Pesquisar
Pesquisar

Documentário com antigo líder do ETA levanta polêmica na Espanha; entenda

Produção estreia em 22 de setembro no Festival de Cinema de San Sebastián
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

O Festival de Cinema de San Sebastián, que acontece de 22 a 30 de setembro, está envolvido numa nova polêmica devido a uma entrevista-documentário filmada pelos jornalistas catalães Jordi Évole e Màrius Sánchez com o antigo líder da organização armada basca ETA José Antonio Urrutikoetxea, conhecido como Josu Ternera.

Nesta peça, intitulada “Não me chame de Ternera”, o militante do ETA reconhece sua participação no assassinato do então prefeito de Galdakao, Víctor Legorburu, em 9 de fevereiro de 1976, e pelo qual nunca foi julgado. A estreia, no primeiro dia do festival, será na cidade onde Urrutikoetxea viveu e se apresentou em inúmeras ocasiões em nome da ETA.

Espanha: Esquerda separatista basca volta a lamentar pelas vítimas do grupo ETA

Atualmente, ele tem 11 acusações do Ministério Público espanhol por homicídio consumado e outras 88 por tentativa de homicídio, mas fugiu da justiça há 17 anos. Ele mora na França há quatro anos, em liberdade condicional, porque sofre de câncer terminal. A Justiça, que pede pena de mais de 2 mil anos de prisão por seus crimes, já pediu sua extradição, mas o processo não foi resolvido.

Ao saber da estreia iminente, um grupo de escritores bascos, políticos e vítimas da ETA, incluindo o filósofo Fernando Savater, o escritor Fernando Arámburu e as vítimas Maite Pagazaurtundua e Marimar Blanco, publicaram uma carta aberta dirigida ao festival para exigir a sua retirada de cartaz.

Continua após o banner

“Este documentário faz parte do processo de branqueamento da ETA e da trágica história terrorista no nosso país, convertido numa história justificada e banalizante que coloca assassinos e cúmplices, vítimas e resistentes no mesmo nível”, afirmaram.

Produção estreia em 22 de setembro no Festival de Cinema de San Sebastián

Foto: Berria/Wikipedia
Josu Urrutikoetxea Bengoetxea, antigo líder da organização armada basca ETA

“ETA não é caiada”

O diretor do festival, José Luis Rebordinos, argumentou em comunicado: “Já vi o filme e é terrível termos de estar o tempo todo assim. Já disse umas 15 vezes em público que para mim o ETA é um bando fascista e assassino. Acho que não poderia ser mais claro. Obviamente, se eu achasse que o filme encobriu o ETA, não o exibiria.”

“Parece-me uma brutal falta de rigor intelectual. É claro que o filme não branqueia a ETA, não é um filme pró-ETA, não apoia a ETA, não tem nada de ilegal. É um filme muito interessante por vários motivos. É um filme que começa com uma vítima e termina com uma vítima, penso que é uma declaração de princípios que a primeira e a última palavra são dadas a uma vítima”, refutou.

Espanha: ex-membros do ETA renunciam a eleições regionais após ataques da ultradireita

Em resposta às exigências, Évole e Sánchez afirmaram numa carta: “Compreendemos o debate que um filme que inclui uma entrevista com um membro histórico da ETA pode gerar, mas surpreendemo-nos que haja uma opinião e até um pedido de que um filme não será exibido no festival, um documentário que não foi visto por ninguém. Estamos convencidos do nosso trabalho e tranquilos. Não é um documentário que encubra ou justifique a ETA.”

Dos poucos detalhes que surgiram até agora do documentário, produzido pela Netflix, sabe-se que a vítima que abre e fecha a obra é um ex-policial municipal de Galdakao, Francisco Ruiz, que foi baleado durante o ataque ao prefeito Legorburu.

Continua após o banner

O conflito no País Basco, nascido durante a ditadura fascista de Francisco Franco (1939-1975), tem sido objeto de numerosos filmes e documentários ao longo da história recente, que suscitaram polêmica, como ocorreu com a obra de Julio Medem, “La pelota basca”, sofreu tentativa de censura pelo então governo espanhol do direitista José María Aznar.

Nos últimos anos, o Festival de San Sebastián iniciou as suas edições com polêmica, como quando entregou o prêmio Donostia ao ator Johnny Depp no momento em que surgiu o escândalo das denúncias de agressões à sua ex-esposa, a atriz Amber Heard.

Armando G. Tejeda | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

LEIA tAMBÉM

Comuna de Paris, a Utopia
Comuna de Paris, a utopia
Com Trump, EUA vão retomar política de pressão máxima contra Cuba, diz analista político
Com Trump, EUA vão retomar política de "pressão máxima" contra Cuba, diz analista político
50 anos da Cadernos do Terceiro Mundo uma nova ordem informativa em prol do Sul Global
50 anos da Cadernos do Terceiro Mundo: uma nova ordem informativa em prol do Sul Global
album-referente-aos-festejos-nacionais-do-5o-aniversario-da-proclamacao-da-d4c858
Golpe e proclamação da República: a consolidação do liberalismo econômico no Brasil