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Brooks | “Reality show” político de Trump tem potencial devastador para EUA

Regime fascista e sua campanha de reeleição proclamam o republicano é o único salvador dos Estados Unidos, segundo Deus
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Eu me lembro que buscávamos a revista Alarma para ler histórias “reais” de horror, para assustar-nos, para confrontar com histórias de horror — como explicou Guillermo del Toro várias vezes — nossos próprios terrores.

Mas isso era um ato voluntário. O “reality show” de horror político (ninguém fez um antes, verdade?) que se está produzindo nos Estados Unidos é algo com consequências devastadoras reais não só para o superpoder, senão para todos, e é o momento de gritar: Alarma!

Aqui há nada menos que uma tentativa para consolidar um regime fascista, com tudo o que isso implica: o regime e sua campanha de reeleição proclamam que Trump é o único salvador dos Estados Unidos, segundo Deus.

A Casa Branca, instituição pública, já foi convertida na Casa Trump. 

Regime fascista e sua campanha de reeleição proclamam o republicano é o único salvador dos Estados Unidos, segundo Deus

Wikimedia Commons
Uma das mensagens centrais da campanha de reeleição de Trump é algo que deveria ser cômico

Todos os dias o regime declara que os meios não alinhados são o “inimigo do povo”; cada dia mais famílias e crianças são enjauladas pelo regime como parte da perseguição brutal de imigrantes para frear a “invasão” por “estrangeiros ilegais”; todos os dias há ameaças e ações de repressão contra dissidentes e seus protestos por forças federais; o mandatário abençoou forças civis paramilitares que buscam confrontar manifestantes opositores (segundo um novo informe, ultradireitistas se apresentaram quase 500 vezes para provocar enfrentamentos com manifestantes de Black Lives Matter este ano, ferindo vários e matando três); prossegue a concentração extrema de riqueza (uns 467 multimilionários ganharam 800 bilhões de dólares nos últimos 5 meses, enquanto dezenas de milhões sofrem desemprego, pobreza e até fome); avança o desmantelamento da educação, da saúde pública e de programas de bem-estar social, como também a anulação de regulamentações e normas de proteção ambientais e trabalhistas. Tudo isso decorado pela retórica de “defesa do povo”, a liberdade, a família, Deus e “lei e ordem” ao construir-se uma “realidade alternativa” para anular a realidade empírica, a história e a ciência.  

Uma das mensagens centrais da campanha de reeleição de Trump é algo que deveria ser cômico, mas se torna alarmante já que parece funcionar: resulta que existe uma “esquerda radical” conformada por anarquistas, socialistas, comunistas e marxistas tão poderosa que está à beira de tomar o poder (usando o neoliberal débil Joe Biden como seu “cavalo de Troia”). Ainda não está claro se Cuba e Venezuela estão por trás de tudo isso, mas continuam assustando o país mais poderoso do mundo. Trump declarou que só ele pode salvar o país de tal ameaça.  Nem a esquerda estadunidense havia percebido seu poder até ser informada pelo regime. Esta narrativa nostálgica da época da guerra fria sempre tem sido empregada neste país para justificar, pois, quase tudo, desde repressão interna, espionagem, intervenções etc.

Ao longo das últimas duas semanas, ambas convenções nacionais, a democrata e a republicana, proclamaram essencialmente a mesma mensagem: o triunfo do opositor representa uma ameaça existencial à república democrática dos Estados Unidos. A pergunta é: que tal se ambos têm razão?

“Este é o momento mais decisivo na história deste experimento que chamamos de Estados Unidos da América…”, comentou o filósofo político Cornel West esta semana, “Vimos nesta semana a cristalização de uma forma estadunidense de neofascismo”. Agregou que votará pelo “neoliberal débil Biden, mas só porque é um voto antifascista”. Embora não seja a solução, sublinhou, primeiro “temos que tirar o gangster neofascista da Casa Branca”. 

Quase todos sabem que as cúpulas não têm soluções reais para a crise democrática deste país. Essas terão que sair dessa oposição vasta e dinâmica, embora fragmentada, que se vê nas ruas, nas salas de aula e até nas arenas do esporte (a extraordinária greve da semana passada) e que é chave tanto para frear o projeto neofascista como a continuação do projeto neoliberal dentro dos Estados Unidos. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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