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Enquanto Biden assume postura de vitória, Trump usa pretextos para burlar eleições

Durante semanas, o republicano já estava preparando essa jogada de anunciar seu triunfo na noite das eleições e de imediato acusar de fraude a contagem de votos
David Brooks
Prensa Latina
Nova York

Tradução:

O resultado da eleição presidencial continua no ar depois do fechamento das sessões eleitorais na última terça-feira (3) à espera da contagem em cinco estados que definirão o triunfador, enquanto Donald Trump buscou parar ou obstaculizar a contagem ao acusar de fraude, diante do que começaram as primeiras mobilizações de protesto em defesa do voto e contra “um autogolpe de Estado”. 

O suspense estava centralizado em torno aos resultados em Wisconsin e Michigan, ambos deram a vitória ao democrata Joe Biden nas projeções dos principais meios, embora a campanha de Trump tenha solicitado uma recontagem no primeiro e questionado a legalidade do resultado no segundo.

Os outros estados onde continua a contagem, todos com escassas margens, são Arizona e Nevada que por ora favorecem o democrata, e com outros dois estados, Georgia, Pennsylvania e Carolina do Norte nos quais seria uma surpresa se não forem colocados na coluna do presidente. 

Os analistas, especialistas nas rotas ao triunfo no Colégio Eleitoral para coroar-se presidente, se entretinham e tonteavam os demais ao indicar qual combinação de estados ainda não decididos necessitava cada candidato para obter a meta de 270 votos. Por ora, Biden tem uma via mais possível que Trump, caso as tendência atuais continuarem nesses estados.

Durante semanas, o republicano já estava preparando essa jogada de anunciar seu triunfo na noite das eleições e de imediato acusar de fraude a contagem de votos

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O resultado da eleição presidencial continua no ar depois do fechamento das sessões eleitorais na última terça-feira.

Ambas as campanhas continuaram expressando otimismo de que seu candidato prevalecerá, mas os democratas insistem em que isso será conseguido ao serem contados todos os votos, enquanto a estratégia de Trump é justamente obstaculizar uma parte dessa contagem sobretudo em Michigan e Pennsylvania com o pretexto de “irregularidades” e suspeitas sobre o processo.  

De fato, ontem (4) a campanha de Trump anunciou que buscará refazer a contagem também na Pennsylvania.

Mas com a contagem de votos, demorada em parte pelo número sem precedentes do voto antecipado depositado pelo correio ou postos especiais em dias prévios ao 3 de novembro, avançando, e avançando com a aparente vantagem de Biden, embora muito menor que a prognosticada pelas pesquisas, intensifica-se o esforço de Trump e seus aliados para questionar o processo e acusar os democratas de fraude, sem qualquer evidência. 

Trump, como já reportou La Jornada durante semanas já estava preparando essa jogada de anunciar seu triunfo na noite das eleições e de imediato acusar de fraude a contagem de votos, sobretudo o antecipado, dando o triunfo ao seu opositor. Trump começou a cultivar a dúvida sobre a legitimidade do processo todos os dias e proclamou, sem vergonha alguma, que só reconheceria os resultados se fosse o ganhador, caso contrário seria fraude. Seguiu fielmente esse roteiro e com isso está provocando uma crise constitucional. 

O temor é que ao proclamar que triunfou e que qualquer outro resultado é fraude, se não conseguir se impor nos tribunais para parar a contagem, chamará seus fiéis para “defender o voto” nas ruas. Se fizer isso, provocaria uma crise política muito perigosa. 

Diversos movimentos sociais e de promoção do voto haviam se preparado para estas manobras e ontem (4) convocaram as primeiras mobilizações em defesa do voto e para evitar o que alguns chamam de “uma tentativa de autogolpe” – ou seja, com o presidente usando uma manobra extra legal para manter-se no poder. 

Eram esperadas milhares de pessoas no centro de Nova York e várias outras cidades, enquanto se programavam sessões cibernéticas massivas para avaliar o momento e os próximos passos para exigir e proteger a integridade do voto. 

No entanto, toda uma vasta gama de estadunidenses que esperavam um rechaço a Trump nas urnas muito mais contundente, estavam desconsolados com seus próprios paisanos, tratando de entender como era possível que mais de 67 milhões tenham votado em um homem que tem exibido seu total desprezo pelos valores e instituições democráticas deste país, estimulado o racismo e a xenofobia, desmantelando normas nacionais e internacionais em vários rubros, mentindo abertamente sobre quase tudo e este ano provocando milhares de mortes desnecessárias por seu manejo irresponsável da pandemia. 

“A alegada indignação em torno da presidência de Trump não produziu uma mudança significativa em seu apoio republicano. Na verdade, ampliou sua base entre os eleitores brancos. Trump continua a florescer na intersecção da ganância, ganância e racismo. Diante disso, ganhe ou não Biden, temos que reconhecer que nosso país está quebrado. Se quisermos colocá-lo em conjunto, aqueles de nós que estão comprometidos com a construção de uma América mais justa devem denunciar e rejeitar firmemente qualquer apelo para mimar aqueles que estão felizes com o mundo que tornou possível um Trump”, o professor Eddie Glaude comentou hoje, Jr, Diretor de Estudos Afro-Americanos da Universidade de Princeton.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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