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EUA prometem mais armas para Ucrânia "continuar avançando" em contraofensiva falida

Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, Washington deu a Kiev 43 bilhões de dólares em armamento
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

No último dia 6, o secretário estadunidense de Estado, Antony Blinken, chegou a Kiev pela terceira vez desde que a Rússia lançou sua intervenção militar há um ano e meio, como mostra de apoio à Ucrânia. Na visita, ele anunciou a entrega do enésimo pacote de ajuda de um bilhão de dólares, o que coincidiu com um ataque da artilharia russa contra a cidade de Konstantinovka, controlada pelos ucranianos na região de Donetsk, atingindo um mercado central e causando ao menos 17 mortos e mais de 30 feridos. 

Blinken ofereceu ao presidente Volodymir Zelensky “garantia de que a Ucrânia tenha tudo o que necessita para continuar avançando em sua contraofensiva” e também para contar com “capacidades defensivas sólidas para que não voltem a ocorrer agressões” como a do mercado de Konstantinovka.

Zelensky, que qualificou a ataque contra o mercado de “insolência do mal, completa mesquinharia, absolutamente desumano”, exortou a “derrotar quanto antes a maldade russa”. 

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O chefe da diplomacia estadunidense, em entrevista coletiva, ao término de suas conversações com seu colega Dmytro Kuleba, disse que do bilhão de dólares, 665,5 milhões serão para ajuda militar e civil na área de defesa. Blinken revelou que, desde que começou a guerra, os Estados Unidos deram à Ucrânia 43 bilhões de dólares em armamento.

Por sua vez, o Pentágono (Departamento de Defesa dos Estados Unidos) divulgou que está pronto para enviar à Ucrânia uma nova seleção de assistência bélica, a de número 46 desde agosto de 2021, que inclui pela primeira vez projéteis com urânio empobrecido de 120 mm para tanques Abrams, ainda que esse tipo de blindado ainda não chegue ao exército ucraniano. 

Segundo um comunicado da dependência militar estadunidense, a Ucrânia receberá também projéteis para sistema móveis de lançamento de mísseis HIMARS e canhões calibre 150mm e 155 mm, morteiros e suas munições, mísseis antitanque, mais de três milhões de balas para fuzis automáticos, equipamento de navegação e comunicações entre outras armas por um total de 175 milhões de dólares. 

A Rada ou Parlamento ucraniano ratificou, também no dia 6, Rustem Umerov como novo ministro de Defesa. Ele é de origem tártara, minoria étnica da Criméia. Ante os deputados, Umerov sublinhou que o plano de seu ministério é “a vitória sem negociações” e prometeu fazer “todo o possível e até o impossível por libertar cada centímetro do território” da Ucrânia, incluída “a península da Criméia” incorporada à Rússia em 2014. 

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A contraofensiva ucraniana, que vai mais lenta do que pensavam há dois meses alguns analistas ocidentais não identificados pelas agências de notícias, está tendo pela primeira vez algum resultado na frente sul, na região de Zaporíjia. 

Vários dias depois de a Ucrânia ter anunciado a libertação da localidade de Rabotino, o governante em funções da parte anexada pela Rússia, Yevgueni Balitsky, reconheceu no dia 6 que “as tropas russas, por razões táticas, abandonaram esta localidade, que ficou em ruínas, para situar-se em uma posição melhor”. 

Assim, Balitsky confirmou que as tropas ucranianas romperam a primeira linha de defesa da Rússia na frente sul, a zona mais fortificada com uma profundidade entre 15 e 20 quilômetros e com extensos campos minados. Agora combatem pelo controle de Verbove, onde o mando ucraniano diz ter rompido a segunda linha de defesa, os chamados dentes de dragão (pirâmides de concreto) e trincheiras, formando uma espécie de arco, para tentar avançar alargando posições para Tokmak, importante centro de comunicações para a logística das tropas russas em Zaporiyia.

Grãos

O Serviço Europeu de Ação Exterior – uma espécie de centro que nutre de análises as respectivas diplomacias da União Europeia desde o escritório do alto representante Josep Borrel – acusou a Rússia de “exacerbar a crise de segurança alimentar global com a operação militar na Ucrânia”. O vice-ministro de Relações Exteriores, Aleksei Grushko, rebateu a acusação e disse às agências noticiosas russas que “já se alcançou, em princípio, o acordo” para pôr em marcha o projeto de fornecer um milhão de toneladas de cereais aos países mais necessitados. 

Segundo Grushko, Moscou “espera iniciar em breve os contatos com as outras partes – Turquia e Qatar – para estudar os aspectos técnicos destes fornecimentos, como são a logística, as rotas, os países de destino e seu número, assim como os aspectos do financiamento”. 

Trata-se da iniciativa trilateral que a Rússia propôs para enviar à Turquia um milhão de toneladas de cereais a preços subsidiados para moer e distribuí-los entre os países com maior risco de fome, com o dinheiro do Emirado do Golfo Pérsico.

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o se refere ao plano do Kremlin de enviar grãos gratuitamente a seis países africanos e não substitui o chamado Pacto dos Cereais, suspendido em 18 de julho passado descrito pela Turquia e pelas Nações Unidas como “única via para exportação de grãos a partir do mar Negro”. 

A Rússia espera ter este ano uma colheita recorde de cereais, perto de 130 milhões de toneladas, e quer poder exportar 60 milhões de toneladas, assim como seus fertilizantes, mas enfrenta sérias dificuldades pelas sanções dos Estados Unidos e seus aliados que bloqueiam a entrada de seu graneleiros a portos europeus – 95% das exportações russas de cereais saíam pelo mar Negro –, o que impede que suas embarcações sejam seguradas por companhias estrangeiras. Além, a desconexão dos bancos russos do sistema de transferências internacionais SWIFT fazem quase impossível os pagamentos dos contratos, entre outras barreiras que se interpõem entre os grãos e fertilizantes da Rússia.

Mais informações sobre o acordo

Os líderes da Rússia e Turquia, Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan, respectivamente, se reuniram no último dia 4 no balneário russo de Sochi, mas não puderam chegar a um acordo para retomar o pacto de cereais.

O Kremlin reforça que, salvo promessas, nada garante que se cumpram suas exigências acordadas em princípio quando se firmou o acordo em julho do ano passado em Istambul, com a mediação do país anfitrião e da ONU (Organização das Nações Unidas). 

Lavrov: Para retomar acordo de grãos, Rússia precisa de “garantias e não promessas”

E Ankara não desistiu de sua convicção de que não há alternativa para reabrir a navegação por um corredor seguro desde o mar Negro, a partir das novas propostas que a ONU propôs junto à Turquia. 

Também não se concretizou a ideia promovida por Moscou de que empresas turcas adquiram um milhão de toneladas de cereais a preços subsidiados para que, uma vez moídos os grãos, façam chegar a farinha a países que padecem de  fome, incorporando o emirado de Qatar no financiamento das operações. 

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Por enquanto, Erdogan afirmou que a Turquia está disposta a moer os grãos russos para que a farinha possa ser transportada aos países em vias de desenvolvimento.

“É claro que o trabalho conjunto com a Turquia e o Qatar não busca substituir a Iniciativa Alimentar do mar Negro (o pacto dos cereais de Istambul), há outro país (Ucrânia) que tem seus próprios interesses, o entendemos perfeitamente. Assim não queremos substituir nada, mas desde nossa parte seria uma contribuição enorme para resolver os problemas alimentares dos países africanos”, sublinhou o titular do Kremlin, Vladimir Putin.

Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, Washington deu a Kiev 43 bilhões de dólares em armamento

Foto: Reprodução/Twitter
Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, e Antony Blinken, Secretário de estado dos Estados Unidos, durante encontro em 6 de setembro

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Putin reiterou seu oferecimento de fornecer, “não obstante todos os obstáculos”, nas próximas duas ou três semanas até 300 mil toneladas de grãos grátis aos seis países com maior risco de padecer de fome, entre 25 mil e 50 mil toneladas a cada um, em alusão a Burkina Faso, Zimbabwe, Mali, Somália, a República Centro-africana e Eritréia. O líder russo assinalou ainda que a Rússia está disposta a retomar “em questão de dias” o pacto dos cereais. 

Rússia e Turquia articulam novo acordo para garantir envio de grãos a países pobres

“Não estamos contra este acordo, estamos dispostos a retomá-lo quando se cumprirem as promessas que nos fizeram, simples assim”, sublinhou o mandatário a respeito dos obstáculos que o Ocidente põe diante das exportações de grãos e fertilizantes russos.

Exigências

Cabe recordar as exigências de Moscou: reconectar seu Roszel Joz Bank, banco agrário, ao sistema de transferências internacionais SWIFT; permitir que a Rússia importe peças para reforma de maquinaria agropecuária; tirar as restrições que dificultam a logística do transporte e os seguros; restabelecer o fornecimento de amoníaco pela tubulação Togliatti-Odessa; e desbloquear na Europa os ativos das empresas russas que produzem fertilizantes. 

“Estou convencido de que poderão ser resolvidos os pontos pendentes e se restabelecerá o pacto dos cereais. Sou otimista: poderemos encontrar soluções a partir das novas gestões da ONU”, defendeu Erdogan em sua posição. 

O mandatário turco reiterou ante seu anfitrião: “Não há nenhuma alternativa sustentável, segura e duradoura à Iniciativa do mar Negro”.

Sem entendimento

Apesar de não ter sido solucionada a questão do pacto de cereais, os líderes chegaram a um acordo a respeito de outras matérias: a intenção de estabelecer um centro de distribuição de gás natural na Turquia para países da Europa, no caso de estarem interessados; a disposição de construir uma nova central atômica russa em território turco; o desejo compartilhado de impulsionar o turismo russo para as costas turcas; entre outros.

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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