“Contra o que estamos lutando? Contra um candidato a presidente que usou o poder do Estado e bens públicos para fazer campanha eleitoral”, denunciou a candidata do partido Revolução Cidadã, Luisa González, em discurso emocionado para apoiadores na madrugada da última segunda-feira (10), no Equador.
De fato, há uma série de denúncias de que o candidato presidente Daniel Noboa ultrapassou os limites legais e constitucionais em sua campanha para se manter presidente. Lembrando que ele está cumprindo um mandato tampão após a renúncia de Guillermo Lasso.
Dizer que o segundo turno é uma nova eleição é senso comum. Mas, com uma diferença de cerca de 0,5% e aproximadamente 8% de votos em disputa – dos 16 candidatos, 12 tiveram menos que 1% de preferência dos eleitores, todos os gestos e símbolos fazem a diferença para o ânimo com o qual se chega na nova corrida eleitoral.
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Derrotado e vencedora
Convicto de que venceria no primeiro turno, após gastar somas incalculáveis (por falta de transparência) com compra de votos, burlar a legislação eleitoral e usar o cargo público em seu benefício, Noboa saiu derrotado. Seus apoiadores deixaram o hotel onde comemorariam a vitória sem que o candidato fizesse qualquer pronunciamento.
Do outro lado, Luisa González e seus apoiadores permaneceram até tarde e saíram do pleito com um sentimento de vitória. Não apenas por quase vencer o primeiro turno (apesar da descrença de muitos, entre os quais me incluo), mas também por superar o chamado teto histórico do correísmo.
Desde 2009, essa é a terceira maior votação da Revolução Cidadã, ficando atrás apenas dos resultados de 2009 e 2013, ambos alcançados por Rafael Correa. Foi a melhor votação dos últimos dez anos em um primeiro turno e, considerando que o terceiro colocado é Leonidas Iza, do movimento Pachakutik, com quem González compartilha pontos de agenda, é possível afirmar que ela ainda não atingiu seu teto eleitoral.
Além disso, González declarou estar disposta a buscar alianças com o centro político. “Já nos reunimos com um partido de centro, o Centro Democrático. Também convocamos a indústria, a sociedade civil organizada e todos que queiram somar forças pela pátria. O Equador será reconstruído por todos”, declarou.
Em seu discurso, González destacou suas propostas, afirmando que sua prioridade será construir a paz com base na justiça social e implementar uma política firme contra quem promove a violência. Segundo ela, o ódio e a divisão social agravaram problemas como o aumento da criminalidade, o desemprego e o abandono dos serviços essenciais. “O ódio nos levou à falta de medicamentos nos hospitais, ao abandono das escolas e à migração dos nossos jovens”, afirmou.
A violência crescente, tema presente em todas as análises que se fazem sobre o Equador, também foi abordada pela candidata. “Este último janeiro foi o mais violento da história do Equador. Contabilizamos tantas mortes quanto em quase todos os 12 meses de 2017”. Demonstrando empatia, ela completou: “e não são apenas números. É uma mãe que enterrou um filho. Um pai que perdeu seu filho. Um órfão sem ninguém para cuidar dele. É um irmão que morreu e uma família que definha lentamente diante da perda de um ente querido. Essa é a realidade do meu país.”
Por sua vez, Noboa “distribuiu fogões de indução e oferece bônus para jovens, prometendo um salário de 400 dólares, em troca de um registro na página do presidente Noboa como candidato. De onde vêm esses fundos? Do povo equatoriano. Ele violou toda a normativa legal, cometeu um ato ilícito ao usar recursos públicos e bens do Estado em sua campanha presidencial”, denunciou González.
“Não se pode governar um país semeando polarização e ódio. Dividir a população entre ‘nós’ e ‘eles’ é um caminho perigoso, que aprofunda feridas sociais. Um verdadeiro líder precisa buscar a união, respeitar as diferenças e trabalhar pelo bem comum. Quando se governa, é para os 18 milhões de equatorianos, sem distinção de partido político, crença ou classe social. Todos merecem direitos iguais à saúde, à educação, à segurança e à dignidade. Não podemos nos dar ao luxo de excluir ou marginalizar nenhum cidadão em nome de rivalidades ideológicas”, conclui.
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