Pesquisar
Pesquisar

De 17 a 270 reais: Na corrida contra a Covid-19, quem dita o valor das vacinas é o mercado

Muitas empresas se comprometem a comercializar a imunização sem lucro durante a pandemia. Ainda assim, os preços variam muito entre as farmacêuticas
Mariane Barbosa
Diálogos do Sul
Franco da Rocha

Tradução:

Na corrida contra a cura, empresas de todo o mundo estão buscando formas eficazes e seguras de combater com perfeição o novo coronavírus por meio de uma vacina. Mas, a pergunta da vez é: quanto isso vai custar?

A empresa de biotecnologia estadunidense Moderna, por exemplo, tem o preço mais alto do mercado, a dose de sua vacina contra a Covid-19 irá custar de 32 a 37 dólares (o equivalente a 177 a 205 reais), mas analistas estão incorporando um valor de US$ 20 em seus modelos financeiros.

Na Europa, a Sanofi fechou um acordo semelhante por cerca de US$ 12. O contrato da AstraZeneca, com a União Europeia foi de apenas US$ 3 (aproximadamente 17 reais). Sentiu a diferença? 

Muitas empresas, como a Johnson & Johnson e a Astrazeneca (que produz a vacina em parceria com a Universidade de Oxford) se comprometeram a comercializar a vacina sem lucro durante a pandemia.

Muitas empresas se comprometem a comercializar a imunização sem lucro durante a pandemia. Ainda assim, os preços variam muito entre as farmacêuticas

Pixabay
Muitas empresas, como a Johnson & Johnson e a Astrazeneca se comprometeram a comercializar a imunização sem lucro durante a pandemia.

Por que tanta variação?

De acordo com o Jornal O Globo, os preços das vacinas contra a Covid-19 podem ser acessíveis caso todos os tratamentos em testes clínicos se revelem eficazes. O valor então não seria determinado pela solidariedade repentina dos grandes laboratórios e sim pelo aumento da oferta.

Atualmente, 11 candidatas estão na fase três de estudos clínicos, que avalia a eficácia e a segurança do produto em milhares de pessoas. Farmacêuticas como Moderna, Pfizer, BioNTech, Johnson & Johnson, Novavax e AstraZeneca estão prometendo a fabricar bilhões de doses. A GlaxoSmithKline (GSK), Merck (MRK) e Sanofi também estão desenvolvendo a vacina, todas empresas com muita capacidade de produção.

Na mira dos brasileiros

Outras duas vacinas também estão na mira dos brasileiros: a Sputinik V, do Instituto Gamaleya de Moscou (Rússia) e a CoronaVac, da Sinovac, que está sendo produzida em parceria entre o governo de São Paulo e a China.

Os russos vão fornecer pelo menos 100 mil pacotes da vacina ao Brasil até o fim deste ano. Quanto ao preço, o CEO do Fundo Soberano da Federação Russa, Kirill Dmitriev, disse que, “no fim das contas, as vacinas vão ter o mesmo preço, pois os produtores já disseram que não querem ganhar dinheiro com isso, somente recuperar os custos”. 

Com previsão de 46 milhões de doses até dezembro, a CoronaVac, parceria inédita entre Instituto Butantan e farmacêutica Sinovac Life Science, do grupo Sinovac Biotech, ainda não tem preço estipulado.

Pressa é inimiga da perfeição

Para alguns especialistas, a pressa pode ser inimiga da perfeição. De acordo com o biólogo Miguel Garay-Malpartida, professor da Universidade de São Paulo (USP), a etapa final do desenvolvimento das vacinas é um momento crucial no processo, quando a aplicação em milhares de voluntários, e o seu acompanhamento vai averiguar a eficácia do produto.

“É chave para declarar que uma vacina está pronta. É quando se avaliam a segurança biológica e os níveis de toxicidade, se ela previne a infecção, num conjunto maior de pessoas. Especificamente, observa-se se há ocorrência de fenômenos como de indução de doença respiratória aguda, se ocorre a amplificação de infecções”, explica. 

Outro ponto para ser pensado é a questão da logística, que envolve condições de fabricação, armazenamento e distribuição. Segundo o presidente da farmacêutica Merck, Kenneth Carleton Frazier, “estamos vivendo em um tempo de ultranacionalismo em que os países querem pegar o que está disponível e dizer: ‘Vou usá-lo primeiro na minha própria população’, em vez de usá-lo primeiro nas populações globais que estão em maior risco”, disse o executivo em entrevista ao portal de notícias da Universidade de Harvard.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de mortes causadas pelo novo coronavírus pode dobrar para dois milhões antes que uma vacina bem-sucedida seja amplamente distribuída, e pode ser ainda maior sem uma ação conjunta para conter a pandemia. 

A afirmação foi feita pelo chefe do Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, no momento em que o número total de mortes, nove meses depois que o vírus foi descoberto na China, se aproxima da terrível marca de um milhão. “Ainda não estamos fora de perigo em lugar nenhum”, acrescentou.

Veja também


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Mariane Barbosa

LEIA tAMBÉM

EUA_taxar_mais_ricos_Biden
Biden não cumpre promessa de taxar mais ricos e EUA perdem US$ 690 bi em 3 anos
Margaret Thatcher - neoliberalismo
Afinal, o que é neoliberalismo?
Bilderberg
Bilderberg: o clube secreto de magnatas que gerencia a desordem mundial
e834dd84-76aa-4123-a44b-a94ee6a03ac5
Ladislau Dowbor | Estamos à deriva em meio à catástrofe global