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ToggleA ultradireita europeia, que agrupa desde os neofranquistas espanhóis do partido político Vox até os neonazistas do Alternativa para Alemanha, lançou em Madri, no último sábado (8), a seguinte declaração: “somos o futuro”; a partir de hoje se “inicia o caminho para a Reconquista” e o retorno aos “valores tradicionais” da “família normal” – de “homem e mulher” –, assim como a expulsão fulminante dos migrantes “ilegais” da Europa.
Todos olharam com orgulho para os Estados Unidos após a chegada de Donald Trump ao poder, a quem chamaram de “amigo” e “companheiro de armas”, e do qual copiaram seu lema de campanha para guiar sua reunião: “Façamos a Europa grande outra vez”. No hotel Auditorium, em Madri, reuniram-se os líderes dos Patriotas pela Europa, que aglutina partidos ultradireitistas e conta com 86 eurodeputados, dos 720 que compõem o Parlamento Europeu.
O líder do Vox, Santiago Abascal, preside o agrupamento, embora seu partido na Espanha não supere 14%, muito atrás do Partido Popular (PP) e do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE) que, respectivamente, continuam ocupando o primeiro e o segundo lugar em número de votos e cadeiras.
Cerca de 3 mil participantes, a maioria militantes de base do Vox, respondiam com vaias ou assobios a cada crítica à “agenda verde”, à “ideologia progressista”, à Corte Penal Internacional ou à chegada de migrantes indocumentados ao continente, e com aplausos entusiasmados quando eram mencionados a “motosserra de Javier Milei”, os “decretos de Donald Trump” ou as chamadas para “limpar as ruas” de “imigrantes ilegais” e “defender as fronteiras”.
Trump, a “Reconquista” e o “futuro da Europa”
Todos os líderes repetiram pelo menos três mensagens, que aparentemente orientam sua estratégia política: “se inicia a Reconquista”, “defender a liberdade” frente à “ideologia progressista” e “somos o futuro da Europa”. Além disso, lembraram seu atual guia internacional: Donald Trump. Martin Helme, da Estônia, pediu para “defender nossa civilização ocidental e destruir todas as mensagens da esquerda para recuperar nossos países e nossa normalidade”.
A grega Afroditi Latinopoulou declarou: “Na Europa, prevalece o descontrole total de nossas fronteiras devido à migração irregular, que condena nossa segurança e nossa integridade. A eleição de Donald Trump é o início de uma nova era de ouro para o Ocidente, e não vamos desperdiçá-la (…) precisamos defender nossas fronteiras de todos os inimigos e que nossas tradições sejam respeitadas”.
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O tcheco Petr Macinka afirmou que “a Europa foi um continente belo e forte, mas hoje está em decadência, com uma autodestruição causada pela agenda da esquerda. A diáspora massiva de indocumentados, fomentada por Bruxelas, está nos levando à paralisia do sistema e à destruição”.
E acrescentou: “Com a chegada ao poder de Donald Trump, o mundo foi contagiado por uma dinâmica vencedora, e eu fui testemunha de vê-lo a apenas 40 metros de distância, de ver como o presidente Trump está mudando o mundo com ordens executivas. Somente os patriotas podem fazer a Europa grande outra vez”.
“Sim, faremos a Europa grande outra vez”
O neerlandês Geert Wilders advertiu, eufórico: “Assim como o presidente Trump anuncia uma nova era de ouro para os Estados Unidos, nós precisamos nos perguntar se estamos preparados para fazer o mesmo na Europa. E a resposta é sim, e faremos a Europa grande outra vez. Não esqueçamos que Trump é nosso irmão de armas”.
O vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, agradeceu o apoio dos líderes e militantes ultradireitistas “durante o julgamento por ter bloqueado o desembarque de indocumentados na Itália”, no qual, segundo ele, “finalmente vencemos Pedro Sánchez e a Open Arms” (organização não governamental de Badalona cuja principal missão é resgatar do mar aqueles que tentam chegar à Europa).
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A francesa Marine Le Pen afirmou: “Estávamos certos em 2019, quando nos recusamos a cumprir o mandato quase religioso do Pacto Verde Europeu, e quando rejeitamos o projeto de substituição demográfica programada da Europa. Fomos nós que estivemos certos ao não querer reduzir o continente a um grande mercado, mas sim considerar nossa visão de uma comunidade histórica civilizatória”.
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, declarou: “a invasão de indocumentados não é uma teoria da conspiração, é pura prática. É hora de buscar novas teorias conspiratórias, porque todas são verdadeiras. Na Hungria, apoiamos as famílias húngaras em vez dos migrantes sem documentos, e todos os poderes do Estado têm a obrigação de defender a cultura cristã”.
Venezuela, um alvo preferencial
Santiago Abascal encerrou o evento convidando o outro grande grupo europeu de extrema-direita, o dos Conservadores e Reformistas Europeus, a somar forças para “transformar a Europa” na mesma sintonia que Trump está fazendo nos Estados Unidos. E reiterou a ameaça: “Somos o futuro”.
Além disso, a primeira mensagem gravada emitida durante o evento foi a da líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, que pediu aos presentes que sigam com “seus esforços e ações” para alcançar uma “transição ordenada” em seu país.
Milei: o sicário do imperialismo estadunidense na América Latina
“A Venezuela é hoje a maior ameaça que o Ocidente enfrenta em nosso continente. É o hub do crime organizado e o assentamento seguro dos inimigos da democracia no mundo”, alegou Machado: “Vamos tirar este regime do poder”.
Também da América Latina, e em mensagem gravada, o mandatário da Argentina, Javier Milei, disse: “Sigam lutando pelas ideias da liberdade. Viva a liberdade, caralho!”.
Conservadores, reformistas e a ausência de Meloni
Os “trumpistas” mais acérrimos da extrema-direita europeia, com a exceção da neofascista italiana Giorgia Meloni, em 7 e 8 de fevereiro em Madri a convite do Vox, a formação política neofranquista cujo líder, Santiago Abascal, foi um dos convidados especiais de Donald Trump para sua posse.
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Giorgia Meloni não compareceu ao encontro porque seu partido pertence a outro grupo dentro da União Europeia (UE), o dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), enquanto o Patriotas pela Europa incorporou às suas fileiras a formação Alternativa para a Alemanha (AfD), repudiada pela maioria dos partidos políticos europeus por suas ideias nostálgicas do nazismo e por suas mensagens xenófobas e racistas.
A reunião em Madri teve seu primeiro conclave em segredo e a portas fechadas, com o objetivo de abordar temas que vão desde o Pacto Verde até a imigração ilegal, passando pelas guerras em curso para “ter uma posição comum”, além, é claro, de demonstrar seu apoio a Donald Trump em suas primeiras decisões de governo.
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De fato, um dos objetivos do encontro é aumentar sua influência e poder nas instituições europeias. Atualmente, as forças de extrema-direita, entre Patriotas, ECR e Europa das Nações Soberanas, somam um total de 191 deputados. Comparados aos grupos hegemônicos – o Partido Popular Europeu (188) e o Grupo Socialista (136) -, uma eventual união desses grupos de extrema-direita poderia torná-los a maior bancada do Parlamento Europeu. Esse é um dos objetivos do encontro em Madri, além, é claro, de demonstrar seu apoio incondicional a Donald Trump.
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