Pesquisar
Pesquisar
Menino sentado nos escombros de uma escola destruída em Nuseirat, em Gaza (Foto: UNRWA)

Educação na mira: estudantes, professores e escolas sofrem 6 mil ataques em 2 anos no mundo

Lugares com maior quantidade de ataques contra a educação entre 2022 e 2023 foram Palestina, Ucrânia, República Democrática do Congo e Myanmar
Redação IPS
IPS
Paris

Tradução:

Ana Corbisier

Os ataques contra escolas aumentaram no mundo, somando-se às restrições legais e mesmo climáticas que impedem aos estudantes o acesso a seus centros de educação, advertiu a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Segundo um estudo da Coalizão Mundial para a Proteção da Educação contra os Ataques, da qual a Unesco é membro, em 2022-2023 foram registrados 6 mil ataques contra estudantes, profissionais e estabelecimentos educativos de todo o mundo, isto é, uma média de oito por dia. Destes ataques, mil foram casos de utilização militar desses estabelecimentos.

Em 5 anos, EUA registraram mais de mil incidentes por arma de fogo em escolas

O que representa um aumento de 20% em relação aos dois anos anteriores. Calcula-se que mais de 10 mil estudantes e docentes foram vitimados: morreram, ficaram feridos, ou foram sequestrados, presos ou sofreram algum outro tipo de dano devido a ataques contra a educação no biênio. A quantidade de estudantes, docentes e pessoal das escolas mortos ou feridos aumentou mais de 10% em comparação com o período 2020-2021.

Os ataques danificaram ou destruíram centenas de centros educativos, e causaram seu fechamento temporal ou permanente, com o resultado de semanas ou meses de aprendizagem perdida. Alguns estudantes também necessitaram de apoio psicossocial depois dos ataques a suas escolas ou universidades, ou temiam regressar à escola depois das agressões.

Palestina, Ucrânia, Congo e Myanmar

Em 2022 e 2023, os lugares com maior quantidade de ataques contra a educação foram Palestina, Ucrânia, República Democrática do Congo e Myanmar. Em cada um destes países, centenas de escolas foram ameaçadas, saqueadas, queimadas, atacadas com artefatos explosivos improvisados ou alcançadas por projéteis ou ataques aéreos.

Durante o mesmo período, em Afeganistão, Índia, Paquistão e Palestina foram informadas altas cifras de pessoas que morreram ou sofreram danos como resultado de ataques a escolas e universidades. Ou foram objeto de sequestros ou detenções, ou sofreram danos durante o trajeto para ou da escola ou universidade.

Em 1 mês, Israel ataca 19 escolas em Gaza; 98% já foram destruídas

Em pelo menos 10 países, meninas e mulheres teriam sido agredidas deliberadamente devido a seu gênero durante ataques à educação. Em alguns contextos, como Afeganistão e Paquistão, foram atacadas professoras e alunas ou seus estabelecimentos educativos com a intenção de obstaculizar seu acesso à educação.

Além disso, partes no conflito perpetraram atos de violência sexual contra mulheres e meninas em escolas ou universidades, ou no trajeto, de ou para estes centros. As e os estudantes com deficiência; estudantes da comunidade de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgênero; e estudantes de comunidades indígenas e de minorias étnicas enfrentaram maiores vulnerabilidades.

Novos países na lista

Dois países que não foram incluídos no informe sobre o anterior biênio agora figuram no novo documento: Egito e Quirguistão. O Egito esteve envolvido em um conflito com um grupo armado filiado ao Estado Islâmico na península do Sinai, onde foram identificados mais de 10 casos de uso militar de escolas ou universidades.

Por sua vez, o Quirguistão esteve imerso em um conflito armado internacional ao longo de sua fronteira com o Tajiquistão, em que mais de 20 escolas foram danificadas ou destruídas durante uma breve escalada das hostilidades em setembro de 2022.

Ódio a minorias e efeito do neoliberalismo: massacres em escolas têm assinatura neonazi

Os ataques à educação na Ucrânia, Sudão, Palestina, Síria e Nigéria aumentaram em 2022 e 2023. A agudização da guerra na Ucrânia levou a um aumento dos ataques contra escolas e universidades depois de fevereiro de 2022, e em muitos deles foram utilizadas descargas de artilharia, projéteis e ataques aéreos.

Depois do início do conflito no Sudão, em abril de 2023, aumentou o número de ataques contra instalações educativas e, também, seu uso militar. Outro tanto foi registrado na Nigéria. Na Palestina, os ataques à educação alcançaram um nível máximo em outubro de 2023, depois da intensificação das hostilidades. Na Síria, meninos e meninas foram recrutados durante o trajeto para a escola, e houve ataques cada vez mais frequentes a escolas.

Campos de deslocados superlotados e sem escolas: o drama das crianças vítimas da guerra da Síria

Em troca, um apaziguamento dos conflitos permitiu que diminuíssem os ataques a escolas na República Centro-africana, Líbia, Mali e Moçambique.

A Unesco lembra a todos os agentes implicados nos conflitos a necessidade de cumprir a resolução 2601 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que solicitou a todas as partes envolvidas em conflitos respeito à educação e a seus participantes, e condenou o uso militar das instalações de ensino.

IPS, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação IPS

LEIA tAMBÉM

Repressão transnacional dos EUA contra o jornalismo não pode virar regra, aponta Assange
Repressão dos EUA contra jornalismo global não pode virar regra, aponta Assange
Estupro foi “arma de guerra” pró EUA e Israel para exterminar maias na Guatemala (3)
Estupro foi “arma de guerra” pró EUA e Israel para exterminar maias na Guatemala
eighty-four-haitian-migrants-on-a-42-foot-vessel-65629e-1024
Frei Betto | FMI, emergência climática e o cerco aos refugiados na Europa e nos EUA
Juan López - Ambientalista que lutava contra mineração é assassinado em Honduras
Ambientalista que lutava contra mineração é assassinado em Honduras