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Imagem: Lorie Shaull - modificado)

“Esquerda radical” invade EUA após retorno de Trump; entenda

Esquerdistas estão por toda parte: jornais, tribunais, universidades, e são os verdadeiros inimigos da democracia. Bem, pelo menos é isso que Trump diz todos os dias...
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

No fim das contas, a cada dia, cresce a lista de inimigos do regime Trump, nos EUA, e sua diversidade e inclusão oferecem um registro valioso se reformularmos o velho ditado: “Diga-me quem são seus amigos e te direi quem és”. Agora, seria: “Diga-me quem são seus inimigos para saber quem és e o que queres”.

Atualmente, essa lista inclui jornalistas não alinhados, artistas, acadêmicos, cientistas — principalmente das áreas de clima e saúde —, advogados, juízes, estudantes, professores, defensores da liberdade de expressão e dos direitos de mulheres, gays e minorias, além de quase todos os imigrantes, sejam eles indocumentados ou legais. Também estão na lista dissidentes e aqueles que ousaram questionar o atual ocupante da Casa Branca há anos, incluindo promotores, agentes do FBI e até ex-chefes do Estado-Maior.

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As mensagens oficiais são explícitas: toda vez que um veículo de imprensa, juiz, advogado, manifestante, estudante ou defensor dos direitos e liberdades civis, entre outros, ousa criticar ou denunciar algo do governo, é imediatamente declarado não apenas “falso”, mas também parte de um complô da “esquerda radical”.

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E essa “esquerda radical” aparentemente está em toda parte: desde o ex-presidente Joe Biden (2021-2025) até acadêmicos e estudantes que protestam contra a cumplicidade estadunidense na guerra de Israel contra o povo palestino, passando por agências governamentais, as Forças Armadas e serviços de inteligência.

Não são apenas “esquerdistas”, mas também criminosos. Trump acusa certos veículos de notícia de cometerem “atos ilegais” – sem especificar quais – e pede que sejam investigados. Ele também não para de atacar juízes que ousam julgá-lo ou questioná-lo. No caso da deportação de venezuelanos, por exemplo, um juiz federal investiga se o Executivo desobedeceu sua ordem para suspender a remoção dos acusados. Em resposta, Trump chamou esse juiz de “um esquerdista radical lunático” e disse que ele deveria ser destituído. Agora, ordenou que o Departamento de Justiça sancione advogados e escritórios que apresentem litígios “não razoáveis” contra o governo e que investigue o comportamento de advogados defensores de imigrantes. Diante das acusações de que seu governo está violando leis, respondeu com a frase de Napoleão: “Aquele que salva seu país não viola nenhuma lei”.

Agora, nos EUA, não há um só dia sem ataques contra algum “inimigo” declarado pelo regime Trump (Imagem: Lorie Shaull – modificado)

Alguns especulam que Trump e sua equipe estão promovendo batidas policiais e prendendo estudantes e ativistas imigrantes – o estudante palestino Mahmoud Khalil, por exemplo, se declarou prisioneiro político. Além disso, estão demitindo promotores e agentes, ordenando o fechamento de agências federais e atacando universidades, tudo como parte de um show diário bem produzido. O objetivo seria preparar o terreno para medidas ainda mais severas, como o desmonte do Estado de bem-estar, a destruição de conquistas políticas e sociais de décadas nos direitos civis de minorias, mulheres, comunidade LGBTQIA+ e na educação, além da criação de uma máquina de repressão política contra possíveis manifestações e outros atos anti-Trump.

“Não há precedentes… É um ataque multifacetado contra praticamente todos os aspectos da sociedade civil… Não acredito que este país tenha testemunhado antes um ataque total contra os princípios básicos das liberdades civis e da governança constitucional”, resume David Cole, professor de Direito e ex-diretor jurídico da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), em entrevista à New York Review of Books. Já a historiadora Heather Cox Richardson afirma que “já estamos em um golpe de Estado” no qual se busca impor um caudilho.

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Não há um só dia sem ataques contra algum “inimigo” desse regime. Agora, tudo depende de os “inimigos” conseguirem se unir para enfrentar aquilo que todos concordam ser uma ameaça à democracia. Como comentou um advogado de imigração ao saber que pessoas como ele estão na lista de inimigos do regime: “Com muita honra”.

Marc Ribot, Steve Earle, Tift Merritt – Anti going to let them turn us around

Cat Empire – Going to Live

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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