“Eu tive câncer, meu filho teve câncer, meu cachorro teve câncer”.
Com estas palavras, uma residente da comunidade de Wilmington, dentro da cidade de Los Angeles, rodeada por cinco refinarias debaixo das quais está a terceira maior reserva de petróleo dos Estados Unidos, concluiu sua declaração em uma reunião comunitária recente e exigiu saber como um funcionário da Agência de Proteção Ambiental Federal (EPA, na sigla em inglês) pensava abordar décadas de negligência e contaminação em sua comunidade e oferecer os empregos, serviços de saúde e moradia que tanto necessitam.
Esta mulher foi uma de uns 40 residentes em Wilmington que se congregaram em uma pequena sala de eventos para uma reunião de duas horas com o funcionário da EPA, organizada por Magali Sanchez-Hall, do Movimento EMeRGE, junto com o reverendo Nelson Rabel, da igreja Luterana Sta. Maria Peregrina. O governo de Joe Biden está outorgando bilhões de dólares para assistir a comunidades locais e se comprometeu a que pelo menos 40% desses fundos sejam destinados a comunidades pobres que foram atingidas por contaminação e outros problemas ambientais.
O funcionário do EPA, usando uma apresentação em powerpoint com tipografia que era demasiado pequena para que estes jornalistas conseguissem decifrar, ofereceu um resumo “soporificamente” detalhado dos esforços e programas de sua agência dedicados a comunidades tão necessitadas e “vulneráveis” como Wilmington.
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Emmett Institute/Flickr
Alunos e professores de direito participam de um "tour tóxico" por Wilmington – 12/04/2019
Embora alguns residentes estavam quase dormindo, outros estavam decididos a não permitir que o funcionário escapasse tão facilmente. “Nossa comunidade foi devastada pela contaminação ambiental. Cinco refinarias e a contaminação dos caminhões que vão e vêm do porto (de Los Angeles). A metade da minha família está morta por câncer”, declarou Robert Santos, diretor da Organização Unida da Juventude de Wilmington. Agregou, ante o aplauso dos demais: “As agências médicas locais são cúmplices das refinarias. O que vão fazer a respeito?”.
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O professor Raúl Hinojosa-Ojeda, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, reporta que, como costuma ser o caso, esta área de 37 km² em Los Angeles é o bairro de alguns residentes mais pobres e marginalizados desta metrópole. Quase 90% dessa população se identifica como latina e quase a metade da população maior de 25 anos não terminou o ensino preparatório. O ingresso médio das famílias é a metade do ingresso da colônia muito próxima de Rancho Palos Verdes, onde as casas têm vista para o mar e Donald Trump tem um campo de golfe com seu nome.
Em uma investigação para o Departamento de Água e Força de Los Angeles, Hinojosa-Ojeda e Sánchez Hall documentaram os perigosamente altos níveis de contaminação aérea e registraram que a taxa de câncer no local é a mais alta de todo Los Angeles.
Em entrevista ao La Jornada, Hinojosa-Ojeda disse estar inspirado pela maneira com que esta comunidade tão vulnerável se uniu para demandar a mudança, algo que se manifestou ao longo da reunião comunitária. Os ativistas locais Santos e Sánchez-Hall trabalharam juntos para estabelecer uma organização comunitária que conseguiu obter três milhões de dólares em fundos federais para desenvolver programas para abordar a contaminação e começar a gerar “empregos verdes” para os residentes.
De fato, Hinojosa-Ojea e Sánchez-Hall detalharam em sua investigação como a colônia de Wilmington poderia se converter em um eixo de novos empregos baseados em tecnologia ecológica. O conselho da cidade se comprometeu que para 2035 toda a energia empregada pela cidade proverá de fontes de energia renovável.
David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
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