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Guerra comercial beneficia somente elite dos EUA e não agrada economistas

Segundo uma pesquisa recente feita no país, a maioria dos norte-americanos só vê benefícios para os mais ricos
Diony Sanabia
Prensa Latina
Washington

Tradução:

Os Estados Unidos se despediram de 2019 com uma trégua em sua guerra comercial contra a China, que se encaminha para os dois anos de duração em meio de constantes preocupações no nível mundial. 

Em 13 de dezembro, o presidente norte-americano, Donald Trump, principal promotor do conflito, confirmou que seu país chegou a um acordo comercial de fase um com o gigante asiático e comunicou a suspensão de taxas alfandegárias a produtos chineses para dois dias depois.

Acordaram muitas mudanças estruturais e compras em massa de produtos agrícolas, manufaturados e energia, e muito mais, escreveu o chefe da Casa Branca em sua conta pessoal do Twitter.

Trump, cuja criticada política alfandegária aprofundou o problema iniciado em março de 2018, indicou que alguns dos gravames aplicados a importações chinesas avaliadas em 250 bilhões de dólares por ano, se manterão no nível atual de 25%, enquanto outros serão reduzidos. 

A notícia sobre a fase inicial do limitado pacto levou entusiasmo a círculos de negócios, acalmou momentaneamente investidores internacionais e favoreceu o mercado da bolsa.

No entanto, especialistas no assunto e meios de comunicação coincidiram em assinalar que ainda falta um significativo caminho a percorrer para o fim da disputa, na qual influi muito a política, embora sua essência seja econômica. 

“Começaremos as negociações sobre o acordo da fase dois de imediato, em lugar de esperar até depois das eleições presidenciais de 2020 (em 3 de novembro). Este é um pacto incrível para todos”, agregou Trump no Twitter. 

Fontes jornalísticas apontaram que o texto condensado da etapa inicial inclui nove capítulos relacionados com propriedade intelectual, alimentos e produtos agrícolas, impulso do comercio, finanças, moeda e transparência, transferência forçada de tecnologia, avaliação bilateral e resolução de disputas.

Apesar de sua insistência na importância das taxas, economistas e empresários advertiram Trump que as tarifas, na realidade, estão prejudicando as companhias e consumidores norte-americanos. 

No entender da China, a firma da primeira fase do acordo comercial com os Estados Unidos é a via adequada para manejar, controlar e resolver as diferenças, ampliar a cooperação e estabilizar o desenvolvimento das relações.

Pequim expôs em um comunicado oficial à raiz do referido pacto que ambas as potências, ao ser as principais economias do mundo, devem analisar seus vínculos com um espectro amplo e seguir em busca de um convênio final que serva aos interesses fundamentais de seus povos e do mundo.

Tratado comercial EUA-México-Canadá

Também no final do ano, em 10 de dezembro, Estados Unidos, Canadá e México firmaram o protocolo de emendas ao seu tratado comercial subscrito na Argentina em 30 de novembro de 2018. 

O passo na capital mexicana, após prolongadas negociações, deu luz verde a mudanças na iniciativa original surgida sob a pressão de Trump de criar um mecanismo para substituir o Tratado de Livre Comercio da América do Norte, de 25 anos atrás. Aquela proposta inicial só foi ratificada pela nação latino-americana, e seu Senado fez em 18 de junho, o que repetiu em 12 de dezembro com a última variante.

Segundo os três países, a firma do novo tratado tem uma grande importância pois regula as relações comerciais em benefício de todos. 

Prévio à referida rubrica no México, os democratas da Câmara de Representantes e a Casa Branca anunciaram haver chegado a um entendimento acerca do convênio, depois de resolvidas algumas preocupações expressadas pelos democratas em torno ao acordo original. 

A conciliação entre o Executivo e os democratas ocorreu quando foram efetuadas mudanças como as relacionadas com as proteções ambientais e trabalhistas, e as disposições de aplicação do tratado. 

As referidas modificações foram bem acolhidas pela AFL-CIO, a maior federação de sindicatos dos Estados Unidos, mas não agradaram a alguns legisladores republicanos e a grupos empresariais que preferiam a questionada primeira versão da iniciativa.

Taxas de juros, PIB, inflação e desemprego

Aparte de ressaltar os acordos comerciais, Trump presume que os Estados Unidos têm “a melhor economia de todas” e esse critério é parte inseparável de seu discurso com fins eleitorais, embora, segundo uma pesquisa recente, a maioria dos norte-americanos só vê benefícios para os mais ricos.

Realizado pelo Centro de Pesquisas Pew, a referida sondagem encontrou que 69% dos estadunidenses consideram que a economia está ajudando os ricos, enquanto mais de 60% estimam que prejudica os pobres e a quem não tem título universitário. 

De igual modo, 58% dos entrevistados avalia que a economia está prejudicando as pessoas da classe média, enquanto 32% acreditam que ajuda a esse grupo. 

Nesse estudo, as respostas foram muito diferentes segundo os grupos de renda: quase três quartos das famílias de altas entradas sustentam que as condições econômicas atuais são “excelentes ou boas”, mas a maioria das pessoas de baixa renda afirma que é “medíocre ou pobre”. 

A Reserva Federal (Fed) manteve em 11 de dezembro as taxas de juros sem mudanças, no nível de 1,5 a 1,75%, depois de três rebaixas seguidas de um quarto de ponto porcentual. 

Esta decisão, informado ao final da oitava e última reunião do Banco Central em 2019 sobre política monetária, foi tomada de maneira unânime, algo que não ocorria desde maior último. 

De acordo com um comunicado do Comitê de Marcado Aberto dessa entidade, a atual política monetária é apropriada para respaldar a expansão sustentada da atividade econômica, as fortes condições do mercado de trabalho e a inflação perto do objetivo de 2%. 

Tal fonte assinalou que a economia norte-americana continua crescendo de maneira moderada com o impulso de um forte auge do gasto dos consumidores, mas apontou que o investimento empresarial e as exportações mostram debilidade. 

Por outro lado, Fed divulgou suas previsões para os três anos seguintes, nos quais espera taxas de 1,6, 1,9 e 2,1% e 2020, 2021 e 2022, respectivamente.

O índice de desemprego fechará este ano em 3,6% e o seguinte com um décima menos em relação a cifra anterior, levando em conta as estimativas. 

Enquanto isso, o crescimento econômico de 2019 está projetado em 2% e o correspondente a 2020 em 1,9%; No fechamento do presente anos, agregaram os prognósticos, a inflação rondará 1,5% e 12 meses depois subirá quatro décimas. 

“Para subir as taxas, quero ver uma inflação que seja persistente e significativa”, manifestou a titular da Fed, Jerome Powell, em uma entrevista coletiva após a mencionada reunião do organismo que dirige. 

Com nossas decisões do último ano, cremos que a política monetária está bem situada para servis os estadunidenses, recalcou Powell, que tem recebido inúmeras críticas de Trump. 

Enquanto os dados macroeconômicos não se desviem demasiado dos prognósticos, a Fed não fará nenhuma mudança, nem para a alta, nem para a baixa, agregou. 

Reiteradas vezes, Trump apelou pela diminuição das taxas, ao ponto de 0% ou menos, com a justificativa de favorecer o desenvolvimento da economia. 

Como parte dos reclamos do mandatário, não faltaram seus questionamentos à Fed, e chegou a dizer que a entidade não sabe o que faz e seus diretores são tontos. 

*Do grupo de correspondentes de Prensa Latina nos Estados Unidos, especial para Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Diony Sanabia

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