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Potências destroem habitats e democracias, então decidem que imigrar é ilegal

Acumulando privilégios com a mão direita e devastando continentes inteiros com a esquerda, países ricos inviabilizam os povos e tiraram deles a dignidade
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

Os abusos constantes dos grandes poderes corporativos, com a aberta cumplicidade de um sistema neoliberal disfarçado de desenvolvimento, transformaram a política internacional em um sinistro jogo de poder onde a vida humana deixou de existir como um fator na tomada de decisões.

Este marco, cujos limites se reduzem à busca incessante de concentração da riqueza, converteu o planeta em um campo de batalha no qual se impõe uma estratégia de extermínio. O fenômeno das migrações, nesse contexto, não se reduz a fugir da violência ou à busca de melhores oportunidades – como alguns pretendem crer – mas sim a urgente necessidade de conservar a vida.

Quem se importa com migrantes? Mortos em vida, eles migram para morrer mil vezes mais

Os governos, especialmente dos países mais desenvolvidos, pretendem criminalizar as enormes caravanas de seres humanos deslocados de seu território. Culpam-nos por escapar de guerras que esses mesmos países provocaram, sem outra escusa que o saque de suas riquezas.

Os satanizam por ter a audácia de proteger as suas famílias contra a perversa invasão de seus territórios e a destruição de seu habitat. Esses países desenvolvidos que acumulam privilégios com a mão direita enquanto devastam continentes inteiros com a esquerda, inviabilizaram os povos e tiraram deles a dignidade.

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Os direitos humanos, apesar de todas as convenções, tratados e discursos mediante os quais se pretende proteger uma ideia abstrata e caduca como a de seu respeito irrestrito, são violados e atacados sob um sistema aparentemente legal cujo objetivo é converter o mundo em um território aberto ao saque e à exclusão das grandes maiorias.

Acumulando privilégios com a mão direita e devastando continentes inteiros com a esquerda, países ricos inviabilizam os povos e tiraram deles a dignidade

Foto: Michael Mann
Guarda Costeira dos EUA impede embarcação sobrecarregada de imigrantes de aterrissar em solo estadunidense (15/02/2023)

Por um fio

Nesse planeta, a vida e a sobrevivência estão penduradas por um fio; a cobiça sem fim de grupos de poder – tais como a indústria farmacêutica, as indústrias mineradoras e petroleira, as companhias que se apoderaram da água e dos oceanos – transformou a Humanidade em um recurso ou em um obstáculo, dependendo de seus mesquinhos interesses, tirando-lhe o protagonismo que lhe outorga sua natureza.

Com o maior dos cinismos, pretendem fazer-nos acreditar na legitimidade de seus supostos direitos e que os nossos – como povo que somos – não existem mais. Inoculam-nos vírus para desenvolver vacinas que engrossarão suas já cheias arcas, nos convencem de que migrar é ilegal, nos querem submetidos e calados à força de repressão e, graças a tudo isso, vão definindo um mundo à sua conveniência.

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Os países mais desenvolvidos graças ao nosso patrimônio – África e América – desprezam nossa cultura, nossa cor e nosso direito a viver livres de suas invasões e longe de sua indústria bélica.

Nos condenam por constituir um estorvo para seus planos de exploração e plantam em nossos governos seres corruptos e criminosos, indivíduos dóceis capazes de entregar suas nações em troca de subornos. Para isso, assassinam líderes cuja consciência se oponha às suas intenções.

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Desse modo, temos transitado por uma história carregada de perdas; uma linha de tempo que nos deixou cicatrizes profundas e medos tão acessos que paralisam o espírito e o condicionam. Estes povos, invisíveis para os grandes poderes econômicos e políticos, são a força viva indispensável para endireitar o rumo.

Carolina Vásquez Araya | Colaboradora da Diálogos dos Sul na Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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