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No segundo dia da nova temporada do "O Aprendiz", Melania e Pompeo "brilham"

Tiffany e Eric Trump também marcaram presença na noite em que a candidata Marjorie Greene afirmou que Trump está em guerra contra "pedófilos satânicos"
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A Convenção Nacional Republicana continuou como o show de Donald Trump, outorgando o papel estelar de seu segundo dia à primeira dama, seus familiares e outro desfile de aduladores do presidente dando uma versão paralela da realidade estadunidense, um paraíso que está sob o assalto da “esquerda radical”, imigrantes selvagens e chineses. 

Depois de um primeiro dia no qual foi enfatizado que só Trump podia frear a onda de “socialistas”, “comunistas”, “anarquistas” e “marxistas” (quem sabia que havia tantos?) que estão fazendo tremer os fundamentos do país e que ameaçam o fim não só dos Estados Unidos mas do mundo, o roteiro continuou nesta segunda ronda agora sob o tema “Terra de oportunidade”.

Durante às duas horas e meia da convenção virtual, Donald Trump, como na primeira noite, fez um par de aparições utilizando a Casa Branca como cenário para oferecer, com convidados, comentários para a convenção e até para atos oficiais. 

Trump presidiu um ato de naturalização de cinco imigrantes, um deles boliviano, na Casa Branca como também um ato no qual o ex-criminoso agradeceu a um agente do FBI – como parte do elogio constante das forças de segurança pública durante a convenção – que foi indultado.

Os dois atos oficiais não têm precedentes ao ser realizados na Casa Branca como parte de um evento político-eleitoral, provocando críticas pelo uso de instalações oficiais públicas para propósitos partidários.

Tiffany e Eric Trump também marcaram presença na noite em que a candidata Marjorie Greene afirmou que Trump está em guerra contra "pedófilos satânicos"

Facebook | Reprodução
Melania Trump ofereceu suas “simpatias” com as vítimas da Covid-19 e assegurou que seu marido “não descansará” até que todos tenham acesso a

Melania, Tiffany, Eric… La “famiglia” Trump

Desde o Jardim das Rosas na Casa Branca, diante de seu presidente e uns 75 convidados, Melania Trump ofereceu suas “simpatias” com as vítimas da Covid-19 e assegurou que seu marido “não descansará” até que todos tenham acesso a uma vacina.  

Recordou que cresceu na Eslovênia, sob governo comunista, e sonhava com viajar à “América” para trabalhar na indústria da moda, e que conquistou seu “sonho americano” ao se naturalizar, e como agora é “uma honra” servir a este país como primeira dama.

Pediu o fim da discriminação racial e a cessação dos distúrbios violentos em torno ao tema racial. “Meu esposo sabe como promover a mudança… os Estados Unidos estão em seu coração”, afirmou. Ao mesmo tempo, declarou que não desejava atacar os democratas aqui, já que não “desejava dividir mais o país” – algo contrário ao resto da convenção até agora.

Além de Melania, as estrelas da noite foram outros dois integrantes da primeira família. Tiffany Trump, a filha mais nova, declarou que esta eleição é “uma luta pela liberdade versus a opressão” e agradou seu pai denunciando um dos seus “inimigos” favoritos: os meios de informação. Concluiu que seu pai “é a única pessoa que desafia o establishment” para que “prevaleça a justiça e a verdade”. 

Eric Trump, o segundo filho, caçador de animais em perigo de extinção, falou do “movimento de mudança” encabeçado por seu pai que está transformando o país e enfrentando o “contra movimento” da “esquerda radical” que quer anular as liberdades. Proclamou que com seu pai à frente, “uma vez mais, os Estados Unidos são a inveja do mundo”. 

Mike Pompeo e Rand Paul: China e guerras

Seu secretário de Estado, Mike Pompeo, transmitiu uma mensagem desde Jerusalém – o primeiro chanceler ativo na história do país em participar de um ato político-eleitoral e violando sua própria ordem que deu aos funcionários do Departamento de Estado proibindo sua participação em atos eleitorais.

Festejou as conquistas da política exterior em vários pontos do mundo e, é claro, atacou o novo inimigo oficial: a China. 

O senador Rand Paul sublinhou a suposto oposição de Trump às “guerras intermináveis” e declarou que “se tu odeias a guerra como eu odeio a guerra… tens que apoiar o presidente Trump”.

Mary Ann Mendoza, os anti-imigrantes e… Cuba

É evidente que estava presente o tema anti-imigrantes: Mary Ann Mendoza cujo filho foi assassinado por um “estrangeiro ilegal” bêbado em um acidente de automóvel no Arizona, declarou que “meu coração está roto para sempre… porque nosso sistema de imigração está roto”.

Trump, afirmou, que “é o primeiro líder político a enfrentar a esquerda radical para finalmente assegurar nossa fronteira e pôr fim à imigração ilegal desde seu primeiro dia”.  

E a vice-governadora da Flórida, como filha de imigrantes cubanos, foi a encarregada da noite em advertir contra o modelo cubano e venezuelano, e afirmou que com Trump será assegurado que “os Estados Unidos nunca se tornaram socialistas”. 

Também usaram da palavra o vice-presidente da Nação Navajo, uma mulher apelando pelo voto em Trump para defender os direitos dos não nascidos, pescadores que se opõem a ambientalistas, trabalhadores que elogiaram por seu manejo econômico e granjeiros de Wisconsin (estado que poderia ser chave na eleição),  entre outros.

“Terra de Oportunidades” e “satanismo”

A convenção foi iniciada com o vídeo sobre o tema da noite, “terra de oportunidades”, falando das virtudes do capitalismo, incluindo imagens de Martin Luther King, Jr entre outros lutando por “igualdade de oportunidades”, e elogiando a virtude do “excepcionalismo”, contrastando isto com democratas – com imagens de democratas como Bernie Sanders e Nancy Pelosi que promovem um modelo que acaba em “tirania e pobreza” — ou seja, a ameaça do “socialismo”. 

Como se a este espetáculo faltassem mais elementos surrealistas, Marjorie Taylor Greene, candidata republicana ao Congresso, informou que tinha sido convidada à Casa Branca na quinta-feira para ver o discurso de Trump aceitando a nomeação republicana para presidente.

Ela é uma seguidora da teoria da conspiração QAnon, popular entre ultradireitistas que afirma que o presidente está em guerra contra pedófilos satânicos – entre eles figuras democratas, multimilionários como George Soros e Bill Gates, e estrelas de Hollywood — que buscam tomar o controle do país. 

Mistérios trumpianos

Enquanto isso, paira o grande mistérios sobre como é possível que em meio à pior crise econômica desde a Grande Depressão provocada pelo manejo irresponsável da pandemia, o presidente Trump continua gozando de ampla aprovação, sobretudo por seu manejo da economia.

Embora tenha uma desvantagem média de uns oito pontos na média das pesquisas nacionais, continua mantendo 42% de aprovação. E ainda mais, reporta o New York Times, no âmbito do manejo econômico tem uma melhor qualificação que seu antecessores Barack Obama e os dois Bush quando eles buscaram a reeleição. 

O slogan da campanha, repetido por muitos dos palestrantes, é “o melhor ainda está por vir”. Faltam mais dois dias para este show, onde as funções oficiais agora são eventos de campanha para uma reeleição 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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