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Eduardo tem vergonha dos brasileiros. E nós o que sentimos do clã Bolsonaro?

Nossos migrantes, mesmo aqueles em situação irregular, não têm nada do que se envergonhar, ao contrário de alguns, não foram aos EUA para vender o Brasil
Marcelo Zero
Brasília (DF)

Tradução:

Para agradar Trump e sua paranoica política anti-imigração, Eduardo Bolsonaro afirmou que sente vergonha dos trabalhadores brasileiros que vivem em situação irregular nos EUA. Equiparou-os a criminosos. 

Mas a vergonha é o governo do capitão. 

Afinal, trata-se de um governo que não defende os interesses do Brasil e dos brasileiros, mas sim os interesses dos EUA e dos norte-americanos. 

Pudera. O deputado do baixo clero e sua legião de descerebrados foram eleitos graças, em boa parte, aos EUA, que, usando artifícios de guerra híbrida, inclusive na força tarefa da Lava Jato, conseguiram arruinar a democracia brasileira e suas instituições. 

O resultado é que, agora, o Brasil está entregue a forças nitidamente fascistoides, que envergonham o país ante o mundo. 

Vergonha maior, contudo, é a ignorância e o despreparo exibidos, desavergonhadamente, pelos membros da armada Bolso Leone. 

Tomemos o exemplo de Eduardo Bolsonaro e os migrantes brasileiros. 

A maioria dos homens de negócios do EUA não tem a menor vergonha dos visitantes brasileiros. Ao contrário, nos adoram.

Apenas em 2014, 2,26 milhões de turistas brasileiros visitaram os EUA. Em 2018, mesmo com toda crise, 1,65 milhão de brasileiros foram gastar seu precioso dinheiro nos EUA. 

Por lá deixaram, apenas em 2016, US$ 11,6 bilhões, ou R$ 44,3 bilhões, a preços correntes. Isso mesmo, R$ 44,3 bilhões em apenas um ano!

O gasto médio de cada turista brasileiro que vai aos EUA é de inacreditáveis US$ 5.097, 00. Gastamos mais lá que turistas canadenses, britânicos, franceses, japoneses, etc. Só perdemos, por muito pouco, para turistas chineses e indianos. 

Somos esteio da economia de alguns estados norte-americanos, como a Flórida. Brasileiros têm investido naquele território cerca de US$ 24 bilhões. 

Por isso, Obama, sem nenhuma vergonha, ordenou a rápida expedição de vistos para brasileiros, em 2012. 

Mas não são apenas os turistas e os investidores privados. O Brasil é o 4º maior credor internacional dos EUA. Com nosso dinheiro, ajudamos a financiar o gigantesco déficit fiscal que os EUA acumulam sem nenhuma vergonha.

Assim, brasileiros contribuem bastante para a economia americana e para gerar empregos para americanos. 

Mesmo os brasileiros que estão lá em situação irregular contribuem muito para a economia dos EUA. Trabalham muito duro, em jornadas extensas, sem nenhuma garantia trabalhista e previdenciária, desempenhando tarefas que os trabalhadores norte-americanos têm vergonha de fazer, como limpar as privadas que o clã usará na sua visita. 

Não há nada de vergonhoso no sujeito que trabalha duro para sustentar sua família. Vergonhoso é ver autoridades brasileiras, que provavelmente nunca trabalharam duro na vida, se recusar a defender seus cidadãos e seu país e bater continência para a bandeira dos EUA. 

Vergonhoso é o Acordo de Alcântara, que criará uma base dos EUA em território nacional.

Vergonhoso é liberar, sem reciprocidade, vistos para turistas norte-americanos, enquanto nossos turistas sofrem verdadeira via crucis para conseguir gastar seu dinheiro nos EUA.

Vergonhosa é a venda da Embraer para a Boeing, que acabará com nossa grande empresa de alta tecnologia. 

Vergonhoso é o Brasil comprar briga com a China, nosso principal parceiro comercial, para apoiar Trump na sua cruzada protecionista, que também afeta o Brasil.

Vergonhoso é o Brasil comprar briga com os países árabes, que importam cerca de US$ 13,5 bilhões por ano de nossos produtos, principalmente alimentos, apenas para satisfazer um capricho geopolítico de Trump. 

Vergonhoso é o Brasil alinhar-se à cruzada medieval de Trump contra a luta pelo equilíbrio climatológico e ambiental, o que deverá afetar gravemente nossas exportações de commodities e nossa imagem perante o mundo. 

Vergonhoso é o Brasil insurgir-se contra o Mercosul e a integração regional, que tanto nos beneficiam, para dar apoio à agenda geopolítica dos EUA na América do Sul.

Vergonhoso é ver um presidente e um chanceler oferecer o território brasileiro para a instalação de uma base norte-americana em solo pátrio.

Vergonhoso é ver o Brasil submeter-se às exigências celeradas da administração Trump, para que nosso país participe de uma guerra na Venezuela, país vizinho, com a exclusiva finalidade de que os EUA tenham acesso privilegiado à maior jazida de petróleo do mundo. 

Vergonhoso é ver nossas forças armadas transformadas em forças subalternas do Comando Sul dos EUA. 

Vergonhoso é ver o Brasil transformado num grande Porto Rico, um protetorado dos EUA.

Vergonhoso, enfim, é ter um governo que não defende o Brasil e seus cidadãos. Um governo que nem sabe identificar os verdadeiros interesses do Brasil. Um governo guiado pelas alucinações ideológicas de um astrólogo. Um governo que nem sequer consegue achar os mandantes do assassinato de Marielle.

Sob Bolsonaro, o Brasil virou a grande chacota mundial. Nunca nossa imagem no exterior esteve tão baixa. Viramos símbolo maior da extrema direita mais reacionária e ignorante, empenhada em cruzadas medievais contra o “comunismo”, o “marxismo cultural”, o “ambientalismo global” e os direitos de mulheres, gays e outros grupos de excluídos. 

E não adianta ficar perseguindo Jean Wyllys no exterior. O tiro sairá pela culatra. 

Quem cobre o Brasil de vergonha é a armada Bolso Leone e seu festival incessante de declarações e atitudes de profunda ignorância e de abjeta submissão a Trump.

Nossos migrantes, mesmo aqueles que estão em situação irregular, não têm nada do que se envergonhar. Foram para os EUA trabalhar duro. Foram para lá apenas para vender a sua força de trabalho.

Ao contrário de alguns, não foram aos EUA para vender o Brasil.    

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Marcelo Zero

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