Pesquisar
Pesquisar
Yamandú Orsi (Foto: Reprodução / Facebook)

Direitos sociais, política externa ativa, indústria nacional: os eixos do Governo Orsi, no Uruguai

Yamandú Orsi está comprometido a reforçar as relações com o Brasil, recuperar a ordem econômica no Uruguai e fomentar o desenvolvimento a partir do fortalecimento do Estado
Bahía Luna, Pablo Álvarez
Celag
Montevidéu

Tradução:

Ana Corbesier

Em 1° de março, Yamandú Orsi assumiu a presidência do Uruguai. A data coincidiu com o começo das sessões na Assembleia Geral do Uruguai, que iniciou a nova legislatura em 15 de fevereiro passado.

Segundo confirmou o próximo chanceler uruguaio, Mario Lubetkin, a cerimônia de posse contou com a maior participação de presidentes e máximos representantes de Estado na história da democracia uruguaia.

Formação de gabinete

Em uma transição ordenada com o Governo de saída, Orsi apresentou seu Gabinete em 17 de dezembro último. Este representa uma mudança em relação a outros governos da Frente Ampla, já que nenhum de seus membros exerceu o papel de ministro ou ministra em governos anteriores da Frente Ampla (FA). O Gabinete, composto por 16 ministérios, tem 5 mulheres.

No âmbito econômico, a equipe de governo está composta pelo ministro da Economia, Gabriel Oddone. Oddone é economista, doutor em História Econômica e foi o principal assessor de Orsi no tema durante o último período da campanha. Haverá também o Gabinete de Planejamento e Orçamento, um organismo que levará adiante tarefas econômicas.

Por sua vez, o próximo ministro de Relações Exteriores, o jornalista Mario Lubetkin, manifestou ter planejado uma política internacional ativa, centrada principalmente nos vínculos comerciais com o Brasil. Também há perspectivas de entabular diálogos com atores internacionais diversos, como EUA, China e Argentina. Com relação à Venezuela, a posição uruguaia não é taxativa, pois embora não se pretenda romper relações, tampouco parece haver indícios de procurar fomentá-las.

Principais medidas

Entre os eixos de gestão para o próximo período de governo estão recuperar a ordem econômica e cumprir os compromissos sociais urgentes como emprego, saúde, educação, moradia e segurança.

Para o desenvolvimento econômico, uma das principais medidas será a proteção da indústria nacional por meio das compras públicas e da implementação de um “Plano Nacional de Irrigação” que permita dar impulso à produção. Além disso, um eixo fundamental será voltar a situar as empresas do Estado como motor de desenvolvimento.

Campanha de Yamandú “varreu” Uruguai e conquistou votos cruciais no interior do país

Com relação aos compromissos sociais, a Frente Ampla manterá suas promessas de campanha vinculadas ao congelamento dos impostos e ao restabelecimento dos 60 anos como idade para aposentadoria.

Prevê-se ainda um possível incremento de 50% no valor recebido pelos beneficiários do Cartão Uruguai Social (TUS) e do Bônus Criança, instrumentos destinados às famílias com maior vulnerabilidade econômica.

Em termos de segurança, a primeira medida prática da nova administração estará relacionada com reforçar a capacidade operativa da Polícia, em especial nos “segmentos quentes” da zona metropolitana e das principais cidades do interior.

Quanto à educação, a gestão de Orsi enfocará na primeira infância e na saúde; a ideia é levar adiante medidas que garantam uma melhora no sistema nacional integrado de saúde assegurando um maior e mais eficiente acesso a medicamentos.

Yamandú no Uruguai é nova vitória da esquerda contra golpismo na América Latina

Por último, também faz parte da agenda de gestão o desenvolvimento científico e a transição energética. Entre outras medidas, o Governo que entra, de Yamandú Orsi, criará um Ecossistema de Ciência, Tecnologia e Inovação que envolverá as agências governamentais com o objetivo de posicionar o Uruguai como uma referência na matéria em nível regional.

Desafios parlamentares

Nas eleições de outubro, a FA conseguiu maioria no Senado e um resultado muito apertado na Câmara, recinto em que terá a necessidade de negociar pelo menos dois votos para poder levar a cabo seus projetos.

Na agenda parlamentar, há diversos temas, como o voto das e dos uruguaios no exterior (uma promessa histórica do progressismo), a Lei florestal, a regulamentação da renda aos municípios e a legalização da eutanásia.

Outra iniciativa é modificar algumas disposições da Lei de Urgente Consideração (LUC), um pacote de medidas neoliberais ratificadas pelo eleitorado no referendo de 2022 por uma margem mínima. Neste sentido, a Frente Ampla anunciou sua intenção de rever algumas delas, mas ainda não definiu exatamente quais.

Eleições municipais no Uruguai

Neste contexto, o país se prepara para as eleições departamentais obrigatórias, em que serão eleitos novos intendentes (responsáveis por departamentos), prefeitos e vereadores em todo o território nacional, que governarão em nível local pelos próximos cinco anos. 

As eleições acontecerão em 11 de maio de 2025. No total, em nível nacional, serão eleitos 19 intendentes, 589 vereadores, 127 prefeitos e 508 conselheiro.

Assine nossa newsletter e receba este e outros conteúdos direto no seu e-mail.

Nesta instância, a Frente Ampla buscará manter os distritos mais importantes do país que se encontram em sua órbita (Montevideu, Canelones e Salto) e buscará somar os bastiões do Partido Nacional nos quais obteve melhores resultados nas eleições de 2024, como Rio Negro, Paysandu e São José.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Bahía Luna Licenciada em Comunicações (UBA), mestranda em Estudo das organizações do estado, do âmbito privado e do terceiro setor (ONGs) e especialista em comunicação política e redes sociais.
Pablo Álvarez Licenciado em Ciências Políticas (Universidade da República), mestrando em História Econômica (UdelaR), deputado nacional pela Frente Ampla (2005-2010), diretor-geral do Ministério da Educação e Cultura (2010-2015) e coordenador geral do Escritório de Planejamento e Orçamento da Presidência da República (2015-2018).

LEIA tAMBÉM

Cholera Treatment Centres Established in Haitian Capital
Mais de 5 crianças são mortas por semana sob violência de grupos armados no Haiti
Por questão de sobrevivência, Brasil precisa abandonar OEA (2)
Questão de sobrevivência: Brasil precisa abandonar OEA
Destruição de direitos sob Milei entrega bairros argentinos às mãos do narcotráfico
Destruição de direitos sob Milei entrega bairros argentinos às mãos do narcotráfico
Abuso sexual e recrutamento forçado violência rouba infâncias no Haiti
Abuso sexual e recrutamento forçado: violência rouba infâncias no Haiti