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Mais de 50 países já proibiram os sabores em produtos de tabaco, e mais de 40 proibiram a venda de cigarros eletrônicos (Foto: Rainier Ridao / Unsplash)

“É manipulação”: por que OMS pede fim dos aromas e sabores em cigarros eletrônicos

Segundo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, “os sabores estão alimentando uma nova onda de dependência; prejudicam décadas de avanços no controle do tabaco e devem ser proibidos”

Redação IPS
IPS
Genebra

Tradução:

Ana Corbisier

Os sabores em produtos de tabaco e nicotina estão prendendo uma nova geração ao vício, advertiu no fim de maio a Organização Mundial da Saúde (OMS), apelando a todos os governos para que os proíbam imediatamente.

“Estamos vendo como uma geração inteira se vicia em nicotina por meio de bolsinhas com sabor de bala e cigarros eletrônicos coloridos”, denunciou o médico Rüdiger Krech, diretor de Promoção da Saúde da OMS. “Isso não é inovação, é manipulação. E devemos pôr um freio nisso”, acrescentou.

Às vésperas do Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado todo 31 de maio, a agência sanitária das Nações Unidas alertou que está crescendo entre os jovens a popularidade de sabores como hortelã, chiclete ou algodão doce em cigarros, vaporizadores, bolsinhas de nicotina, narguilés e outros produtos similares.

Os aromas e sabores que atraem os consumidores mascaram a toxicidade desses produtos, apontou a OMS, pois suavizam o impacto do tabaco e da nicotina, tornando-os mais agradáveis ao paladar, dificultam o abandono do consumo e estão relacionados a doenças pulmonares graves.

Apesar de os cigarros ainda serem responsáveis pela morte de até metade de seus usuários, continuam sendo comercializados em versões com sabores ou com acessórios que permitem adicioná-los.

“Os sabores estão alimentando uma nova onda de dependência. Prejudicam décadas de avanços no controle do tabaco e devem ser proibidos”, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

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A OMS registrou a existência de 120 sabores únicos, a maioria frutados, doces, alcoólicos ou mentolados. Classificou outros oito como “sabores diversos”, por não se enquadrarem em nenhuma das 13 categorias principais, incluindo sabores vegetais como chicória, erva-doce e alguns cogumelos.

A publicação detalha que a disponibilidade de sabores nos acessórios varia de país para país.

Sabores de mentol-hortelã e frutas foram registrados em todos os países, enquanto sabores de frutas secas ou sobremesas apareceram apenas no Brasil, nos Estados Unidos e nos Países Baixos; já os sabores de tabaco foram documentados nesses três países e também na Índia.

“Se não agirmos com firmeza, a epidemia global do tabagismo, que já mata cerca de oito milhões de pessoas por ano, continuará sendo impulsionada por um vício disfarçado de sabores atraentes”, afirmou Tedros.

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A OMS mostra como as indústrias do tabaco e da nicotina desenvolveram mecanismos como filtros com cápsulas e gotas de sabor para driblar regulamentações existentes e atrair novos usuários, principalmente jovens.

Mais de 50 países já proibiram os sabores em produtos de tabaco, e mais de 40 proibiram a venda de cigarros eletrônicos, sendo que cinco deles proibiram especificamente os dispositivos descartáveis. Sete países vetaram os sabores.

Apesar desses avanços, os acessórios com sabor seguem em grande parte sem regulamentação.

Rüdiger Krech: “Chegou a hora de agir. Os aromatizantes e os fabricantes que os utilizam não têm lugar em um futuro saudável” (Foto: Rainier Ridao / Unsplash)

Nesse sentido, a OMS detalhou que muitos sites que vendem esses produtos online são especialmente atraentes para os jovens, devido ao uso de cores e imagens, design profissional e sofisticado, links para redes sociais e ampla variedade de sabores e produtos disponíveis.

Ainda segundo a entidade, 54% desses sites não exigem qualquer tipo de verificação de idade.

Krech destacou que o sabor é uma das principais razões pelas quais os jovens experimentam esses produtos.

Combinados com embalagens chamativas e campanhas em redes sociais, os sabores transformaram as bolsinhas de nicotina, os produtos de tabaco aquecido e os vaporizadores descartáveis em opções atraentes, mas altamente viciantes”, afirmou.

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Atualmente, países como Bélgica, Dinamarca e Lituânia estão tomando medidas para eliminar esses produtos, um exemplo que a OMS exortou os demais a seguir.

A organização reiterou que todos os produtos de tabaco, inclusive os aquecidos, expõem os usuários a substâncias químicas cancerígenas e devem ser objeto de regulamentação rigorosa.

“Chegou a hora de agir. Os aromatizantes e os fabricantes que os utilizam não têm lugar em um futuro saudável”, concluiu Krech.

IPS, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação IPS

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