Uma revista séria não pode, em nenhum momento, se ver envolta em dúvidas quanto à veracidade de uma informação e se calar. Por isso, venho a público agradecer às leitoras e aos leitores da Revista Diálogos do Sul Global que alertaram para as inconsistências no texto que atribuía a um diplomata brasileiro ações para derrubar o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela.
Em momentos como este, não adiantaria buscar culpados para uma responsabilidade que é minha. Coube a mim checar as informações trazidas pelo autor do texto questionado e, ao confrontar as alegações com fontes venezuelanas de alto escalão, todas desacreditaram o conteúdo publicado.
Não se tratava de um texto da Redação nem de um colaborador frequente, mas de uma nova possível parceria. E ainda que haja um histórico de diplomatas brasileiros cometendo ingerências na Venezuela durante o governo Bolsonaro, neste caso específico, não havia elementos suficientes que sustentassem as alegações feitas sobre embaixador Rafael de Mello Vidal.
Diante da incerteza e da necessidade de apuração rigorosa, optamos por retirar imediatamente o texto do ar e o despublicamos também nas redes sociais, com o intuito de conter o dano ainda antes de termos a certeza do equívoco. Erramos não por inventar — mas por confiar demais em quem talvez tenha inventado. Erramos por tomar como fato aquilo que ainda era suspeita. Por ceder espaço a um conteúdo que sequer deu ao diplomata o direito de negar as alegações.
No nosso espaço foi dito que um diplomata brasileiro organizava o envio de mercenários à Venezuela, que era arquiteto de uma conspiração internacional. Mas não foram ditas: as outras versões, a ausência de provas materiais, o contraditório. Faltou o essencial.
Sabemos que isso não é suficiente. Por isso, este pedido de desculpas públicas será publicado com o mesmo destaque que teve a matéria original, embora ela tenha ficado poucas horas no ar. Reafirmo também o compromisso da Diálogos do Sul Global com a veracidade das informações e agradeço profundamente a quem mantém a confiança em nosso trabalho e em nosso compromisso com um jornalismo engajado, sim — mas sensacionalista ou panfletário, jamais!
Não nos guia a censura, mas a consciência. Publicamos a matéria porque acreditamos no dever de informar. E agora, com a mesma honestidade, publicamos esta retificação. Porque quem não é capaz de reconhecer um erro não merece a confiança de quem o lê. E quem não teme dizer que falhou pode continuar descrevendo e entendendo o mundo — sem trair sua própria dignidade.
Por fim, nos colocamos também à disposição do diplomata Rafael de Mello Vidal, caso deseje se pronunciar por meio de nossa publicação.
O autor da matéria foi informado da retirada do texto e convidado a apresentar sua versão sobre os fatos, que poderá ser publicada como parte do processo de responsabilização ética que prezamos.
Seguiremos atentos, não para nos blindar do erro — mas para continuar merecendo a confiança de quem lê, compartilha e constrói conosco um jornalismo que não se ajoelha diante do poder, mas se dobra diante dos fatos.