Pesquisar
Pesquisar

A distopia afro-americana

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

 

Quase 50 milhões na pobreza nos EUA
Quase 50 milhões na pobreza nos EUA. Germán Gorraiz López*

Segundo um artigo da publicação canadense Global Research, 47,8 milhões de estadunidenses vivem abaixo da linha da pobreza e deveriam utilizar os cupões de alimentação (SNAP na sigla em inglês), para satisfazer suas necessidades alimentares, o que significa um aumento de 70% desde 2008, devido à elevada taxa de desemprego e pobreza.

Segundo aquela publicação, desde o início da recessão, em 2008, 28,2 milhões de pessoas inscreveram-se no SNAP e cerca de 10 milhões de crianças estariam vivendo na extrema pobreza. Por outra parte, a redução no orçamento de 2013, de cerca de 85 bilhões de dólares, obrigou o Programa Especial de Nutrição Suplementar para Mulheres, Jovens e Crianças (WIC) a eliminar benefícios de quase 600.000 mães, lactantes e crianças, ainda segundo a publicação canadense.

Além disso, segundo elpais.com, a taxa de desemprego dos Estados Unidos manteve-se em 7,6% no mês de junho, o que significa cerca de 11,8 milhões de desempregados (a população somada de Nova York e de Los Ángeles), aos quais seria preciso somar os 7,9 milhões que trabalham em tempo parcial, devido às condições de suas empresas ou por motivos econômicos (comparável ao total de habitantes de Chicago, Filadélfia, Houston e Phoenix) e os 2,2 milhões que não procuram emprego (como Dallas e São Francisco).

Detroit, a distopia afro-americana: Segundo a agência Reuters, Detroit se declarou em falência nesta quinta-feira, concretizando a maior quebra municipal na história dos Estados Unidos e aguçando a crise financeira de uma cidade imersa em uma espiral de dívida a longo prazo calculada em 20 bilhões de dólares depois da negativa do Governo Federal de socorrê-la e por trás da qual estaria a corrupção generalizada das autoridades municipais e a brutal redução de população.

Detroit seria paradigma do maior êxodo em massa de população sofrido por uma cidade moderna durante os últimos 70 anos, êxodo motivado pela soma de razões econômicas (os altos impostos por viver na área metropolitana reduziam-se drasticamente na periferia) e raciais.

Em consequência, Detroit teria passado de 1,8 milhões de habitantes na área metropolitana, em 1960, (90% dos quais de raça branca) a 700.000 em 2012 (84% de raça afro-americana), movimento migratório centrífugo conhecido coloquialmente como “white fligt” (voo branco) já que a maioria da população que emigrava para a periferia era de raça branca e de classe média e alta, ficando a população de cor confinada a leste da cidade, em uma zona ironicamente denominada “Paradise Valley” (Vale Paraíso).

Estaríamos pois diante de um cenário distópico, onde 36% da população estaria vivendo abaixo da linha da pobreza e com a taxa de delinquência mais alta de todos os Estados Unidos, agravado pela dilacerante falta de investimentos nos serviços públicos e a existência de mais de 40.000 mansões e casas abandonados, vazios que deverão ser demolidos pela Prefeitura.

Além disso, a suspensão de pagamentos obrigará a cidade a cortar ainda mais os programas de assistência social, subir os impostos e privatizar a maioria dos serviços públicos, provocando uma situação altamente explosiva que poderá fazer com que na área metropolitana de Detroit explodam violentos distúrbios de rua onde mesclar-se-ão as demandas sociais e as de segregação racial, não sendo descartável o efeito mimético nas demais cidades com alta taxa de população afro-americana (New Orleans, Washington, St-Louis, Los Ángeles, Nova York, Atlanta, Cleveland e Chicago) e a reedição dos violentos distúrbios raciais do verão de 1963.

A vigência das ideias de Jeremiah Wright: O reverendo Wright, em um sermão pronunciado em 2001 na paróquia da United Church of Christ de Chicago expressou a necessidade de uma metanoia coletiva da sociedade estadunidense “que transforme as guerras militares imperiais em guerras políticas internas contra o racismo e as injustiças de classe”, para o que propôs uma redistribuição fundamental da riqueza por meio da reorganização do orçamento público. Citando o “presente da Administração de George W. Bush, de 1.300 bilhões de dólares em isenções de impostos para os ricos”, replicou com uma proposta de financiamento público da assistência médica universal e de reconstrução do sistema educacional para colocá-lo a serviço dos pobres.

Segundo um resumo publicado por The Wall Street Journal, em uma conferência pronunciada na Universidade Howard (Washington) em 2006 afirmou: “Este país foi fundado e está sendo dirigido segundo um princípio racista (…) Acreditamos na superioridade branca e na inferioridade negra (…) mais do que no próprio Deus”. Obama, filho espiritual do Reverendo Wright e devedor do título de seu livro “A Audácia da Esperança”, viu-se forçado a renegar sua paternidade ideológica e não teve dúvidas em deixar a influência de seu mentor religioso diante dos ataques recebidos quando ainda era senador; mas em seu livro “Os Sonhos de meu Pai” , fala sobre a atitude vital da população afro-americana, marcada pelo estigma generacional de “uma segregação racial que caracterizou o processo histórico norteamericano” segundo suas palavras – ferida não cicatrizada que possivelmente voltará a se abrir e a explodir em seu segundo mandato.

Assim, depois da morte do adolescente afro-americano Trayvon Martin pelo vigia George Zimmerman, o professor de Estudos Culturais e Negros na Universidad Duke, Mark Anthony Neal, afirmou: A primeira coisa que aprendemos é que não superamos o assunto da raça. Nas eleições de 2008 havia a esperança de que ter eleito Obama nos permitiria transcender as questões de raça”. Por sua parte, Arthur Jackson, pastor da igreja a que ia sua mãe, com a esperança posta nas autoridades federais, conclamou os fiéis a manterem a paz depois do veredicto no julgamento contra George Zimmerman, que foi considerado não culpado da acusação de homicídio.

Segundo a agência AP, o secretário de Justiça Eric Holder considerou a morte de Trayvon “trágica e desnecessária” e assegurou que o departamento a seu cargo seguirá “os fatos e a lei ao rever as evidências para determinar se é necessário apresentar acusações penais federais” em um discurso na convenção nacional da Delta Sigma Theta, a maior fraternidade afro-americana existente no país. Recorda-se que a revisão do caso por parte do Departamento de Justiça possibilitaria esclarecer, a partir da análise das evidências do caso, se cabe apresentar acusações por violação dos direitos civis. Mas, supondo-se que o resultado de sua atuação não seja satisfatório para os defensores dos Direitos Civis, assistiremos ao agigantamento midiático do líder pacifista negro, o reverendo Jesse Jackson e à reedição da grande marcha sobre Washington (Martin Luther King, 1963).

*A distopia é o mesmo que antiutopia, ou seja, a sociedade que não se encontra a si mesma. Divulgado por SURySUR

 

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Revista Diálogos do Sul

LEIA tAMBÉM

Desigualdade_FMI_Banco-Mundial
Em Washington, Brasil adverte: FMI e BM seguem privilegiando EUA e outros países poderosos
EUA_taxar_mais_ricos_Biden
Biden não cumpre promessa de taxar mais ricos e EUA perdem US$ 690 bi em 3 anos
Margaret Thatcher - neoliberalismo
Afinal, o que é neoliberalismo?
Bilderberg
Bilderberg: o clube secreto de magnatas que gerencia a desordem mundial