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Posse de Castillo evidencia fracasso das estratégias de Keiko Fujimori para tirá-lo do poder

Não há que deixar-se ganhar, no entanto, pelo triunfalismo. Os dias mais difíceis hão de começar, e não só carregados de violência
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

Héctor Vargas Haya, um antigo e respeitável militante aprista, afastado das práticas de seus companheiros de antanho, me fez chegar recentemente a algumas informações que ajudam a compreender a natureza das ações da classe dominante em nosso tempo. 

Recordou que em 23 de setembro de 1991 foi elevada ao Congresso Nacional uma Acusação Constitucional contra o então ex-presidente da República, Alan García Pérez, pelo cometimento de dois graves delitos em agravo do Estado: Enriquecimento ilícito e Contra a Fé Pública.

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A Comissão Parlamentar que investigou os fatos esteve presidida por nada menos que Antero Flores Araoz e teve como vice-presidente Rafael Rey. A porta-voz da Comissão encarregada de sustentar as acusações foi uma então jovem e beligerante parlamentar, Lourdes Flores Nano.

O Golpe de 5 de abril, que marcou o fechamento do Congresso, encerrou o caso. 

As curiosidades da vida nos mostraram que essas personagens, no segundo governo de García, se tornaram seus Ministros e depois seus acólitos, desempenhando ademais de suas pastas, postos como Embaixadores; ela candidata à Primeira Magistratura da Nação. 

É certo que fracassaram em todas essas aventuras, mas alcançaram alguns suculentos benefícios. E foram tantos, que hoje sentem saudades de seu “legado” e se associam com seus seguidores, formando parte do cortejo de Keiko Fujimori.

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Esta última, na antessala de sua derrota, recorda e aplica a velha fórmula aprista da “escopeta de dois canos”, essa que em seu momento impulsionara o mesmíssimo Víctor Raúl, para falar ante as massas de uma tumultuosa Revolução Popular; e desenhar ao mesmo tempo e diante dos poderosos, uma genuflexa ação de governo, destinada a preservar os privilégios dos ricos.

Não há que deixar-se ganhar, no entanto, pelo triunfalismo. Os dias mais difíceis hão de começar, e não só carregados de violência

Twitter – reprodução
O candidato vitorioso Pedro Castillo.

Ações combinadas

Hoje Keiko, como o coelho que não encontra a porta de saída do cubículo em que se encontra, combina também suas ações. Por um lado, estimula seus destacamentos mais ativos – “A resistência”, “A Insurgência”, “Os Patriotas”, “Os Combatentes” e alguns mais – a tomar por assalto o Palácio de Governo e “castigar” o Presidente Sagasti por não acatar as diretivas que lhe dera para pedir à OEA uma “auditoria eleitoral”; e por outro ao revés, com os ares da Virgem de Macarena, acende velinhas, reza o rosário e pede aos céus, com fervor e com lágrimas, que anule os votos de Pedro Castillo e outorgue a ela a vitória, para que se livre da prisão. 

Assegura que se ali não lhe dão razão, terrenal como é, recorrerá à Corte Internacional de Haia em demanda de “justiça”, para ver se dá certo. Pareceria que, para seu caso, não necessita advogados, mas sim psiquiatras. E com urgência. 

Distúrbios

Os distúrbios protagonizados nos últimos dias nos arredores da Casa de Governo foram, em alguma medida, expressão de tudo isso. Foram programados para começar em 10 de julho. Deviam chegar do interior do país 500 ônibus com 60 pessoas cada um. 

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Deviam “sitiar” Lima desde o sul, e desde o norte. E encher também a via central por Porkona até Vitarte. Arribar nas imediações do Palácio na noite do dia 13, e assediar o Chefe do Estado notificando-o para que “se renda”, e não lhe aconteça o mesmo que aconteceu com o seu homólogo do Haiti, previsto para o dia seguinte, sob a orientação de Phillips Butthers

Falaram-nos pelas redes de três milhões e meio de pessoas encabeçadas pelo Prêmio Nobel de Literatura que, no dia 14 de julho – data emblemática da Revolução Francesa – tomaria – como se fosse a Bastilha – a sede do Governo Peruano a fim de acabar com a vontade cidadã que optou por um governo presidido por Pedro Castillo, no dia 6 de junho. Foi, quase, mais uma bravata. 

É claro que já perderam em todos os terrenos. E o que agora buscam desesperadamente é um morto, qualquer morto, mas um que lhes sirva para justificar suas tropelias. Até nisso se parecem aos que operam em Miami e clamam também por um mortinho para poder dizer que em Cuba “há ditadura”. 

Fracassos das estratégias e da mídia

Bem se poderia dizer que as cartas estão lançadas. Fracassaram em toda a linha cada uma das seis estratégias elaboradas pela Máfia. 

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Entretanto cabe perguntar por que a “Grande Imprensa” e a TV envilecida persegue a cada dia a Pedro Castillo e seus próximos, perguntando quem vão ser seus ministros, e não assedia por igual a senhora Fujimori perguntando-lhe o mesmo?

Já terminaram também as especulações dos “meios” ao serviço da Classe Dominante. O Júri Nacional de Eleições, vencendo medos e resistências, resolveu caminhar para o futuro e não dar o salto ao vazio que exigirá o Keikismo. 

Não há que deixar-se ganhar, no entanto, pelo triunfalismo. Os dias mais difíceis hão de começar. E não só carregados de violência. Já na antessala da derrota, a Máfia não se sente vencida. E isso não vai mudar mais adiante. 

Para enfrentá-la exitosamente, há quatro palavras: unidade, organização, consciência e luta. O assunto estriba em convertê-las em realidade concreta. Será essa a diferença entre a vida e a morte.

Gustavo Espinoza M. , colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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