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A unidade como prática política em tempos de contra ofensiva imperial
Laura V. Mor.*
Unidade foi a palavra de ordem e a prática do Encontro Internacional de Solidariedade transcorrido na cidade de La Habana, Cuba. Como todos os nós, na comemoração do Dia Internacional do Trabalhador, com multitudinários desfiles populares por todas as partes da ilha de Cuba, em torno de 1.200 representantes sindicais e de organizações, partidos e movimentos sociais dos cinco continentes se reuniram no Palácio de Convenções, num evento organizado pela Central de Trabalhadores de Cuba – CTC.
Ulises Guilarte de Nacimiento, secretário geral da CTC e membro do bureau político do Partido Comunista de Cuba, falou sobre a situação mundial do proletariado, enfatizando o crescimento do trabalho informal e a precarização dos trabalhadores.
A vice ministra de Relações Exteriores de Cuba, Ana Teresita González Fraga, em sua apresentação sobre a atualização da política externa de Cuba afirmou que “a decisão do país é continuar dando combate pelo levantamento do bloqueio”; esclarecendo que “as medidas executivas anunciadas pelo presidente Obama para modificar aspectos da aplicação do bloqueio foram positivas mas ainda insuficientes”, mostrando que a perseguição sistemática contra as transações internacionais cubanas e a necessidade de realizar essas operações financeiras através de um terceiro país, com aumento dos custos que essa situação gera à nação cubana.
É necessário recordar – como bem enunciou a vice ministra, que se bem Cuba e Estados Unidos avançaram em suas relações no âmbito diplomático; não ocorreu o mesmo no âmbito econômico devida a manutenção do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos em 1962, nem no âmbito político estratégico devido à manutenção da usurpação do território de Guantánamo, a existência de transmissões ilegais de rádio e televisão contra a Revolução Cubana –denunciada por Cuba na ONU-, a ingerência e tentativa de intervir nos assuntos internos do país através do financiamento à contrarrevolução interna. Se bem em 12 de janeiro deste ano foi firmado um Acordo Migratório entre ambos os países que colocou fim à política de Pés Secos-Pés Molhados e ao programa de cooptação de pessoal médico, como as principais causas da imigração descontrolada, insegura e ilegal. A Lei de Ajuste Cubano se mantém vigente, assim como “o trabalho subversivo como prioridade da política externa de Estados Unidos com relação a Cuba”.
O evento contou com um painel internacional em que representantes da Argentina, Brasil e Venezuela realizaram uma análise da situação política, social e econômica em que se encontra cada um desses países, como parte de uma ameaça geral à integração, estabilidade e unidade alcançada na região durante os últimos anos.
Gladys Hernández Pedraza, pesquisadora do Centro de Investigação da Economia Mundial (CIEM) defendeu a necessidade da unidade popular como “principal garantia” diante da “polarização crescente da classe média nas grandes economias desenvolvidas da região latino-americana: .
“Venho de um país que é o contrário desta ilha da dignidade. Ali há um governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos”, afirmou Carlos Aznárez, diretor de Resumen Latinoamericano, al discorrer sobre a atual situação política, econômica e social da Argentina sob a presidência de Mauricio Macri, que definiu como “capitalismo selvagem e não só neoliberalismo”. Aznárez denunciou a intenção de instalarem três bases militares nas zonas estratégicas do território argentino: em Missiones, sobre o aquífero Guarani, principal reserva de água doce da região; em Jujuy, onde existe grande quantidade de reservas de lítio e na Tierra del Fuego, extremo sul do país, zona vital para o controle geopolítico da região. Também alertou sobre dois decretos em que Mauricio Macri colocou as reservas naturais do país como garantia de pagamento da dívida externa. “Mais entreguismo que isto, impossível”, sentenciou sintetizando a grave situação que afeta Argentina.
Em outro momento de sua intervenção informou que há 250 mil desempregados e milhares de demitidos no país, em que lutam os funcionários públicos, os professores e outras categorias. Acrescentou que, “como essas receitas sempre acabam com repressão, o governo compra armas em EUA e Israel, e também mantém presos políticos como Milagro Sala, Agustín Santillán e outros, além de processos contra dirigentes sociais como Lito Borello, Luis D’elía e Luis Bordón.
A referir-se às tentativas de golpe de Estado e desestabilização da República Bolivariana da Venezuela patrocinada por Estados Unidos através da OEA e seu secretário geral Luis Almagro e o apoio irrestrito do governo de Macri às ingerências da OEA, o diretor de Resumen Latinoamericano afirmou que “Venezuela é MERCOSUL, Bolívia é MERCOSUL, independente das feitorias idealizadas por Macri”, deixando evidente a distância entre os líderes populares e o atual governo. “Não há fim de um ciclo, houve luta, há luta e haverá luta. O exemplo disso é Cuba”, foi a mensagem alentadora para os movimentos progressistas e de esquerda da região.
Carlos Fermin, representante da União Socialista de Trabalhadores da Venezuela, afirmou, em contraposição com Argentina, que em seu país “não há presos políticos, mas políticos presos”. Denunciou a intenção de globalizar midiaticamente a situação pontual de alguns Estados venezuelanos. Fermín afirmou que a intenção de implantar o terrorismo nas ruas do país não é generalizado, mas só em zonas monopolizadas pela direita, que representam um 10% do total do território do país. Diante da guerra econômica e midiática contra a Revolução Bolivariana, tanto da direita nacional como a transnacional, “há um povo decidido a não renunciar”.
O apoio à Revolução Bolivariana foi tema constante das intervenções, tanto dos integrantes dos painéis como dos que assistiram ao evento, pois, como enunciou a vice ministra González Fraga, “a estabilidade na Venezuela é vital para a região”.
Divanilton Pereyra, vice presidente da Central de Trabalhadores do Brasil, também denunciou a ofensiva neoliberal no ataque aos processos soberanos da região. Pereyra fez um apelo a que se continue com a integração latino-americana e para que se reforce os mecanismos como da Alba, Celac e Unasul.
Durante o painel se colocou em evidência a importância da utilização de novos espaços digitais de comunicação para travar o combate à desinformação e manipulação dos meios hegemônicos de informação.
Fernando González Llort, herói da República de Cuba e presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap) saudou e agradeceu o movimento de solidariedade para com a luta por sua libertação e de seus irmão presentes no recinto, Antonio Guerrero e Ramón Labañino, e de René González, mundialmente conhecidos como Los Cinco, que permaneceram durante 16 longos anos nos cárceres estadunidenses por tentarem desarticular ações terroristas contra o povo cubano. “A luta por nossa libertação é um exemplo do que se pode alcançar com unidade”.
Fernando enfatizou a necessidade de redirecionar a solidariedade com Cuba, concentrando no levantamento definitivo do bloqueio e a devolução do território ilegalmente ocupado com a base naval de EUA em Guantánamo, Afirmou também que “hoje é de vital importância a solidariedade com o povo e a Revolução Bolivariana da Venezuela”.
Como bem enfatizou Graciela Ramírez, coordenadora do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos, “este é o momento de aprender desta Revolução (referindo-se ao processo revolucionário cubano), que com muito pouco pode tudo”.
*Da correspondente de Resumen Latinoamericano em Cuba