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Mark Zuckerberg (Foto: Anthony Quintano / Flickr)

Entenda: nova política de Zuckerberg ataca soberania de países e protege ódio nas redes da Meta

Medidas anunciadas nesta terça-feira (7) colocam Mark Zuckerberg ao lado de expoentes da extrema-direita global como Elon Musk e são reflexo do novo governo dos EUA, agora sob Trump
Renata Mielli
Carta Capital
São Paulo (SP)

Tradução:

Não demorou mais do que 24 horas após a certificação da vitória de Trump pelo Congresso americano para que Mark Zuckerberg anunciasse mudanças nas políticas da Meta.

Em um vídeo publicado na manhã desta terça-feira 7, ele afirmou que a Meta vai “restaurar a liberdade de expressão” e “acabar com a escalada de censura” que vinha sendo imposta por governos na Europa, Ásia, América e até mesmo pelo governo estadunidense.

Zuckerberg foi explícito ao afirmar que o apoio do governo Trump será decisivo para que sua companhia corrija a rota de suas políticas, de modo que a missão messiânica de suas criações seja cumprida – dar “voz” às pessoas. “Vamos trabalhar com o presidente Trump para pressionar os governos ao redor do mundo que estão impondo mais censura às plataformas”, declarou.

Mais uma vez, o argumento da liberdade de expressão é usado como cortina de fumaça para defender o modelo de negócios das plataformas e uma visão ultraliberal que protege discursos de ódio, misoginia, racismo e negacionismos – fatores que têm impulsionado a ascensão da extrema-direita no mundo.

Zuckerberg assume explicitamente sua posição política no novo contexto internacional, elevando o tom ao atacar a soberania de países e se sentindo “protegido” pela nova política do governo estadunidense, que fortalece Elon Musk e outros expoentes da extrema-direita mais agressiva.

Tudo isso em nome da liberdade de expressão. Mas será mesmo?

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Zuckerberg anunciou cinco medidas que serão implementadas primeiro nos Estados Unidos e, em seguida, em outros países. Abaixo, cada medida é detalhada com uma breve análise.

1) Acabar com a política de checagem de fatos e instaurar notificações da comunidade

Para Zuckerberg, as checagens de fatos possuem viés político e restringem a pluralidade de visões nas plataformas. Ele ataca explicitamente os meios de comunicação, mostrando que a Meta inicia uma nova fase de contra-ataque diante das críticas sobre a circulação de desinformação, fake news e discurso de ódio.

Esse argumento é grave porque reforça uma visão de deslegitimação da atividade jornalística, atacando veículos de comunicação e empobrecendo a circulação de informações minimamente verificadas e tratadas profissionalmente – práticas que, mesmo passíveis de questionamento, têm bases justificadas e públicas.

No lugar disso, Zuckerberg pretende empoderar as vozes da comunidade, que poderão notificar a plataforma sobre quaisquer conteúdos, movidas por interesses políticos e econômicos pouco transparentes, sem supervisão social.

2) Simplificação da política de conteúdos e fim das restrições para temas como imigração e gênero

Embora o argumento possa parecer correto, é fundamental lembrar que a liberdade de expressão não é um direito absoluto e não se sobrepõe a outros direitos. Moderar conteúdos que exaltam genocídios, celebram mortes de mulheres e crianças, ou promovem supremacia racial e homofobia é essencial. O mesmo se aplica a conteúdos que atentam contra a saúde pública, como tratamentos “alternativos” para a Covid-19.

A proposta de simplificação das políticas de conteúdo é uma cortina de fumaça para frear conquistas legislativas que buscam limitar a circulação desse tipo de conteúdo.

Na prática, isso representa um ataque às iniciativas nacionais de regulação, como as tentativas de aprovação do PL 2630/2020 no Brasil.

3) Nova abordagem para reduzir os erros dos sistemas complexos de moderação

Zuckerberg argumenta que filtros automatizados estão removendo conteúdos legítimos e propõe acabar com a censura. Contudo, o problema não reside na existência dos filtros, mas na falta de transparência sobre a moderação. Não há clareza sobre as intervenções feitas, os parâmetros dos algoritmos ou mecanismos de contestação. Além disso, a ausência de repositórios públicos dificulta a auditoria e apaga partes importantes do debate público.

4) Retomar “conteúdos cívicos” na plataforma

Zuckerberg anunciou o retorno de conteúdos políticos à plataforma, exemplificando com o processo eleitoral norte-americano. “Estamos entrando em uma nova era”, disse.

Essa nova era, alinhada aos valores ultraliberais e autoritários da extrema-direita, reforça que as plataformas não são politicamente neutras. A mensagem de Zuckerberg, menos de 24 horas após a confirmação da eleição de Trump, explicita essa posição.

 5) Mudança da sede de trabalho dos times de conteúdo e moderação

Zuckerberg justificou que, ao ampliar a liberdade de expressão, o ideal é que sua equipe esteja em locais menos suscetíveis a vieses. Não é coincidência que a equipe migre da Califórnia, governada por democratas, para o Texas, de governança republicana.

Essa decisão marca o início de uma contra-ofensiva das Big Techs contra regulações e tentativas de ampliar a agência da sociedade sobre o debate público fragmentado pela arquitetura e design das plataformas, cuja moderação do fluxo informacional é cada vez mais dependente de modelos de inteligência artificial.

Estamos vivenciando uma fase do capitalismo em que a democracia e suas instituições são vistas como entraves ao acúmulo de capital. Trump, Musk e Zuckerberg são os três cavaleiros deste apocalipse informacional.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Renata Mielli

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