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“A saúde não se vende, se protege”, defenderam manifestantes (Foto: UGT Madrid / X)

Espanha: 30 mil vão às ruas contra privatização da saúde articulada pela direita

Ato no último domingo (25) foi convocado por mais 100 organizações civis e políticas e denunciou a estratégia direitista de “transformar um serviço essencial em negócio”

Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Cerca de 30 mil pessoas, segundo o governo, se manifestaram neste domingo (25) no centro de Madri para denunciar a privatização da saúde pública articulada pela presidenta da comunidade autônoma, a direitista Isabel Díaz Ayuso, e o deterioramento sistemático e contínuo do atendimento à população.

O protesto foi convocado por mais de 100 organizações civis e políticas, entre elas profissionais da saúde e também partidos da esquerda madrilenha, desde a segunda força na região, Más Madrid, até o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Podemos, que atualmente não tem representação no Parlamento regional. Também se uniu à marcha representantes sindicais das Comissões Operárias (CCOO), da União Geral de Trabalhadores (UGT) e do sindicato dos profissionais da saúde Amyts.

Em torno da plataforma “Vizinhas e vizinhos de Bairros e Povos de Madri”, dezenas de milhares de pessoas, procedentes de toda a região, se concentraram no centro da capital espanhola.

Na leitura do manifesto, a cargo da jornalista Olga Rodríguez, denunciou-se uma “estratégia planejada” para “privatizar e transformar em negócio” um serviço essencial, além de uma política voltada à sua mercantilização, considerada “insustentável”.

Exigiu-se a suspensão do processo de privatização, o aumento do investimento na rede pública de hospitais e centros de saúde, a garantia da atenção pediátrica universal, o reforço das urgências extrahospitalares com pessoal médico e o fim das listas de espera. Também foi demandada a valorização das condições de trabalho do pessoal da saúde. “A saúde não se vende, se protege”, assinalaram.

Segundo os dados apresentados pela plataforma, há mais de um milhão de pessoas em lista de espera, 73% dos centros de saúde funcionam com equipes incompletas e mais de 775 mil cidadãos carecem de médico da família ou pediatra designado. A situação na atenção infantil é especialmente preocupante: mais de 80 centros apresentam uma escassez crítica de especialistas e, em alguns casos, não há atendimento no período da tarde. Soma-se a isso o fato de que conseguir consulta com um especialista pode levar mais de um ano, e o acesso à atenção médica básica em bairros populares pode demorar até um mês.

Juan Carlos Serrano, enfermeiro de urgência, tomou a palavra durante o protesto para advertir que “o governo da Comunidade de Madri deve parar de usurpar o que é público, investir no que realmente importa — a saúde pública —, e deixar de fazer manobras público-privadas para se apropriar do dinheiro dos nossos impostos”.

Trens paralisados no início de maio

No início de maio, a Espanha viveu uma jornada de caos. Apenas uma semana após o apagão massivo que deixou mais de 45 milhões de pessoas sem energia elétrica, uma série de incidentes nas vias dos trens de alta velocidade que ligam Sevilha a Madri afetou mais de 10.700 passageiros. Muitos deles tiveram que passar a noite no meio do caminho, sem comida ou água, com os vagões desligados para economizar diesel enquanto se tentava recuperar a “normalidade”. Também não foi oferecido aos passageiros transporte a um hotel próximo para pernoitar. A crise durou mais de 12 horas, e a normalidade da rede só foi restabelecida após as 16h do dia seguinte. 

As estações de Atocha, em Madri, e San Justo, em Sevilha, estavam lotadas de passageiros esperando algum sinal ou informação sobre seus trens. Muitos deles passaram a noite ao relento, aguardando que alguém da Renfe lhes informasse sobre os detalhes da situação. Os que já estavam nos trens quando o incidente foi registrado, por volta das 21h (horário local), foram informados apenas pelo pessoal de atendimento ao viajante de que teriam um atraso de “cinco, seis e até sete horas”, e que, portanto, “seria necessário suspender o serviço de luz dos trens para economizar energia”.

Viajavam famílias com crianças e idosos, e em alguns casos houve emergências médicas, como uma menina de nove anos que, durante a crise, apresentou um quadro de apendicite aguda, sendo necessário seu traslado urgente ao hospital.

O sistema ferroviário espanhol nos últimos anos tem sido fortemente criticado pelos usuários devido a constantes atrasos, problemas técnicos e o mau atendimento da empresa pública.

O ministro dos Transportes, o socialista Óscar Puente, atribuiu os atrasos massivos a um “sabotagem”: teria sido registrado um “enganchamento” de um trem da empresa italiana Iryo, que teria arrastado a catenária. A informação, porém, foi desmentida pelos responsáveis da companhia ferroviária.

Por sua vez, a empresa pública ferroviária espanhola, Renfe, informou que, durante a madrugada, houve o roubo de cabos de cobre em vias das imediações de Toledo — cabos esses que são vitais para garantir a segurança da rede.

“Os ladrões foram direto ao alvo e, se for um roubo, estamos falando de mil euros no máximo, mas os danos são terríveis. É um ato deliberado, e vamos esperar para ver se há um interesse econômico — que é mínimo — ou se há outro tipo de interesse”, afirmou o ministro Puente. Já a Guarda Civil categorizou o incidente como muito grave.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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