Pesquisar
Pesquisar
Divulgação

Em dois dias, ofensiva russa faz Ucrânia perder 30% do controle de Kursk; negociações seguem

Kremlin intensifica ataques para expulsar tropas ucranianas de Kursk antes de 9 de maio, data simbólica para a Rússia, enquanto Washington retoma o fornecimento de inteligência a Kiev em meio às negociações diplomáticas
Juan Pablo Duch
La Jornada

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Enquanto Moscou e Kiev negociam com Washington os termos de um acordo favorável a seus interesses, as informações que concentraram a atenção no último fim de semana vieram dos campos de batalha. No entanto, não da região ucraniana de Donietsk, mas da região russa de Kursk.

O Ministério da Defesa da Rússia relatou “avanços significativos” no sábado e no domingo em Kursk, região onde, entre 2 e 9 de março, o território sob controle ucraniano foi reduzido de 407 para 289 quilômetros quadrados. Em outras palavras, ainda resta menos de um terço da área que chegou a ser ocupada a partir da incursão-surpresa de agosto do ano passado, segundo dados oficiais russos.

Desde dezembro, a ofensiva russa em Donietsk começou a perder força e não conseguiu atingir seu principal objetivo: a tomada de Pokrovsk, obstáculo até agora intransponível na rota para o grande conglomerado urbano de Kramatorsk-Sloviansk, uma das zonas industriais mais bem protegidas pelo Exército ucraniano.

No decorrer deste ano, após contra-ataques ucranianos que obrigaram os russos a perderem território em Toretsk e Kupiansk, na região de Donietsk, os dados dos projetos que analisam imagens de inteligência abertas, como o ucraniano Deep State, indicam que o Estado-Maior do Exército russo ordenou a transferência de parte das tropas da frente de Donietsk para Kursk.

Mudança de foco

Comenta-se que essa mudança de foco na estratégia bélica se deve a uma ordem do Kremlin para expulsar os soldados ucranianos de seu território antes de 9 de maio, data de grande simbolismo para os russos por marcar os 80 anos da vitória sobre o nazismo na Segunda Guerra Mundial. Caso isso não seja alcançado, pelo menos se buscaria retirar de Kiev a possibilidade de usar um eventual intercâmbio de territórios como trunfo antes do início das negociações com a Ucrânia.

No último fim de semana – já- com uma correlação de forças de 10 mil ucranianos frente a 50 mil russos, segundo a imprensa ucraniana – o ministério russo de Defesa informou a recuperação de quatro localidades, entre outras, Lebedka, situada a sete quilômetros da cidade de Sudzha. Isso levou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a demonstrar otimismo nesta segunda-feira (10) em relação à “inevitável expulsão dos ocupantes ucranianos” do território russo.

Chasiv Yar: por que região é estratégica para avanço da Rússia sobre Donetsk?

“Não há prazos definidos. Nossos militares fazem todo o possível para limpar nossa terra o quanto antes, e não temos dúvidas de que assim será”, afirmou Peskov em sua entrevista coletiva diária. Por sua vez, o comandante em chefe do Exército ucraniano, Oleksander Syrskyi, negou que suas tropas em Kursk estejam em risco de cerco, mas admitiu que se veem obrigadas a recuar.

“Até o momento, não há perigo de ficarmos cercados. Nossos soldados tomam medidas oportunas para se posicionarem em locais de defesa mais favoráveis”, escreveu o general ucraniano em suas redes sociais, ao informar que instruiu o reforço das unidades em Kursk.

Ucrânia minimiza a importância

Syrskyi minimizou a importância da tomada de várias localidades pelas tropas russas em Kursk ao afirmar que esses lugares “praticamente não existem, pois foram arrasados pela artilharia inimiga”, sem especificar quais eram. A imprensa ucraniana também comentou o fracassado ataque de dezenas de soldados das unidades especiais russas que tentaram penetrar na retaguarda ucraniana em Sudzha através de um gasoduto abandonado. No entanto, a missão terminou antes mesmo de começar, pois os soldados foram alvejados por intenso fogo de artilharia e drones assim que emergiram na superfície.

Não se sabe se os ucranianos obtiveram informações sobre o plano por meio de um espião infiltrado nas trincheiras russas ou se detectaram os movimentos dos soldados dentro do gasoduto com a ajuda dos serviços secretos dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump reconheceu nesta segunda (10) que Washington “já quase restabeleceu o fornecimento de inteligência para a Ucrânia”. Steve Witkoff, enviado presidencial dos Estados Unidos para o Oriente Médio e integrante da equipe que viajará a Yeda, declarou à rede de televisão Fox que “os EUA não suspenderam a entrega de inteligência à Ucrânia para certos fins defensivos”.

Com “mensagem de paz”, Zelensky pede desculpas e dá presente a Trump; entenda

Nos últimos dias, Mikola Bieleskov e outros analistas militares, tanto da Ucrânia =quanto da Rússia, avaliam que a situação das unidades ucranianas em Kursk se tornou crítica diante das tentativas do Exército russo de cortar as rotas de abastecimento logístico das tropas ucranianas, especialmente a estrada que liga o território ucraniano a Sudzha, sob constante bombardeio de artilharia. “A situação em Kursk é muito difícil e pode se tornar um desastre se não agirmos com urgência para manter as rotas logísticas abertas”, admitiu o blogueiro ucraniano Bohdan Myroshnykov.

Enquanto isso, o especialista russo Nikolai Mitrojin, exilado na Alemanha, classificou como um erro a permanência das tropas ucranianas em Kursk e defendeu que a decisão mais sensata seria realocá-las em solo ucraniano.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

LEIA tAMBÉM

18nov2024---equipes-de-resgate-trabalham-apos-ataque-em-odessa-na-ucrania-1731935990303_v2_900x506
Cessar-fogo na Ucrânia: entenda as razões de Putin para hesitar em aceitar a proposta
Putin minimiza bravatas de Trump Duvido que tome decisões prejudiciais à economia dos EUA
Putin minimiza bravatas de Trump: "Duvido que tome decisões prejudiciais à economia dos EUA"
Ataque de Israel à ONU renderia chuva de sanções, mas tudo podem os aliados de Washington
Ataque de Israel à ONU renderia chuva de sanções, mas tudo podem os aliados de Washington
Ucrânia acumula perdas de território e está cercada pela Rússia em Donbass
Ucrânia acumula perdas de território e está cercada pela Rússia em Donbass