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Biden cobra de Trump esclarecimento sobre possível sequestro de 545 crianças migrantes

Governo estadunidense negou documentação sobre a prática e nunca estabeleceu medidas para rastrear as famílias separadas, reportaram NBC News e NPR
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Donald Trump ainda goza de impunidade e nem foi obrigado a responder às revelações de que 545 das mais 3 mil crianças imigrantes que seu governo sequestrou não foram reunidas com seus pais deportados, enquanto a contenda eleitoral prossegue com quase nula atenção a esse tema com a entrega em pessoa de Barack Obama em apoio à campanha de seu ex-vice-presidente Joe Biden e com o presidente buscando repetir seu surpreendente triunfo de 2016 ante expectativas de seu fracasso.

Os pais de 545 menores de idade separados de suas famílias imigrantes ao cruzar a fronteira com o México não foram localizados, segundo documentos oficiais apresentados a um tribunal por advogados da União Americana de Liberdades Civis (ACLU) e pelo Departamento de Justiça em resposta à ordem de um juiz de reunificar todas as famílias.

De acordo com essa ordem, cerca de 2700 crianças separadas foram reunificadas com seus familiares, mas o governo de Trump não divulgou isso até que outras 1556 crianças haviam sido separadas (ninguém sabe o total exato). 

As 545 – cerca de 60 delas com menos de cinco anos de idade ao serem separadas – que não foram reunificadas parecem ser parte desse grupo. Ao mesmo tempo, várias dessas crianças não foram localizadas nos Estados Unidos, tudo porque o governo negou documentação sobre a prática e nunca estabeleceu medidas para rastrear as famílias separadas, reportaram NBC News e NPR.

De fato, durante conversas entre funcionários do governo de Trump quando foi implementada essa política, o então procurador-geral Jeff Sessions ordenou a fiscais na fronteira que “necessitamos tirar-lhes as crianças”, revelou o New York Times.

“Cada dia parece que descobrimos novos horrores cometidos pelo presidente Trump e sua administração”, declarou hoje o candidato democrata Biden em torno a essas notícias.

Mas essas medidas não foram descobertas essa semana e todos, inclusive Biden, sabiam que o governo de Trump estava separando e efetivamente sequestrando crianças imigrantes como uma medida “dissuasiva” para frear o fluxo de famílias que buscavam asilo..  

Nenhum político se atreveu a propor que o presidente e seus subordinados prestem contas por essa violação de direitos humanos. 

Governo estadunidense negou documentação sobre a prática e nunca estabeleceu medidas para rastrear as famílias separadas, reportaram NBC News e NPR

Reprodução | Twitter
Crianças imigrantes foram separadas de seus pais e aprisionadas nos EUA

Biden limitou-se a reiterar que “as famílias devem estar juntas. Esse é o eixo de minha política migratória” e acrescentou que sob seu governo, “os solicitantes de asilo serão tratados com dignidade e vamos assegurar que recebam as audiências imparciais e legais às quais têm direito”. Ou seja, cumprir as leis e normas nacionais e internacionais sobre asilo.  

Mas o assunto não é parte central do debate político-eleitoral neste país e hoje, sem maior atenção à notícia, as campanhas continuaram sua marcha nesta reta final. 

Obama, em seus primeiros atos em pessoa em apoio a Biden, realizou eventos no estado da Pennsylvania onde convidou os eleitores que deram o triunfo a ele em suas duas campanhas presidenciais a votar por Biden e sua companheira de chapa a senadora Kamala Harris. Afirmou que “esta é a eleição mais importante de nossas vidas… O que fizermos nesses próximos 13 dias importará para as próximas décadas”.  

Pennsylvania é um dos estados-chave do mapa eleitoral no qual Trump ganhou com uma margem de menos de um ponto em 2016, e junto com triunfos em Michigan e Wisconsin, foi o que o levou à Casa Branca. Por ora, a duas semanas da eleição, Biden goza de uma vantagem entre 5 a 8 pontos percentuais neste estado, como em outros também considerados chaves para conseguir derrotar Trump.

Trump está intensificando o ritmo de seus comícios e eventos que realiza na reta final em vários dos estados-chaves, diante de indicadores diários que prognosticam sua derrota. Com isso, e talvez por isso, seu comportamento errático é cada vez mais marcado.  

Na terça-feira, aparentemente por um capricho, concluiu precipitadamente uma entrevista no programa 60 Minutos da CBS, aborrecido com as perguntas sobre seu manejo da pandemia da veterana jornalista Lesley Stahl. O presidente acusou depois que a entrevista foi “falsa e parcial” e publicou fotos do encontro.

Trump repetiu suas sugestões de investigar e deter seus opositores políticos, algo inusitado durante uma eleição. Hoje comentou em uma entrevista com seu canal favorito Fox News que seu procurador geral Bill Barr deveria investigar seu opositor e seu filho por corrupção antes das eleições. Em outras ocasiões sugeriu que o promotor supremo do país deveria prender seu opositor, Obama e Hillary Clinton. 

Por outro lado, revelou-se que Trump, que tem se dedicado a criticar a China, responsabilizando esse país pela pandemia nos Estados Unidos e sustenta que Biden seria fraco diante do superpoder asiático, tem negócios e até um escritório empresarial nesse país mesmo durante o tempo em que estava em campanha em 2016, inclusive uma conta bancária nunca antes conhecida, reportou em exclusiva o New York Times.

Enquanto isso, seu íntimo amigo e advogado pessoal, Rudy Giuliani, aparecerá na tela em uma situação algo incômoda, reclinado sobre uma cama e metendo a mão nas suas calças para aparentemente tocar seus genitais diante de uma jovem que pretende ser uma repórter. Na cena filmada, de repente a porta se abre e aparece o ator Sacha Baron Cohen em seu papel de Borat, dizendo que ela é sua filha (não o é) e diz a Giuliani: “tem 15 anos, é muito velha para você”. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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