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Precisa chamar o VAR? O futebol como elemento central das eleições argentinas

Candidato ao governo da cidade de Buenos Aires é presidente do simpático San Lorenzo; Macri usou o Boca Juniors em sua campanha eleitoral
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul
Buenos Aires

Tradução:

Não é novidade que os argentinos são tão apaixonados por futebol quanto os brasileiros. E como torcedores fanáticos que são, entoam cânticos políticos como se fossem parte uma torcida organizada. A música tema da votação deste domingo (27) é: “Macri já foi; Vidal também e, se você quiser, Larreta também”. 

Traduzindo: o presidente atual, Maurício Macri (PRO – Proposta Republicana), pode perder já neste domingo, sem que haja um segundo turno. O mesmo ocorre com a governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, do mesmo partido. Sem triunfalismos, a grande expectativa desta eleição se volta para a capital do país, onde o partido macrista governa desde 2007 e o atual chefe de governo, Horácio Rodríguez Larreta, concorre à reeleição.

La pelea

De um lado do campo está Larreta, do PRO, que concorre à reeleição e tem a seu favor uma cidade já muito bonita e que ele continuou a embelezar e fazer obras por todas as partes (a mudança com relação aos últimos anos é muito visível). 

Joga contra ele o fato de que há um descontentamento geral da população com o neoliberalismo implementado por Macri, que resultou em desemprego e no aumento da pobreza em todo o país, inclusive na capital, onde ela é visível pela quantidade de pessoas em situação de rua. Soma-se a isso os cortes sociais implementados por Larreta e um desmonte da educação pública na cidade. 

Do lado oposto, está o quase desconhecido Matías Lammens. Ele é um outsider, está concorrendo pela Frente de Todos, mas não é filiado a nenhum partido político. É advogado, jovem, não se reconhece como kirchnerista, e sim progressista, e é o presidente do clube San Lorenzo.

Candidato ao governo da cidade de Buenos Aires é presidente do simpático San Lorenzo; Macri usou o Boca Juniors em sua campanha eleitoral

Crédito – Reprodução; Facebook
Candidato ao governo da cidade de Buenos Aires Matías Lammens entrega camisa de seu clube, San Lorenzo, ao papa Francisco

Eleições e futebol

O San Lorenzo de Lammens é um time simpático, já que é menor que os hegemônicos Boca Juniors e River Plate, e tem como seu torcedor mais famoso o Papa Francisco. Sob a direção do agora candidato, o clube ganhou a copa Libertadores da América em 2014, foi o primeiro a profissionalizar o futebol feminino no país e tem como marca uma gestão progressista, com a implantação de políticas sociais. 

Macri foi presidente do Boca e sua campanha eleitoral faz menções explícitas a isso, comparando a gestão do clube com sua capacidade de conduzir o país. Ocorre que o Boca perdeu a semifinal da Libertadores da América na última terça-feira (22) e muitos argentinos fizeram uma relação direta entre o clube e a queda do presidente.

Neste spot, o candidato a vice-presidente de Macri, Miguel Ángel Pichetto, fala sobre a gestão de Macri no Boca.

Por curiosidade, Larreta torce para o Racing, que está em quinto no campeonato argentino e não disputou a Libertadores. Alberto Fernández é fanático por Argentinos Juniors, segundo colocado no torneio, atrás do Boca.

VAR 

Apesar de este ser o primeiro turno das eleições, Lammens entra em campo já com uma vantagem: o resultado das primárias (aqui chamadas PASO). Larreta obteve 46,33% contra 32,05%, esperava-se uma amplitude mais contundente de votos, já que ele “jogava em casa”, como se diz na gíria futebolística. 

Agora Lammens vai para a disputa com a vantagem de ter a torcida a seu favor. Com a – esperada – vitória contundente de Fernández e Axel Kicillof (candidato a governador pela Frente de Todos),  ele tem tudo para obter uma votação maior, já que quanto menos votos Macri tiver mais chances ele tem de ir para um segundo turno. 

Para isso, Lammens precisa de mais de 50% dos votos válidos. Se conseguir reduzir a margem entre ele e Larreta poderá chamar o VAR, no caso, um segundo turno, que será realizado em 24 de novembro.

*Vanessa Martina Silva é editora da Diálogos do Sul e integra o  Coletivo de Comunicação Colaborativa ComunicaSul, que está cobrindo as eleições na Bolívia, Argentina e Uruguai com o apoio das seguintes entidades: Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; Hora do Povo; Diálogos do Sul; SaibaMais; 6 três comunicação; Jaya Dharma Audiovisual; Fundação Perseu; Abramo; Fundação Mauricio Grabois; CTB; CUT; Adurn-Sindicato; Apeoesp; Contee; CNTE; Sinasefe-Natal; Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região; Sindsep-SP e Sinpro MG. 

A reprodução é livre, desde que citados os apoios e o autor.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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