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Tania Malheiros: “O debate nuclear precisa sair das gavetas e chegar ao povo” (Imagem ilustrativa: ArtPhoto_studio / Freepik)

“Energia nuclear no Brasil é caixa-preta com cheiro de radiação e abandono”, afirma Tania Malheiros

Jornalista e especialista no tema, Tania denuncia o silêncio histórico sobre contaminações, cobra indenizações às vítimas de Orquima e alerta para os riscos ambientais no setor nuclear brasileiro

George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul Global
Taboão da Serra

Tradução:

“A energia nuclear no Brasil é uma caixa-preta com cheiro de radiação e abandono”, afirma a jornalista Tania Malheiros, referência nacional na cobertura da política nuclear brasileira. Com décadas de investigação sobre acidentes, programas secretos e negligência estatal, Tania traçou um panorama crítico e detalhado do setor durante sua participação no Dialogando com Paulo Cannabrava desta terça-feira (1º).

Entre as denúncias feitas pela comunicadora, há o esquecimento histórico das vítimas de Orquima, primeira unidade nuclear brasileira, onde operários foram expostos sem proteção a material radioativo na década de 1950. “Eles levavam a roupa contaminada para casa e contaminavam suas famílias. Até hoje, os sobreviventes lutam na justiça por indenização”, afirma. Segundo ela, o governo age como se esperasse “todos morrerem para não pagar a dívida”.

Tania critica ainda o mito da “soberania tecnológica” do Brasil no setor nuclear. Embora o país tenha urânio e capacidade técnica, ela revela que o combustível extraído em Caetité (BA) é enviado à Rússia para enriquecimento antes de voltar ao país. “Falta investimento e decisão política. Sem isso, não existe independência.”

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A jornalista também alerta para os riscos da usina de Angra 3, que já consumiu bilhões e está longe de ser concluída. “É uma novela. O governo não sabe se termina ou enterra. Enquanto isso, as piscinas de rejeito de Angra 1 e 2 estarão abarrotadas até 2028, e ninguém quer abrigar o lixo radioativo.”

Apesar das críticas, Tania reconhece o valor da energia nuclear para a medicina. Ela defende a conclusão do reator multipropósito em São Paulo, que poderia tornar o Brasil autossuficiente na produção de radioisótopos usados no tratamento do câncer. “É isso que pode transformar a energia nuclear em algo a serviço da vida, não da destruição.”

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Ela encerra destacando os profissionais da área: “São heróis. Mesmo com greves, falta de recursos e ameaças, evitam acidentes. Sem eles, já teríamos tragédias.” E faz um apelo: “O debate nuclear precisa sair das gavetas e chegar ao povo. Porque quem paga a conta — e os riscos — somos todos nós.”

A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul Global. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

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