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Governador da Valência, Carlos Mazón, e presidente do Governo Espanhol, Pedro Sánchez (Foto: La Moncloa)

Entidades denunciam governos de Valência e Espanha por homicídio culposo durante enchentes

Grupos destacam que omissão e atuação falha durante temporal em Valência, por parte tanto da administração de Sánchez quanto de Mazón, levou à morte de inocentes
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Duas instituições apresentaram denúncias criminais contra os governos da Espanha e de Valência pela gestão da emergência do temporal DANA (Depressão Isolada em Níveis Altos). Elas os acusam de omissão de atuação, homicídio culposo e prevaricação. Nas ruas, manifestantes vaiam e chamam o presidente valenciano, Carlos Mazón, de “assassino”. Até a presente data, o saldo é de 230 mortos e centenas de milhares de afetados.

A Associação Europeia de Cidadãos contra a Corrupção (AECC) apresentou a denúncia contra ambos os governos no Tribunal Supremo, destacando a “nefasta gestão na DANA, que não apenas causou a destruição total das infraestruturas, mas também a morte de cidadãos e crianças inocentes por falta de previsão e omissão de socorro, sendo que muitas vítimas poderiam ter sido evitadas”. Além disso, alertam que “tanto o governo central quanto o autônomo não estiveram à altura das circunstâncias”, razão pela qual foram denunciados por supostos delitos de “omissão de atuação, homicídio culposo grave, lesões, omissão de socorro, prevaricação por omissão e denegação de auxílio”.

O partido político Iustitia Europa também apresentou ao Tribunal Superior de Justiça da Comunidade Valenciana uma denúncia contra as administrações de Mazón e de Sánchez, por supostos crimes de omissão de dever de socorro, prevaricação por omissão, homicídio culposo e lesões, e apontou a responsabilidade que recairia sobre a vice-presidente terceira do governo espanhol e ministra de Transição Ecológica, Teresa Ribera, sob cuja jurisdição está a gestão de represas, barrancos e açudes, que supostamente contribuíram para o desastre natural.

Na causa, advertem que a Confederação Hidrográfica do Júcar, órgão autônomo ligado ao ministério presidido por Ribera, “tem a responsabilidade de planejamento e gestão dos recursos hídricos na bacia do Júcar, incluindo a prevenção e gestão de riscos de inundações”. Por isso — alertam — “a inação de Ribera agravou uma situação de alto risco, descumprindo as obrigações impostas por seu cargo e expondo a população a perigos evitáveis”.

Toda a cadeia de comando responsável por ativar o alerta está sob investigação; caso tivesse sido acionada a tempo, poderia ter colocado a população afetada em alerta máximo. Os principais apontados nesta série de falhas são o presidente Mazón, que estava em um almoço quando o comitê de crise se reuniu, e sua conselheira de Interior, Salomé Pradas. O grau de descontentamento social é tal que, durante uma visita de Mazón à localidade de Torrent, uma das mais afetadas, ele foi recebido com vaias e gritos de “assassino”, precisamente acusando-o de não ter ativado o alerta de segurança a tempo.

O mandatário regional disse: “é preciso admitir que podem ter sido cometidos erros, e fazer isso com humildade. Revisamos as ações daqueles dias com todos os múltiplos avisos dados até o alerta final, com base nas informações do governo da Espanha sobre o risco de ruptura da represa de Forata. Todos somos obrigados a reconsiderar, especialmente, não ter dado mais atenção ao arroio do Poyo, que não é competência nem estrita, nem exclusiva da Generalitat, e ter ficado mais atentos a Forata, que felizmente não se rompeu”.

Acusados de omissão, mandatários de Valência ignoram manifestação que exigiu renúncia

Enquanto isso, o governo espanhol aprovou uma nova série de medidas para ajudar os afetados e à recuperação da área, com um desembolso inicial de mais de 14 bilhões de euros. O presidente Sánchez anunciou o plano com uma mensagem de defesa dos serviços públicos para enfrentar desastres graves como este: “O Estado somos todos nós, e todos juntos vamos atuar”, assegurou.

Em alguns lugares devastados pelas chuvas, a atividade cotidiana está sendo retomada pouco a pouco, como em Chiva, localidade em que as aulas nas escolas foram retomadas nesta terça-feira (12). Em outros, como Paiporta e Bennetusser, a reabertura das escolas ocorreu de forma escalonada, em função do estado das instalações. O serviço de trem de alta velocidade entre Madri e Valência volta a circular nesta quinta-feira.

Enquanto isso, em várias regiões do norte e leste do país, foi ativado o alerta ante a iminente chegada de uma nova DANA, que afetará sobretudo as Ilhas Baleares, a Catalunha e a província de Castellón.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.

Espanha: negligência de autoridades direitistas em Valência agravou danos da enchente


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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