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María Coria Machado (Foto: Reprodução / X)

Eleições na Venezuela: oposição racha e partidos desafiam apelo de María Corina Machado à abstenção

Henrique Capriles e Manuel Rosales, governador de Zulia, declararam intenção de disputar nas eleições de abril, quando serão eleitos governadores e deputados
Redação Misión Verdad
Misión Verdad
Caracas

Tradução:

Ana Corbisier

O partido Movimento pela Venezuela (MPV), de tendência opositora e representado por José Simón Calzadilla, anunciou sua participação nas eleições previstas para 27 de abril na Venezuela, quando serão eleitos governadores e deputados para a Assembleia Nacional (AN).

Acompanhado por Andrés Caleca, ex-candidato nas primárias de outubro de 2023, Calzadilla afirmou que sua organização realizou uma consulta interna em diferentes níveis e secretarias em escala nacional, concluindo que integraria a rota eleitoral para disputar esses espaços.

O MPV faz parte da Plataforma Unitária Democrática (PUD) e é uma das três organizações que cederam sua sigla ao ex-candidato Edmundo González Urrutia, hoje autoproclamado “presidente eleito” no exílio.

Pressão contra o abstencionismo

Há meses, María Corina Machado criticava dirigentes e grupos políticos por sua intenção de “virar a página” das eleições de 28 de julho. Ela acusava “certos setores” de “normalizar” a situação política e de não se concentrarem em “fazer valer” o falso resultado eleitoral que supostamente deu a vitória a González.

Após a fracassada mobilização de 9 de janeiro e a frustrada “juramentação” de González, Machado intensificou sua agressiva narrativa para impor a abstenção. Em 20 de janeiro, convocou dirigentes e grupos políticos a não participarem das próximas eleições convocadas no país, “sem que antes Edmundo González assumisse a presidência”.

Nos últimos dias, no entanto, diversos políticos e partidos tradicionais da oposição manifestaram-se a favor da participação nas eleições de 27 de abril. Entre eles estão Henrique Capriles e Manuel Rosales, governador de Zulia e principal líder do partido Um Novo Tempo (UNT), cuja sigla também apoiou González.

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Assim como Rosales, outros três governadores e um grupo de deputados da direita manifestaram sua intenção de disputar a reeleição. Além disso, partidos da chamada “Aliança Democrática” — composta por pequenas legendas opositoras — aspiram a competir no próximo ciclo eleitoral.

Até o momento, dois dos três partidos que apoiaram González já se distanciaram da estratégia de Machado. Já a Ação Democrática (AD), alinhada a Henry Ramos Allup, afirma estar em “consulta” com sua base para decidir sobre a participação. Tudo indica que a eleição de abril se mantém atrativa até mesmo para esse grupo, que conta com sigla eleitoral própria.

O cenário político geral entre as oposições sugere o avanço de debates entre as diferentes formações, em um claro desafio à linha abstencionista de Machado.

Mudança de contexto e novas variáveis

O contexto político da oposição na Venezuela mudou significativamente nas últimas semanas. Quando Machado anunciou oficialmente sua agenda abstencionista, em 20 de janeiro, esperava-se que ela tivesse força suficiente para paralisar o antichavismo e impor suas decisões. Apesar do fracasso das mobilizações de 9 e 10 de janeiro, o setor extremista ainda confiava que um possível retorno de Donald Trump à Casa Branca reativaria a estratégia de “máxima pressão” contra o governo de Nicolás Maduro e impulsionaria uma mudança de regime no país.

Entretanto, eventos inesperados alteraram esse panorama. Um dos principais foi a reunião entre Richard Grenell, enviado especial de Trump, e Maduro, sinalizando uma — pelo menos momentânea — mudança pragmática de enfoque na política de Washington em relação a Caracas. Desde então, os gestos de negociação não pararam e chegaram, inclusive, ao reconhecimento do governo estadunidense de “melhoras” em certas condições de vida na Venezuela.

A visita de Grenell desestabilizou as agendas de Machado e González, alterando consideravelmente o jogo político. Agora, diversos dirigentes da PUD parecem assimilar o novo cenário de maneira pragmática e com uma orientação adaptativa. Para eles, perde sentido militar no abstencionismo para seguir María Corina Machado e sua estratégia destituinte, comprovadamente fracassada, baseada no incerto e em uma estratégia de desestabilização que não se concretizou.

Enquanto o partido Vente Venezuela tenta manter sua relevância em meio à queda de popularidade de sua liderança se deteriora vertiginosamente.

Por outro lado, para outros políticos em exercício, os tempos são muito distintos dos da caraquenha. Para eles, os cargos a serem disputados em abril são de quatro anos para governadores e de cinco anos para o parlamento. Isso implica um lapso político muito extenso para permanecer fora do jogo eleitoral, por isso consideram que sua decisão se trata de sua sobrevivência ou morte política.

A experiência com o abstencionismo em 2017, 2018 e 2020 já demonstrou seus impactos negativos sobre a estrutura territorial da oposição, especialmente no interior do país. O movimento do MPV, liderado por Calzadilla, reflete esse entendimento.

Lideranças regionais veem na eleição de abril uma chance de reeleição ou de conquista de novos cargos e não querem que suas aspirações sejam frustradas por decisões unilaterais de Machado e González, que perderam espaço tanto no cenário interno quanto externo.

A tomada de decisão, contudo, é uma corrida contra o tempo. De acordo com o cronograma eleitoral, o processo de registro de candidaturas e alianças políticas deve começar no final de fevereiro, tenha início o processo de postulações de candidatos e organizações políticas, o que obriga os dirigentes a acelerar suas alianças.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação Misión Verdad

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