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Há um multimilionário esforço massivo dos republicanos para reduzir votos nos EUA

Diante da probabilidade de um triunfo democrata na presidência e no Congresso crescem preocupações com a supressão de votos e violência pós eleitoral
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Os democratas são favoritos para ganhar a Casa Branca, possivelmente tomar o controle do Senado e ampliar sua maioria na câmara baixa segundo os principais especialistas eleitorais, e diante disso Donald Trump e os republicanos entendem que sua melhor resposta é suprimir o voto em uma democracia que governam sem gozar do apoio da maioria. 

Com as atividades eleitorais se aproximado do seu término, esta não é uma contenda “normal” entre os candidatos dos dois partidos nacionais, mas sim um referendo sobre o ocupante da Casa Branca, ou como repete o senador Bernie Sanders, “é uma eleição entre a democracia e Trump”. 

Também é a eleição federal (presidência e legislatura) mais cara do história do país, com um gasto total de aproximadamente 14 bilhões de dólares, duas vezes mais que a anterior, de 2016, calcula o Center for Responsive Politics.  

Por ora, a menos de uma semana da eleição que oficialmente culminará em 3 de novembro – mas que ninguém sabe quando concluirá – o consenso de todos os principais especialistas e seus modelos é que Joe Biden e os democratas são favoritos para ganhar a Casa Branca, ampliar sua vantagem majoritária na câmara caixa (todas as 435 cadeiras estão em jogo) e com uma boa probabilidade de reconquistar o controle no Senado (35 cadeiras, pouco mais de um terço, estão em jogo).  

Diante da probabilidade de um triunfo democrata na presidência e no Congresso crescem preocupações com a supressão de votos e violência pós eleitoral

White House
Republicanos acompanham o presidente Donald Trump durante discurso em Washington.

Além de manter durante semanas uma ampla vantagem nas pesquisas nacionais, os democratas inclusive contemplam ampliar o número de estados chaves que, sob o sistema do Colégio Eleitoral, é onde se determina o ganhador da eleição presidencial. De pronto Texas foi colocado como um estado que está plenamente em jogo, depois de décadas de ser um bastião republicano no mapa eleitoral.  

Por isso, junto com Florida, Georgia e Arizona (onde hoje Trump fez comícios), o voto diverso dos latinos – o maior setor minoritário do país – cobra grande importância (embora valha a pena recordar que Trump ganhou quase 30 por cento desse voto em 2016).

Armadilhas

Trump e seus republicanos têm claro que seu triunfo depende de reduzir o voto popular. Apenas um presidente republicano ganhou no voto popular desde 1988; Trump ganhou com 46% do voto popular em 2016 e nunca conseguiu obter 50 % de apoio durante sua gestão.  

Ao saber que não contam com o apoio da maioria do eleitorado, os republicanos se dedicam a suprimir o voto sobretudo nos estado chaves dentro do sistema de voto indireto conhecido como Colégio Eleitoral, que determina quem ganha a presidência.  

Por isso há um multimilionário esforço massivo para reduzir o voto, tanto através de manobras legais como extra legais. Pelo lado legal, os republicanos dedicaram mais de 20 milhões de dólares para promover pelo menos 300 disputas judiciais para obstaculizar o voto este ano, reporta o Center for Public Integrity. E ainda mais, há demandas legais constantes para frear ou limitar a contagem de votos que chegam tarde pelo correio ou eliminar medidas elaboradas para facilitar o voto.  

Todas estas disputas, incluindo qualquer que seja sobre o resultado final da eleição, têm como árbitro final a Suprema Corte (não existem tribunais eleitorais), onde Trump e os republicanos acabam de consolidar seu controle ao impor uma maioria conservadora de seis a três. 

Pela via extralegal há diversas tentativas de intimidação, incluindo colocar pessoas armadas perto dos postos de votação antecipada e no dia das eleições, gravar em vídeo eleitores que buscam os postos e buscar confundi-los com informações falsas. Também há investigações sobre preparação de “milícias” armadas em vários estados que buscarão provocar violência relacionada com as eleições. 

O voto das minorias, ou de alguns setores dessas minorias, é sistematicamente suprimido neste país – há uma longa história de luta pelo direito pleno de exercer o voto – e este ano as forças de Trump redobraram esforços na busca de formas de obstaculizar esse voto que costuma favorecer os democratas. 

Apesar disto, tudo indica uma participação eleitoral sem precedentes em décadas, com mais de 74 milhões de votos já emitidos de maneira antecipada, algo que em princípio deveria favorecer os democratas. 

Alguns especialistas advertem que com milícias e outros grupos armados de ultradireita se preparando para barrar o processo eleitoral e recusar o resultado, com o apoio quase explícito do presidente – que além disso emprega a retórica de guerra fria sobre a suposta ameaça de que “a esquerda radical” está por tomar o poder neste país – há cada vez mais probabilidades de violência. E alertam que essa violência poderia detonar um ciclo perigoso não só provocando enfrentamentos civis, mas a intervenção de forças de segurança locais e federais. 

Enquanto isso, os temas que giram em torno desta eleição continuam açoitando o país, desde o rebrote da pandemia que chegou a uma média recorde de 74 mil novos casos a cada dia durante a última semana, a novos protestos por mais outra morte de um afro-estadunidense, Walter Wallace, em mãos da política, desta vez na Filadélfia, onde as autoridades impuseram um toque de recolher depois de duas noites de protestos e fúria; enquanto que por causa da mudança climática que o presidente se recusa a reconhecer, a Califórnia evacuou dezenas de milhares de pessoas diante de novos incêndios florestais descontrolados e um novo furacão estava por chegar a Luisiana.  

E as bolsas de valores despencaram 3%, prejudicando parte da mensagem de Trump de que o auge do Wall Street era prova de seu grande manejo econômico.

Anonymous se identifica

Miles Taylor, o ex-líder da equipe do Departamento de Segurança Interna, se identificou hoje como o autor anônimo de um artigo de opinião publicado no New York Times em 2018 e, posteriormente, de um livro em 2019 onde critica Trump como um líder antiético e ” indisciplinado ”e também“ ineficaz ”, cujo abuso de poder ameaçava a democracia americana. Seu trabalho provocou raiva na Casa Branca – Trump perguntou se ele era “um traiçoeiro” para a nação – e foi mais um jogo favorito de Washington de adivinhar quem são as fontes anônimas que revelam segredos e fofocas do governo, especialmente do líderes.

David Brooks, Correspondente de La Jornada em Nova York.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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