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Lula e Xi Jinping, durante encontro em Brasília em novembro de 2023 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Disputa China x EUA: a grande chance do Brasil no cenário mundial

Com a crescente disputa entre as duas potências, o Brasil precisa equilibrar interesses econômicos e diplomáticos para se fortalecer no cenário mundial
Thomas Law
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O Brasil está no centro de uma reconfiguração geopolítica global. Com a China consolidada como seu maior parceiro comercial e os Estados Unidos iniciando um novo ciclo político sob Donald Trump, o país precisa equilibrar interesses estratégicos, econômicos e diplomáticos.

A marca dos 50 anos de relações Brasil-China em 2024 e a reeleição de Trump criam um momento crucial para refletir sobre o papel do Brasil entre essas potências. 

Enquanto os Estados Unidos adotam uma política protecionista que exclui aliados históricos, a China fortalece sua posição como parceiro indispensável para o Brasil e a América Latina. Prova disso é a recente imposição de tarifas sobre produtos americanos, como carvão, gás liquefeito e petróleo, em resposta às sanções comerciais aplicadas por Washington. A China também está restringindo a exportação de minerais críticos essenciais para diversas indústrias, intensificando a disputa comercial e tecnológica com os Estados Unidos.

A relação Brasil-China evoluiu de um intercâmbio comercial para uma parceria estratégica. A China é o principal destino das exportações brasileiras, com o comércio bilateral superando 150 bilhões de dólares em 2024. Produtos como soja, minério de ferro e carne bovina dominam a pauta, mas há uma diversificação crescente, com maior presença de manufaturados e tecnologia.

Investimentos crescentes

Além do comércio, o investimento chinês no Brasil cresceu significativamente. A BYD inaugurou uma fábrica na Bahia com aporte de R$ 3 bilhões, consolidando o Brasil como hub regional de mobilidade sustentável. Empresas chinesas também participam de projetos estratégicos, como o Trem Intercidades em São Paulo e a ampliação da malha de energia renovável. A China se tornou um ator-chave na transição energética brasileira, investindo em parques solares e eólicos.

O laço entre os dois países se fortalece também no campo cultural e educacional. Em 2026, o Ano Cultural Brasil-China celebrará essa relação por meio de intercâmbios acadêmicos e produções cinematográficas. O número de estudantes brasileiros na China cresceu 25% nos últimos cinco anos, refletindo o interesse na cooperação educacional.

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Se a China se consolida como parceiro estratégico, os Estados Unidos seguem como ator fundamental para a economia brasileira. O comércio bilateral com o país da América do Norte movimenta cerca de US$ 80 bilhões ao ano, com forte presença de produtos industrializados e investimentos em tecnologia, energia e serviços financeiros.

Mas é preciso olhar em perspectiva. Em seu primeiro mandato, Trump impôs barreiras comerciais ao aço e ao alumínio brasileiros e pressionou mudanças na política externa. Seu retorno pode reativar tarifas e impactar setores estratégicos, como o agronegócio. Além disso, os Estados Unidos vêm reforçando sua influência na América Latina, exigindo do Brasil maior habilidade diplomática.

Disputa comercial e tecnológica

A crescente disputa comercial e tecnológica entre China e Estados Unidos coloca o Brasil diante de desafios e oportunidades. O avanço chinês em setores como inteligência artificial e computação quântica, aliado à sua capacidade industrial massiva, impulsiona um novo ciclo de competição global. Os Estados Unidos, por sua vez, tentam frear esse crescimento impondo sanções e investigações antitruste contra gigantes tecnológicas chinesas.

O Brasil precisa fortalecer sua autonomia e evitar disputas geopolíticas que não favorecem seus interesses. A diplomacia brasileira pode atuar como mediadora global, fortalecendo o multilateralismo e sua posição internacional.

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A presidência do Brasil no G20 em 2024 e a realização da COP30 em Belém colocam o país no centro dos debates sobre desenvolvimento sustentável. O Brasil também tem papel relevante no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), liderado por Dilma Rousseff (2011-2016), oferecendo alternativas financeiras para o Sul Global.

O Brasil não precisa escolher entre China e Estados Unidos, mas sim consolidar-se como um ator global independente e influente, capaz de transitar entre diferentes blocos e aproveitar oportunidades. Para isso, é essencial investir em inovação, infraestrutura e qualificação profissional, garantindo preparo para os desafios do século 21.

Nos próximos anos, a capacidade do Brasil de equilibrar suas relações internacionais será determinante para seu crescimento e relevância global. O caminho para a prosperidade passa por uma diplomacia ativa, pragmática e centrada nos interesses nacionais.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Thomas Law Advogado, mestre e doutor em Direito pela PUC/SP.

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