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Luisa González defende uma aliança estratégica com os países fronteiriços da América Latina para o combate ao narcotráfico (Foto: Reprodução / Facebook)

Equador: Luisa González disputa 2º turno sob risco de vida, com novo apoio e líder nas pesquisas

Luisa finalizou campanha reforçando compromisso com restaurar o bem viver, enquanto Noboa aposta na militarização e em alianças com forças estrangeiras para se manter no poder
Caio Teixeira
ComunicaSul
São Paulo (SP)

Tradução:

A candidata a presidente do Equador, Luisa González, do Revolução Cidadã (RC), partido do ex-presidente Rafael Correa, reúne em torno de si as principais forças do progressismo no país e lidera as principais pesquisas para o segundo turno, que acontece neste domingo (13). Ela concorre contra o herdeiro da família mais rica do país, com fortuna histórica lastreada em grandes negócios com os EUA, Daniel Noboa. O oligarca é o atual presidente, eleito há um ano e meio para um mandato-tampão, após a renúncia por insustentabilidade política de seu antecessor, o banqueiro, também de direita, Guillermo Lasso.

Neste curto mandato, Noboa elaborou um tratado de “ajuda” com os Estados Unidos, com a justificativa de conter o narcotráfico. O tratado rasga a soberania nacional, concedendo total autonomia de ação, no Equador, a agentes, militares e equipamentos de guerra estadunidenses, incluindo navios, aviões e uso indiscriminado de bases militares nacionais.

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O ataque à soberania chega ao absurdo de que, se hipoteticamente uma mulher equatoriana for estuprada por um soldado estadunidense, o estuprador será julgado nos EUA, pelas leis estadunidenses e não pelo Judiciário e pelas leis equatorianas. Por enquanto, o tratado de subordinação foi barrado pela oposição no legislativo, mas não está enterrado.

Com 52,6% das intenções de voto contra 47,4% de Noboa, como indicam as pesquisas pré-eleitorais, Luisa defende a unidade da sociedade que representa sua candidatura. Seu programa é salvar o país do caos econômico fruto de oito anos de governos neoliberais alinhados aos interesses estadunidenses e da violência decorrente da intensificação dramática do crime organizado nesse período.

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Segundo a rede alemã de televisão Deutche Welle, nos primeiros dois meses de 2025, o país registrou mais de 1.300 assassinatos — que correspondem a um aumento exorbitante de 40% desde 2023, quando Noboa assumiu. Vale lembrar que, “de acordo com o último relatório do think tank estadunidense InSight Crime, o país é um dos mais importantes centros do tráfico de drogas da América do Sul”.

Eleições no Equador 2025: confira as últimas notícias.

Noboa anuncia “aliança estratégica” com a Blackwatter

O Equador tem o mais alto índice percentual de assassinatos da América Latina, proporcionalmente à população. A solução apontada pelo candidato de extrema-direita seria os EUA reconhecerem como terroristas os grupos de crime organizado e enviarem tropas para combater no Equador. Em março, Noboa anunciou uma “aliança estratégica” com a empresa de segurança privada estadunidense Blackwater, conhecida por ser uma espécie de Exército privado bem treinado que executa tarefas de desestabilização pelo mundo a serviço do governo dos EUA, os mercenários.

Luisa Gonzales encerra campanha com comício lotado na cidade de Guayaquil (Foto: Reprodução)

Luisa González, cujo partido ajudou a barrar o projeto de intervenção militar estadunidense de Noboa no Congresso, defende o crescimento econômico, com a geração de emprego e renda, e o uso de inteligência policial e militar, ao contrário da luta armada, para combater o narcotráfico. Seu compromisso é restaurar a sociedade de bem viver (bien vivir), iniciada nos governos de Rafael Correa. Ao mesmo tempo, defende uma aliança estratégica com os países fronteiriços da América Latina, que também enfrentam o tráfico internacional organizado de drogas na região.

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No encerramento em Guayaquil, a Unidade da Pátria

No comício de encerramento da campanha em Guayaquil nesta quinta-feira (10), Luisa saudou a unidade inédita alcançada na campanha deste segundo turno, com uma amplitude jamais vista. “Nós conseguimos a unidade, mas não somente a unidade da esquerda. A direita também se uniu, em outras palavras, para a unidade da Pátria, pela Pátria e para dezoito milhões de equatorianos”, declarou a líder oposicionista, anunciando a adesão de Jan Topic à campanha.

Topic, que se gaba de ter lutado como voluntário pela Ucrânia é dono de uma grande empresa privada de segurança e foi candidato a presidente na última eleição, mas não passou para o segundo turno. Desta vez, ele não está concorrendo, pois foi considerado inelegível pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A autoridade eleitoral considerou que “suas empresas não conseguiam desvincular-se de maneira adequada dos contratos com o Estado e continua sendo ele o beneficiário final das empresas envolvidas”.

A candidata progressista destacou que a liberdade que defende começa por um emprego digno, incluindo a Previdência Social, e se estende ao direito de expressar-se, reunir-se e mobilizar-se sem medo e acrescentou que “recuperar essa liberdade implica garantir saúde, educação, oportunidades e caminhos em condições dignas diante de um Estado que tem negado até o mais básico para viver com dignidade”.

A adesão de Topic provocou desconfiança em parcelas da esquerda. “No momento, a imagem dele atrairá eleitores a favor de Luisa, e isso é o que se espera politicamente”, analisa o Doutor em História Contemporânea Juan Paz y Miño Cepeda, editor do site Historia y Presente. No entanto, prossegue ele, “essa ‘aliança’ não é totalmente bem-vista por setores da esquerda. Quanto ao futuro, ainda é cedo para dizer, pois não se sabe que papel Topic poderá desempenhar.

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De qualquer forma, em qualquer análise, não se pode perder de vista que Topic não é a ‘força’ que define o sucesso nem o projeto político e socioeconômico de Luisa González, já que ele é uma figura totalmente secundária diante do apoio que a candidata da Revolução Cidadã tem de setores como o movimento indígena, os trabalhadores e amplas camadas médias e populares”.

Ele conclui dizendo que “é essa realidade que preocupa o candidato-presidente Noboa, que fez de tudo [e continuará fazendo] para impedir a vitória de Luisa González”. Para o comitê de campanha da candidata, seria importante aproveitar a experiência de Topic em questões de segurança, área em que ele é especialista, para combater as gangues do crime organizado que transformaram o Equador no segundo país mais inseguro da América Latina.

Multidão de equatorianos partidários de Luísa se concentrou nas ruas de Guayaquil (Foto: Divulgação)

Luisa alerta correr risco de vida após retirada de sua segurança pessoal

Nesse sentido, nesta sexta-feira (11), faltando apenas dois dias para o segundo turno, Luisa Gonzales denunciou em suas redes sociais a retirada de sua segurança pessoal, feita pelo Exército, por ordem de Daniel Noboa, do ministro da Defesa e do Chefe das Forças Armadas, a quem responsabilizou por qualquer atentado contra a sua vida ou de sua família até o fim do processo eleitoral.

A preocupação de Luisa González faz o sentido se lembrarmos que há um ano e meio, na última eleição presidencial em que ela enfrentou Noboa, um candidato de direita foi assassinado a poucos dias do primeiro turno. Fernando Villavicencio, a vítima, proclamava-se anti-correísta e seus eleitores, obviamente, migraram para o outro candidato de direita. É impossível saber exatamente para onde foram esses votos, mas a ida de Daniel Noboa para o segundo turno, naquela ocasião, surpreendeu a todos, pois o mesmo não era apontado por nenhuma das pesquisas eleitorais como favorito.

Luisa exigiu, publicamente, o retorno imediato de sua segurança, agradeceu às Forças Armadas pela proteção oferecida durante a campanha e conclamou os chefes do Comando Conjunto das Forças Armadas a não permitirem que o poder político os utilize como instrumentos do medo.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Caio Teixeira

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