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Bolsonaro avança na precarização do trabalho. Resultado só poderá ser mais desemprego

O que foi conquistado com greve e muito suor e sangue tem que ser defendido com greve. Não com pequenas manifestações de protesto que não resolvem
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Conquistas alcançadas com muita luta, em muitos anos de sacrifício e enfrentamento com as forças repressivas estão sendo anuladas com uma canetada por Jair Bolsonaro, sob o falso pretexto de que a desregulamentação é necessária para gerar emprego.

Pelo amor aos deuses de todas as religiões. Não sejam tão cínicos. Para gerar emprego, precisamos mover a economia, colocar o investimento na produção. Tirar dos ricos, não dos pobres. Deixar os pobres cada vez mais pobres é o mesmo que dar um tiro no pé. A economia não vai deslanchar.

Os trabalhadores industriais lutaram quase um século para conseguir oito horas de trabalho e outro meio século para conseguir descanso remunerado aos domingos. Os bancários lutaram dez anos e conseguiram seis horas de trabalho. Os jornalistas lutaram a vida inteira para regulamentar a profissão com a exigência de formação universitária em cursos de comunicação e jornalismo.

Todas essas conquistas estão sendo atiradas no lixo com a reforma trabalhista imposta pelo neoliberalismo. É um retrocesso à idade média, quando os patrões se julgavam donos das pessoas e exploravam sem dó nem piedade, até o esgotamento físico e psíquico.

O que foi conquistado com greve e muito suor e sangue tem que ser defendido com greve. Não com pequenas manifestações de protesto que não resolvem

Carta Capital – Marcelo Manzano
Governo Bolsonaro quer aprofundar a uberização do trabalho

O Sindicato dos Bancários é dos mais antigos e dos mais fortes. Foram necessárias muitas greves para conquistar as seis horas. E agora? 

Todas as categorias estão sendo prejudicadas. Descanso remunerado aos domingos e também aos sábados acaba de ser ser anulado. A exigência de diploma para jornalista e o limite de cinco ou sete horas de trabalho acabam de ser anulados.

Das 14 centrais sindicais existente no país, oito, as mais aguerridas, estão convocando para uma concentração de protesto contra a reforma trabalhista. E daí? Protesta,  leva paulada e nada acontece. As maldades só se incrementam, pois a correlação de forças é desfavorável.

A correlação de forças se inverterá quando formos muitos. É o que está sendo demonstrado no Chile, na Bolívia… A população inteira nas ruas. O trabalhador tem a arma que o torna invencível. Basta parar a produção. A greve é a mais poderosa arma da classe trabalhadora.

O que foi conquistado com greve e muito suor e sangue tem que ser defendido com greve. Não com pequenas manifestações de protesto que não resolvem. Os trabalhadores têm que assumir um papel protagônico, estar na ofensiva e não na defensiva. É ilusão pensar que somos fracos. Os trabalhadores reorganizaram o movimento sindical em plena ditadura. Fizeram greves, inclusive greves de fome, que ficaram na história e contribuíram para o fim da ditadura.

Ilustração: Aroeira 2019

Veja até onde vai à mesquinharia e a maldade dessa gente. Acabaram com o DPVAT, o seguro obrigatório que os veículos automotores pagavam e assegurava o atendimento médico a uma pessoa atropelada, por exemplo. Todos os dias dezenas de motoqueiros são acidentados e utilizam esse seguro para sobreviver. Pois bem, suprimem o seguro para castigar um desafeto, Luciano Bivar, que tem participação na seguradora que administra o seguro. Bivar é o presidente do PSL e está se confrontando com o clã Bolsonaro, que quer se apropriar do partido.

O superministro da economia, Paulo Guedes, anunciou que também quer o fim do vale-transporte e do vale-refeição.

Além disso, a Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado aprovou, na última terça-feira (12), o projeto de entrega da Base de Alcântara aos Estados Unidos. Lembrem que esse acordo com os EUA tinha sido rejeitado. Em 2000, quando Fernando Henrique Cardoso quis entregar a base, o Congresso Nacional vetou por violar a Soberania Nacional. É exatamente isso. E agora a CRE aprova, inclusive, com a cláusula de salvaguarda que favorece única e exclusivamente os Estados Unidos.

O governo de ocupação não para! Advertimos que de não reagir eles destruiriam o país. Para destruí-lo, precisam neutralizar os trabalhadores, mantê-los quietos, dóceis.

Como parar tanta insanidade? Só o povo nas ruas pode recuperar a soberania nacional.

*Paulo Cannabrava Filho é editor da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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