Na última quinta-feira (21), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, dirigiu uma mensagem à nação russa na qual responsabilizou os EUA por terem provocado a guerra da Ucrânia, que segundo ele se converteu em “um conflito global” desde a autorização de uso de mísseis de longo alcance pela Casa Branca. Ele sublinhou que todos devem entender claramente que “é impossível infligir uma derrota estratégica” à Rússia e reiterou que o país está pronto para enfrentar “qualquer cenário”, dependendo do que Washington e seus aliados fizerem.
Ainda no discurso, transmitido ao vivo pela televisão russa, Putin destacou que, apesar das advertências de Moscou de que permitir o uso de armas de longo alcance seria cruzar mais uma linha vermelha e que isso não ficaria sem resposta, confirmou que, em 19 de novembro, a Ucrânia lançou seu primeiro ataque com foguetes norte-americanos Atacms, seguido, em 21 de novembro, de um ataque combinado com mísseis Storm Shadow britânicos, que, segundo ele, “não alcançaram seu propósito” nem causaram maiores danos.
Após insistir que a Ucrânia não tem capacidade, por si só, de operar armas ocidentais de longo alcance, Putin enfatizou que a Rússia se reserva o direito de atacar com armamentos semelhantes os países que considerarem possível atacá-la com mísseis. E, se persistirem, não hesitaria em responder de maneira assimétrica, sugerindo o uso de seu arsenal nuclear.
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O líder russo afirmou que, em resposta aos ataques dos EUA e seus aliados, a Rússia realizou ainda na quinta-feira, nas primeiras horas do dia, o teste de um novo míssil balístico de médio alcance – sem componentes hipersônicos nem ogivas nucleares – contra uma das empresas de fabricação de armas mais famosos desde a época soviética, localizado na cidade de Dnipró, que, segundo os dados divulgados por ele, foi “completamente destruído”.
Segundo Putin, o míssil testado é um dos mais modernos do arsenal nuclear russo e que seus fabricantes o batizaram de Oreshnik (que significa “mata de avelãs”, o que, desde tempos imemoriais, é associado à proteção contra todos os males).
Putin e EUA desmentem Ucrânia
Dessa forma, Putin desmentiu sua contraparte ucraniana, Volodymir Zelensky, que havia afirmado que a Rússia, ao lançar um ataque durante a madrugada contra a cidade de Dnipró, utilizou pela primeira vez na guerra um míssil intercontinental RS-26, batizado como Rubezh (marco).
No mesmo sentido foi a força aérea da Ucrânia, afirmando que a Rússia atacou Dnipró com um foguete intercontinental RS-26, um míssil balístico Kinzhal e seis mísseis de cruzeiro X-101. Os X-101 teriam sido derrubados, e os outros dois não teriam causado “grandes danos”. O prefeito de Dnipró, Boris Filatov, afirmou que, como resultado do ataque, duas pessoas ficaram feridas, uma empresa não identificada sofreu a “destruição parcial de um dos seus edifícios” e dois incêndios foram registrados.
Diante desse balanço, especialistas apontam que um possível RS-26 não teria carregado nenhuma das seis ogivas nucleares que é capaz de portar. Poderia estar equipado com uma ogiva de teste sem explosivos ou com uma carga menor. Seu tamanho – 12 metros de comprimento e cerca de 50 toneladas de peso – seria suficiente para causar, ao cair, os danos relatados por Filatov.
Sendo o Rubezh um foguete de alcance intermediário, com autonomia de no máximo 6.000 km projetado para atingir alvos na parte ocidental da Europa, não faria muito sentido usá-lo contra um alvo tão próximo quanto a Ucrânia, disparando-o de 998 quilômetros de distância, desde Astracã, entre o rio Volga e o mar Cáspio. Além disso, há opções menos custosas, como os mísseis Iskander e Kinzhal, que também podem transportar ogivas nucleares.
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Por todos esses motivos, especialistas do Pentágono – citados de forma anônima (como tem sido frequente) por vários meios de comunicação – acreditavam que a Rússia utilizou não o RS-26, mas um míssil balístico, justamente o que foi confirmado por Putin.
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