neste tribunal. “Mas isso é fundamental para uma democracia funcional”, sublinhou ao apelar aos políticos eleitos nos Estados Unidos para que se somem à demanda de que Washington descarte as acusações contra Assange, e em referência a estes advertiu que “seu silêncio faz com que as coisas sejam pior para a democracia”.

Recentemente, vários senadores estadunidenses incluindo Bernie Sanders, Elizabeth Warren e Ron Wyden, e deputados como Ro Khanna, condenaram a perseguição contra Assange, mas embora Biden tenha deplorado a perseguição a jornalistas quando era candidato, permitiu que a solicitação de extradição de Assange prossiga. 

Ben Wizner, um advogado especializado em liberdades civis estadunidenses e que tem defendido vários divulgadores de informação oficial, comentou ante o tribunal que os documentos oficiais divulgados pelo Wikileaks – alguns dos quais foram pessoalmente distribuídos por Assange neste mesmo Clube Nacional de Jornalistas há uma década – foram essenciais para comprovar que as forças militares estadunidenses estavam assassinando intencionalmente civis na guerra no Afeganistão, que aliados de Washington estavam torturando prisioneiros e que os estadunidenses tinham “lugares secretos” onde torturavam “suspeitos”. 

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Entre as partes mais emotivas da sessão do Tribunal Belmarsh nesta sexta-feira, houve o informe dado por Kristinn Hrafnsson, editor em chefe do Wikileaks, sobre suas visitas a cinco mandatários latino-americanos que se somaram ao apelo para libertar Assange. O jornalista islandês, que teve que participar por vídeo, por conselho de seus advogados – poderia correr perigo de ser preso se viajasse aos Estados Unidos –, sublinhou que López Obrador “apoiou de maneira constante a Julian”. O aplauso mais forte da sessão se deu quando Hrafnsson informou que o presidente mexicano havia se comprometido a abordar esse tema com o presidente Biden.

De fato, o caso estadunidense contra Assange enfraqueceu de maneira significativa pela publicação de novas diretrizes sobre procuração judicial pelo Departamento de Justiça em outubro de 2022, que explicitamente evitam acusar organizações de notícias que recebem e publicam informação oficial classificada, inclusive de fontes anônimas e confidenciais. Hrafnsson indicou que com base nestas novas diretrizes, 17 das 18 acusações estadunidenses contra Assange deveriam ser descartadas. 

O integrante do conselho de Progressive International – que organizou este tribunal – Srecko Horvat, o qual presidiu o evento junto com a jornalista estadunidense Amy Goodman, concluiu o encontro apelando ao governo de Biden a descartar as acusações contra Assange e instou: “corresponde a todos nós pressionar o governo de Biden para que haja”. Ao final, foi tocado o vídeo de “Wish you were here”, de Roger Waters. 

Jim Cason | Especial para o La Jornada em Washington.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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