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Golpe de estado e violência nas ruas são pautas das eleições estadunidenses em novembro

“O que ocorrerá se Trump perder mas se recusar a reconhecer? Distúrbios civis representam um dilema para o Congresso, os tribunais e os militares dos EUA"
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A poucos dias das eleições, a batalha eleitoral presidencial nos EUA foi marcada por uma troca de acusações por incêndios, pandemia e até “complôs” da esquerda e da direita, enquanto não passa um dia em que não se abordem os cenários de uma eleição de culmine em uma crise constitucional e até violência armada nas ruas.

O candidato presidencial democrata Joe Biden criticou Donald Trump de ser um “incendiário climático” que, se reeleito, deixará em chamas os Estados Unidos, ao abordar o tema dos incêndios sem precedentes no noroeste do país, cuja intensidade e dimensão são resultados da mudança climática, segundo cientistas e especialistas. 

Por sua parte, o presidente Trump viajou à Califórnia — depois de quase ignorar o tema dos incêndios durante as últimas semanas – onde reiterou sua crítica de que os incêndios são resultado do mau manejo do solo florestal e se recusou a abordar a tema da mudança climática.

Isso, depois de ter afirmado que as temperaturas baixarão por si só – da mesma maneira que havia declarado há meses que a Covid-19 também desapareceria por si só — um funcionário estatal lhe assinalou que o consenso científico apontava para o oposto. A resposta do presidente foi: “não creio que a ciência saiba”.

“O que ocorrerá se Trump perder mas se recusar a reconhecer? Distúrbios civis representam um dilema para o Congresso, os tribunais e os militares dos EUA"

Reedit – Fotomontagem
A batalha eleitoral presidencial nos EUA foi marcada por uma troca de acusações

Pandemia e mudanças climáticas versus a lei e ordem

Biden e os democratas estão buscando colocar no centro do debate os temas do manejo da pandemia e a mudança climática. E Trump tem buscado desviar a atenção desses assuntos ao colocar seu lema central de “lei e ordem” e a ameaça da “esquerda radical” para atemorizar votantes e consolidar suas bases. Repete que “nenhuma cidade, povoado ou subúrbio estará seguro”, se ganharem os democratas.

Esta semana completam seis meses desde que Trump foi obrigado a declarar uma emergência nacional pela pandemia, e os Estados Unidos continuam em primeiro lugar no mundo pelo número de contágios e de mortes pela Covid-19 (mais de 194 mil até agora).

Mesmo representando só 5% da população mundial, tem 20% dos falecidos pela pandemia. O total de mais de 190 mil mortos é equivalente a 65 atentados do 11 de setembro, assinala Axios.

Trump segue violando as normas de saúde pública e propagando o medo

Enquanto isso o presidente foi criticado por haver violado os regulamentos estatais e as recomendações de especialistas de saúde pública ao realizar o comício de campanha em Nevada no fim de semana em um espaço fechado, sem medidas sanitárias.

Ao responder a perguntas sobre isso, Trump insistiu hoje em que “eu estou num palco e estou a muita distância, Por isso não estou preocupado”, o que deixou assombrados a muitos, já que não abordou o perigo que isso representava para os milhares de seus seguidores que estavam ali. 

Ao mesmo tempo, um de seus altos funcionários no Departamento de Saúde acusou a cientistas do Centro de Controle de Enfermidades de “sedição” e que oficiais dessa agência estavam formando uma “unidade de resistência” para minar o presidente.

O secretário assistente de Saúde, Michael Caputo, agregou em uma conversação ao vivo por sua página do Facebook que ele poderia ser assassinado e que agrupamentos de esquerda estavam se preparando para o conflito armado depois da eleição presidencial, declarando que caso Trump seja reeleito para um segundo período, “os tiroteios começarão… se portarem armas, comprem munições, damas e cavalheiros, porque vai ser difícil consegui-las”. 

Crise constitucional e a possibilidade de um “golpe de estado”

Tudo isso continua nutrindo especulação quase diária neste país sobre se a eleição de 3 de novembro detonará uma crise constitucional em um país com um sistema eleitoral que não garante um resultado completo nem transparente. 

Por ora, as pesquisas mantêm Biden com um vantagem tanto nacional como em vários estados chaves, mas ainda se prognostica que a contenda será definida pelo voto de uns poucos estados onde há uma diferença pequena, o que se presta para uma magna disputa política. 

A cada dia há especialistas, historiadores, políticos e advogados especulando sobre vários cenários, desde problemas técnicos severos a medidas de supressão e até repressão do voto, intervenção estrangeira no processo e um presidente que já declarou que as eleições serão fraudulentas e que se recusa a dizer que respeitará o resultado se não lhe for favorável. 

“O que ocorrerá se Trump perder mas se recusar a conceder? Um resultado disputado e o risco de distúrbios civis representam um dilema para o Congresso, os tribunais e os militares”, é o lead de uma reportagem no Financial Times desta segunda-feira.

No domingo, o New York Times publicou um artigo de opinião sob o título “São 20 horas do dia das eleições. Especialistas compartilhem seus cenários de pesadelo”. Na semana passada, The Nation publicou um artigo intitulado “Trump está planejando um golpe de Estado?”

Isso se repete incessantemente, e não há conversa sobre as eleições em que não esteja presente a possibilidade de uma crise grave, não só eleitoral e constitucional, mas mesmo a violência armada nas ruas. Essa é nova.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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