No fim das contas, a cada dia, cresce a lista de inimigos do regime Trump, nos EUA, e sua diversidade e inclusão oferecem um registro valioso se reformularmos o velho ditado: “Diga-me quem são seus amigos e te direi quem és”. Agora, seria: “Diga-me quem são seus inimigos para saber quem és e o que queres”.
Atualmente, essa lista inclui jornalistas não alinhados, artistas, acadêmicos, cientistas — principalmente das áreas de clima e saúde —, advogados, juízes, estudantes, professores, defensores da liberdade de expressão e dos direitos de mulheres, gays e minorias, além de quase todos os imigrantes, sejam eles indocumentados ou legais. Também estão na lista dissidentes e aqueles que ousaram questionar o atual ocupante da Casa Branca há anos, incluindo promotores, agentes do FBI e até ex-chefes do Estado-Maior.
As mensagens oficiais são explícitas: toda vez que um veículo de imprensa, juiz, advogado, manifestante, estudante ou defensor dos direitos e liberdades civis, entre outros, ousa criticar ou denunciar algo do governo, é imediatamente declarado não apenas “falso”, mas também parte de um complô da “esquerda radical”.
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E essa “esquerda radical” aparentemente está em toda parte: desde o ex-presidente Joe Biden (2021-2025) até acadêmicos e estudantes que protestam contra a cumplicidade estadunidense na guerra de Israel contra o povo palestino, passando por agências governamentais, as Forças Armadas e serviços de inteligência.
Não são apenas “esquerdistas”, mas também criminosos. Trump acusa certos veículos de notícia de cometerem “atos ilegais” – sem especificar quais – e pede que sejam investigados. Ele também não para de atacar juízes que ousam julgá-lo ou questioná-lo. No caso da deportação de venezuelanos, por exemplo, um juiz federal investiga se o Executivo desobedeceu sua ordem para suspender a remoção dos acusados. Em resposta, Trump chamou esse juiz de “um esquerdista radical lunático” e disse que ele deveria ser destituído. Agora, ordenou que o Departamento de Justiça sancione advogados e escritórios que apresentem litígios “não razoáveis” contra o governo e que investigue o comportamento de advogados defensores de imigrantes. Diante das acusações de que seu governo está violando leis, respondeu com a frase de Napoleão: “Aquele que salva seu país não viola nenhuma lei”.

Alguns especulam que Trump e sua equipe estão promovendo batidas policiais e prendendo estudantes e ativistas imigrantes – o estudante palestino Mahmoud Khalil, por exemplo, se declarou prisioneiro político. Além disso, estão demitindo promotores e agentes, ordenando o fechamento de agências federais e atacando universidades, tudo como parte de um show diário bem produzido. O objetivo seria preparar o terreno para medidas ainda mais severas, como o desmonte do Estado de bem-estar, a destruição de conquistas políticas e sociais de décadas nos direitos civis de minorias, mulheres, comunidade LGBTQIA+ e na educação, além da criação de uma máquina de repressão política contra possíveis manifestações e outros atos anti-Trump.
“Não há precedentes… É um ataque multifacetado contra praticamente todos os aspectos da sociedade civil… Não acredito que este país tenha testemunhado antes um ataque total contra os princípios básicos das liberdades civis e da governança constitucional”, resume David Cole, professor de Direito e ex-diretor jurídico da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), em entrevista à New York Review of Books. Já a historiadora Heather Cox Richardson afirma que “já estamos em um golpe de Estado” no qual se busca impor um caudilho.
Não há um só dia sem ataques contra algum “inimigo” desse regime. Agora, tudo depende de os “inimigos” conseguirem se unir para enfrentar aquilo que todos concordam ser uma ameaça à democracia. Como comentou um advogado de imigração ao saber que pessoas como ele estão na lista de inimigos do regime: “Com muita honra”.
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