Desde a Nakba de 1948, o povo palestino nunca deixou de resistir às tentativas de desenraizamento, apagamento e expulsão, mantendo sua identidade nacional e seu direito à pátria. A Nakba marcou o início de uma tragédia monumental cujos capítulos persistem até hoje, enquanto o “Dilúvio de Al-Aqsa”, em outubro de 2023, representou uma nova etapa da luta, refletindo a profundidade dos desafios, mas também revelando as renovadas energias combativas de nosso povo. Entre a Nakba e o Dilúvio, a unidade nacional às vezes foi a chave para conquistas e, outras vezes, sua ausência causou retrocessos.
O momento atual impôs desafios sem precedentes, não apenas no campo militar, mas também aprofundando a crise política palestina, o que trouxe de volta a pergunta fundamental: o que os palestinos precisam hoje? Como transformar este momento revolucionário em um verdadeiro ponto de partida para um projeto libertador inclusivo?
O “Dilúvio de Al-Aqsa”, apesar das reações regionais e internacionais que suscitou, expôs claramente a profundidade do impasse político palestino. A continuidade da divisão entre os movimentos Fatah e Hamas e a separação entre as autoridades de Ramallah e Gaza só favorecem a ocupação. Como pode um povo ocupado travar uma luta pela libertação sob uma liderança dividida e linhas de orientação contraditórias?
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Neste contexto, as palavras do mártir Ghassan Kanafani são particularmente relevantes: “A questão nunca foi sobre cinzas, mas sobre o ser humano que deve arder para que as cinzas não se tornem a questão.” Essas palavras confrontam nossa dolorosa realidade, onde a divisão em si tornou-se a ‘questão’, marginalizando a verdadeira causa: a questão da liberdade e do retorno. Assim, encerrar a divisão e reunificar a liderança política tornaram-se necessidades nacionais urgentes.
Nosso povo aspira a uma liderança nacional unificada, que acredite na unidade da terra e do povo, baseada em um programa de luta libertador e não em projetos fracassados de negociações ou divisão de poder sob ocupação. O ponto de partida é reconstruir a Organização para a Libertação da Palestina sobre bases democráticas, garantindo a representação inclusiva e recuperando seu papel como representante legítimo e exclusivo de nosso povo dentro e fora da pátria.
Como disse Mahmoud Darwish: “Este mar me ensinou a amar a pátria… e a não confiar nos governantes.” Os governantes, nesse contexto, não são apenas os ocupantes, mas também aqueles que se impuseram no poder às custas da pátria e do interesse público. O sangue dos mártires e seus sacrifícios não foram oferecidos para justificar o governo sobre o povo, mas para libertá-lo e garantir seu direito à autodeterminação.
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A resistência, conforme praticada por nosso povo, não é exclusiva de um partido ou grupo, mas uma ação nacional coletiva. Gaza demonstrou, durante o ‘Dilúvio’, que o espírito de resistência ainda pulsa forte, mas precisa de um ambiente político unificado e de coordenação organizada no terreno, transformando a ação resistente em um projeto libertador completo.
Diz o poeta Samih Al-Qasim: “Eu não te amo, ó morte, mas também não te temo.” Essa frase reflete a alma do palestino, que não teme morrer por sua dignidade e pátria, mas deseja uma vida livre em uma pátria libertada.
Contudo, como palavras não substituem ações, esta fase exige passos ousados para reconstruir o projeto nacional palestino em bases sólidas. Entre esses passos, destacam-se:
- Convocar um diálogo nacional inclusivo e sem pré-condições, envolvendo todas as forças e partidos.
- Ativar o quadro provisório de liderança da Organização para a Libertação da Palestina como etapa rumo à renovação de sua estrutura representativa.
- Cessar imediatamente a coordenação de segurança e adotar uma estratégia de resistência abrangente em todos os campos.
- Formar uma liderança unificada para a resistência popular na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém.
- Preparar eleições democráticas gerais, renovando a legitimidade política e nacional.
Recuperar a bússola nacional só é possível por meio de uma resistência unificada e abrangente, uma verdadeira parceria política e um caminho democrático que expresse a vontade do povo. Como afirmou Emile Habibi: “Ninguém negocia à sombra da árvore, mas sobre suas raízes.” Nossas raízes estão fincadas profundamente na terra, não em mapas fragmentados, nem em autoridades temporárias.
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Elevemos a voz da pátria acima de todas as divisões e avancemos rumo a uma unidade que encerre a Nakba em vez de administrá-la. Chegou o momento da unidade, não como slogan, mas como o único caminho para escapar de uma Nakba permanente.
Edição de texto: Alexandre Rocha