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Com a entrada dos novos países, o Brics representa agora 27% da economia e 42% da população mundiais (Foto: Rafa Neddermeyer / BRICS Brasil)

Em ascensão contínua, Brics é o principal opositor ao imperialismo dos EUA

O Brics é o fenômeno mais importante do século 21 e chegou para ficar, tornando-se um polo de atração para todo o Sul Global

Emir Sader
Página 12
Buenos Aires

Tradução:

Ana Corbisier

O ataque dos Estados Unidos ao Irã retoma uma forma tradicional de agir do imperialismo estadunidense. Basta que um país represente, a seus olhos, um risco potencial, para que ele atue de forma direta e brutal para eliminar esse suposto risco.

Ao final da Guerra Fria, com o desaparecimento da URSS, os Estados Unidos acreditaram que se iniciava um novo período histórico, semelhante ao que a Inglaterra liderou durante 70 anos no século 19. Um mundo unipolar, com uma única potência hegemônica: os Estados Unidos.

A ilusão não durou muito. Logo, os Estados Unidos tiveram que compreender que o mundo era diferente, que não reinariam sozinhos. China, a própria Rússia e outras potências emergentes povoaram o mundo, impedindo essa hegemonia única com a qual o país do Norte sonhava.

Até agora, o fenômeno mais importante do século 21 é o Brics. Agrupam, pela primeira vez, uma aliança estratégica entre Rússia e China, entre o poder político e militar da Rússia e o poder econômico da China.

A essa aliança se somaram potências emergentes como Brasil, África do Sul e Índia. A participação do Brasil já era particularmente significativa, pois era o único país do continente com governos antineoliberais.

Logo se somaram ao grupo outros países, como a Arábia Saudita e outras nações produtoras de petróleo. Além deles, há uma longa lista de países que desejam se unir ao Brics.

Poderia o Brics ser uma alternativa ao capitalismo?

O Brics criou o Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai e presidido por Dilma Rousseff, e o Acordo de Reserva Contingente. O Banco apoia projetos por meio de empréstimos e outras formas de apoio.

Entre 2003 e 2007, o crescimento dos países Brics representou 65% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Em 2010, o PIB combinado dos cinco países Brics chegou a 18% do PIB mundial. Em paridade de poder de compra, chegou a 25%.

Em 2013, o PIB do Brics já superava o dos Estados Unidos ou da União Europeia. Em 2017, seu PIB representava 50% do crescimento econômico mundial. Com a entrada dos novos países, o Brics representa agora 27% da economia e 42% da população mundiais.

Esse é o panorama global na primeira metade do século, com uma tendência que provavelmente se estenderá ao longo do século 21. Soma-se a isso a tendência de enfraquecimento do imperialismo estadunidense. Hoje, os Estados Unidos ainda são a maior potência econômica do mundo, mas tecnologicamente já foram superados pela China.

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Há vários anos, a sensação característica dos Estados Unidos de que as novas gerações viveriam melhor do que as anteriores foi deixada de lado. Uma sensação de decadência apodera-se da imagem atual dos Estados Unidos. As bombas-relógio da desastrosa administração Trump tendem a consolidar essa tendência.

Além disso, os aliados históricos dos Estados Unidos também sofrem os efeitos da nova correlação de forças em escala global. A Europa está atravessada por forças de direita e ultradireita, rompendo com o consenso social-democrata das décadas anteriores. O Japão, por sua vez, já não está mais na vanguarda das inovações tecnológicas, superado pela China.

O certo é que o Brics chegou para ficar. Reúne cada vez mais países, tornou-se um polo de atração para todo o Sul Global e é, sem dúvida, o maior opisitor ao poder imperialista estadunidense em declínio no século 21.

Páginas | 12, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Emir Sader Sociólogo e cientista político brasileiro.

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