NULL
NULL
Leonardo Wexell Severo, de La Paz*
Recém lançada na Bolívia, a série de documentários “Invasão USA”, traça um mapa detalhado da ingerência imperial dos Estados Unidos no país andino, de 1920 até nossos dias. “Foram décadas e décadas marcadas pelo assalto, saque, intervenção e imposição de políticas antipopulares”, revela o jornalista argentino Mariano Vázquez, responsável pela investigação histórica.
De acordo com Mariano, que mora no país há quase três anos, a série traz à tona “a história que não existe nos livros oficiais, que apenas foi contada em pequenas doses por alguns valentes, que muitos preferiram ocultar ou ignorar e outros preferiram esquecer. Por estas razões acreditamos que constitui uma obra vital para as futuras gerações, para que não esqueçam os tempos da capitulação nacional em mãos do império”.
“Invasão USA” consta de seis capítulos e inicia com a instalação na Bolívia da toda poderosa Standard Oil Company de New Jersey, que abriu o caminho a outras transnacionais que chegaram ao país para saquear os recursos naturais sem deixar nada em troca. “Além disso, a companhia petrolífera jogou um papel ativo contra a Bolívia na Guerra do Chaco, negando todo tipo de assistência, inclusive humanitária, até o limite de colaborar com o inimigo”, descreve Mariano.
Um capítulo de especial importância no contexto das eleições do domingo (12/10) é o intitulado “Neoliberalismo e Coca Zero (1989-2003)”, período em que surge a figura de Evo Morales. O líder dos camponeses cocaleros foi figura chave contra a intervenção dos Estados Unidos no Trópico de Cochabamba quando os EUA iniciava uma guerra de baixa intensidade para a erradicação forçosa da folha de coca. Esta planta é sagrada para os indígenas andinos e reconhecida por suas propriedades medicinais. Para ser transformada em droga, a folha de coca precisa ser submetida a um complexo processo químico e o governo de Evo Morales vem combatendo o narcotráfico, com resultados reconhecidos pelas próprias agências internacionais.
A resistência no Chapare galvanizou a identidade ideológica do movimento cocalero. “Se trata, sem dúvida, da organização camponesa mais anti-imperialista do continente. O próprio Evo esteve na mira da DEA e da CIA, que colocaram em marcha planos para assassiná-lo e, assim, descabeçar os cocaleros e cortar o crescimento de sua imagem a nível nacional”, relata Mariano.
Com riqueza de detalhes, o vídeo “retrata o processo de implementação das políticas econômicas e militares desejadas e desenhadas por Washington, quando os Estados Unidos passou a controlar praticamente todos a debilitada estrutura estatal boliviana, violando de maneira flagrante a soberania da nação”, assinada Mariano.
O levante artificial dos estados da chamada “Meia lua” – Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija – é abordado com profundidade no documentário, que denuncia como os Estados Unidos agiram, por meio de seu embaixador, Phillip Goldberg, e de agências como a DEA e a USAID para a desestabilização. Após atuar na fragmentação da Iugoslávia, Goldberg vinha agindo abertamente ao lado de elementos racistas e fascistas para golpear a unidade boliviana, quando foi expulso do país. Da mesma forma como na Ucrânia, com suas suásticas e símbolos da SS, a bandeira nazista chegou a tremular nas ruas de Santa Cruz de la Sierra, com patrimônios públicos estatais sendo apedrejados pelos entreguistas.
Destacando a relevância da série, o ministro da Presidência da Bolívia, Juan Jamón Quintana, disse que “este é um produto da investigação e rigor científico, feito por jovens, para que sejam os jovens do processo de transformação, a geração Evo e as próximas, quem possam reinterpretar a história do saque e da intervenção”.
*Colaborador de Diálogos do Sul