Pesquisar
Pesquisar

Em um Brasil sem rumo, Covid 19 ou PIB 0%… quem nos matará primeiro?

A situação, em muitos países, é de guerra paralisante. Prenunciam um PIB negativo para a China. Se isso ocorrer, acarretará numa derrubada do PIB dos países ocidentais
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O superministro Paulo Guedes, da economia, está superlativamente perdido. Tudo o que diz respeito à sua cartilha já foi tentado e o processo continua andando para trás. Se digo processo é porque refiro-me ao processo integral de desenvolvimento do país, ou seja, desenvolvimento cultural, social e crescimento econômico. Por ser sistêmica, a crise é sociopolítica, é profunda. Por ser profunda, agravará a miséria e a morte das pessoas.

A liberação de R$ 147,3 bilhões, anunciada para ajudar a enfrentar a crise, vai desaparecer na voragem dos ministérios sem rumo e sem recurso. Já os R$ 3,1 bilhões para o Bolsa Família, com a reinclusão de um 1,2 milhão de pessoas que haviam sido excluídas já não terá o efeito esperado de ativar o consumo. Não vai nem repor as perdas pela inflação. O mesmo vale para os R$ 21,5 milhões a serem liberados do FGTS. Ainda assim é positivo, porque em muitos casos vai aplacar a fome e em outros pagar dívidas, ajudar o filho ou a filha desempregada. 

Tudo o que anunciaram até o momento são cosméticos, uma camada de um verniz que com a primeira tempestade some. É como a questão das enchentes. Há 500 anos chove e enche nos mesmos lugares antes ocupados por rios e córregos. Todas as administrações, todos os anos, gastam bilhões na tentativa de conter as águas, inutilmente. 

O Brasil já estava em recessão durante esta última década e em um cenário não tão ruim da economia global que crescia em uma média pouco superior a 2%. Agora é a economia global que está entrando em recessão. Veja bem: está entrando, o que significa que a coisa é progressiva, ou seja, começa hoje e se agrava nos próximos anos.

A situação, em muitos países, é de guerra paralisante. Prenunciam um PIB negativo para a China. Se isso ocorrer, acarretará numa derrubada do PIB dos países ocidentais

Pixels
Tudo o que anunciaram até o momento são cosméticos

Em resumo: a situação da economia global vai piorar

Por quantos anos? Sou analista, não adivinho. Quanto tempo levaram para sair da crise mundial de 2008? Para alguns economistas, a crise que se arrastou nestes dois decênios ainda é extensão daquela. O fato novo surgiu agora com a guerra bacteriológica, seguida da crise do preço do petróleo. Ambas fizeram despencar todas as bolsas.

Contudo, no Brasil, onde reina a mais absoluta incompetência entre os gestores da economia, será por décadas. Mesmo mudando de rumos.

Mudar de rumo é necessário para diminuir o sofrimento dos 90% da população excluída. Manter o rumo é agravar o abismo entre a riqueza e a pobreza. Como sintoma dessa crise sociopolítica, as enfermidades endêmicas, como dengue, sarampo, malária ou até mesmo gripe já estão matando mais que o coronavírus.

Belize, Costa Rica, El Salvador, México e Nicarágua notificaram três vezes mais casos de dengue do que no ano anterior, segundo a OPAS. Enquanto outros países, como Brasil, Guatemala, Honduras e República Dominicana, os casos de dengue subiram entre sete a dez vezes mais em relação a 2018.

A quebradeira será geral no momento em que se imponha uma emergência sanitária impedindo as pessoas de trabalhar, fazer comprar, viver a rotina do dia-a-dia de trabalho. Os especuladores e os oportunistas vão ganhar mais dinheiro explorando miséria dos outros. Uma boa pergunta: quem está comprando as ações nesse momento em que batem o recorde de baixa?

Interessante que havia previsão de melhora do PIB mundial para este ano de 2020. Foi jogada pra baixo com um simples espirro da China provocado pelo coronavírus. A expectativa de provável dinamização da economia global tinha como fundamento o fim da guerra comercial que os Estados Unidos declararam contra ao país asiático.

Porém, não conformados com a derrota sofrida nesta guerra comercial, tudo indica que os Estados Unidos resolveram fazer uma guerra biológica para travar o desenvolvimento da China — só que travou o desenvolvimento do mundo ocidental sob sua hegemonia.

Nesse cenário, na maioria dos países da órbita do dólar, os Bancos Centrais estão liberando recursos para ativar a economia dirigindo esses recursos para o setor produtivo e formação de ativos públicos.

Aqui no Brasil o processo de desindustrialização e desnacionalização borrou com essa possibilidade. Os poucos ativos que ainda restam estão à venda pra fazer caixa para o Executivo pagar as contas e enriquecer ainda mais os gestores da economia. Praticamente já não há mais ativos nacionais, estão todos em mãos estrangeiras.

Isso explica os bilhões de dólares que desde o início de fevereiro todas as semanas são desinvestidos e enviados para os países de origem ou seus paraísos fiscais. Para as transnacionais, a questão social é unicamente encarada como estorvo. Não se importam nem minimamente com o que possa acontecer com as pessoas. Veja o exemplo da Ford, que fechou uma fábrica em São Paulo, colocando milhares no desemprego, sem dar satisfação alguma.

A situação, em muitos países, é de guerra…. guerra paralisante. Prenunciam um PIB negativo para a China. Se ocorrer isso acarretará em uma derrubada do PIB dos países ocidentais, exponencialmente. Um ponto a menos no PIB chinês, dois pontos ou mais a menos nos EUA e no Brasil.

Vizinhos fecham as fronteiras e isolam o Brasil

Até domingo, eram 150 mil pessoas afetadas e 4.389 mortos em todo o mundo, 31 nos EUA. Nas quatro primeiras semanas de 2020, foram registrados 125.514 casos. Na China estão fechando os hospitais. Acabou-se a emergência. Não há mais perigo.

Praticamente todos os países de Nossa América adotaram medidas de emergência para proteger suas populações da pandemia provocada pelo coronavírus. 

Os Estados Unidos, onde é menor a preocupação com a questão da saúde, sofrerão, no entanto, impacto econômico que talvez seja o maior de sua história, mergulhando o país em grave recessão. Lá, o sujeito não sabe se é portador do novo coronavírus porque não tem dinheiro para pagar o exame de laboratório. A partir do momento em que o vírus se disseminar, vai morrer gente em penca. 

Igual caminho, ou seja, o da recessão e profunda crise social, seguirá o Brasil, onde um governo de ocupação de absoluta incompetência está paralisado diante dos dois fenômenos que preocupam a humanidade na atual conjuntura: a Covid-19, doença causada pelo coronavírus, e a paralisação econômica.

Em artigo publicado no jornal londrino The Independent, o economista Omar Hassan alerta que 

o perigo econômico do coronavírus é exponencialmente maior do que os riscos à saúde pública. Se o vírus afetar diretamente a sua vida, o mais provável é que seja obrigando você a parar de ir ao trabalho, forçando seu empregador a torná-lo supérfluo ou falindo seus negócios.

Os trilhões de dólares varridos dos mercados financeiros na semana passada serão apenas o começo, se os nossos governos não intervirem. E, se o presidente Trump continuar tropeçando ao lidar com a situação, isso poderá afetar suas chances de reeleição. Joe Biden, em particular, identificou a Covid-19 como uma fraqueza de Trump, prometendo uma liderança ‘constante e tranquilizadora’ durante esta hora de necessidade dos EUA.

A guerra de preços do petróleo desencadeada pela Arábia Saudita com a intenção de castigar a Rússia vai afetar mais gravemente os Estados Unidos e seus aliados  do que a Rússia e a China. Um tiro que saiu pela culatra, mas que agravou ainda mais o fio tênue da economia mundial sob a hegemonia do dólar, com risco de falência geral.

Situação na América Latina

É notório que o número de contaminados pelo vírus se multiplica exponencialmente nos países das Américas. Em praticamente todos estão sendo adotadas medidas de emergência, como se em guerra estivessem, para proteger a população. A única exceção é o Brasil.

Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia fecharam as fronteiras e suspenderam as aulas e atividades que requerem concentração de gente. O Uruguai ativou um plano de emergência sanitária e o Paraguai restringiu a circulação de pessoas e veículos e fechou as fronteiras. A Bolívia também adotou um plano de emergência nacional. As pessoas que chegam do exterior são levadas a fazer um juramento de que não são portadoras do coronavírus.

Equador, Peru e Colômbia decretaram emergência de saúde em todo o território, proibindo as concentrações de gente, portanto, aulas e, inclusive cultos nas igrejas e disputas esportivas. O Peru decretou emergência econômica e o governo se dispôs a liberar recursos para ajudar pequenas empresas e a população mais pobre. A situação é de guerra declarada, com o fechamento das fronteiras.

A Colômbia adotou emergência sanitária, o que dá ao presidente autoridade para adotar medidas sem consultar o Legislativo. Fechada a fronteira com Venezuela e proibido o ingresso de estrangeiro procedente da Europa. A situação se complica no país com as entidades sindicais chamando uma greve geral contra as políticas do governo para o dia 25 de março.

No Chile, onde a situação é mais grave, de 75 casos de infectados pelo coronavírus, passou para 155 nesta segunda-feira (16). As pessoas que chegam com sintomas ficam em quarentena. Aulas e disputas esportivas estão suspensas.

A Venezuela, com a ajuda de Cuba, está tentando cortar a cadeia de transmissão do vírus. As pessoas com sintomas de Covid-19 são colocadas em quarentena.

O Panamá fechou as fronteiras, restringiu a circulação e fechou o comércio. Quem chega da Europa fica em observação e, se tem sintoma, fica em quarentena.

Na Costa Rica, foi decretada emergência e o fechamento das escolas. Na Nicarágua, onde até agora nenhum caso registrado, quem chega no país por qualquer meio é colocado numa Câmara Térmica para medir a temperatura. 

Honduras e Guatemala fecharam as fronteiras

Alguém, no México, gritou com grande acerto: Esta é a terceira Guerra Mundial! O governo informa que está tudo sob controle e confirma 52 casos sob cuidados médicos.

No Caribe, sete dos países do Caricom estão afetados.

Porto Rico está em estado de emergência sanitária e poderá decretar estado de sítio, com utilização do Exército.

El Salvador, livre de contaminação, está adotando medidas para proteger a população de risco (idosos) e está comprando quantidades de Interferon Alpha 2B de Cuba.

Em Cuba, já foram confirmados sete casos de afetados pelo coronavírus. As pessoas que chegam, passam por rigoroso controle médico e foram adotadas medidas de segurança nos balneários para manter o fluxo normal do turismo.

Comuna

Pois é…. agora temos um comuna-vírus. Li em algum lugar matéria com o título, Comunistas invadem a Itália! Referia-se à chegada de UTIs e pessoal técnico enviados pela China para aplacar a grave crise sanitária que afeta o país europeu. Ao mesmo tempo, está chegando médicos cubanos e o Interferon, antiviral que está ajudando no tratamento dos infectados na China e outros países.

Paulo Cannabrava Filho é editor de Diálogos do Sul

Veja também


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

LEIA tAMBÉM

Com Trump, EUA vão retomar política de pressão máxima contra Cuba, diz analista político
Com Trump, EUA vão retomar política de "pressão máxima" contra Cuba, diz analista político
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Apec Peru China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Apec no Peru: China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha (4)
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha