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Exigência de Zelensky a plano de paz da África evidencia: para Ucrânia, guerra deve continuar

Grupo com líderes de países africanos visitou ambas as partes do conflito com proposta de solução
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

A missão de paz que impulsionam sete países da África continuou neste sábado (17) sua tentativa de mediação ao encontrar-se em São Petersburgo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, um dia após fazê-lo em Kiev com o mandatário da Ucrânia, Volodymir Zelensky.

A delegação africana é integrada pelo presidente da África do Sul, Ciryl RamaphosaMacky SallHakainde HichilemaAzali Assoumani, pelo atual presidente da União Africana, o primeiro-ministro do Egito, Mustafá Madbouli, o diretor do gabinete presidencial da República do Congo, Florent Ntsiba, e o enviado especial da Uganda, Ruhakana Rugunda.

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Em nome dos seus colegas, Ramaphosa reiterou em São Petersburgo os dez princípios, no julgamento dos países africanos, que devem pôr fim à guerra, dados a conhecer pela primeira vez na sexta-feira (16) na capital ucraniana. Resumidos, estes são: 

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O anfitrião, após destacar o “enfoque equilibrado” dos países africanos, declarou que a Rússia “está aberta ao diálogo com aqueles que desejem a paz baseada nos princípios de justiça e de respeito dos interesses legítimos das partes”. 

Grupo com líderes de países africanos visitou ambas as partes do conflito com proposta de solução

Reprodução/Twitter – Macky Sall, presidente do Senegal
Zelensky: “Permitir qualquer negociação com a Rússia agora, enquanto o ocupante se encontra em nossa terra, é congelar a guerra"




Fracasso das negociações de Istambul

Putin endossou à Ucrânia a culpa pelo fracasso das negociações que houve em Istambul em março de 2022, as quais, segundo ele, concluíram de modo abrupto quando a Rússia como “gesto de boa vontade” retirou as tropas que havia mandado para assaltar Kiev. 

“Já havia um rascunho de acordo. Intitula-se assim: Tratado de Neutralidade Permanente e Garantias de Segurança para a Ucrânia. Trata-se das garantis que mencionou o presidente da República da África do Sul. Dezoito artigos”, apontou o titular do Kremlin e mostrou o documento rubricado pela parte ucraniana. 

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Agregou que há vários anexos, que “se referem às forças armadas e a outros pontos. Tudo está detalhado, até as unidades de equipamento de combate e o pessoal”. 

O mandatário russo se perguntou: “Que garantias há de que não volte a se repetir? Nós não suspendemos as negociações, foram eles. E não querem negociar com a Rússia. Inclusive (o presidente) Zelensky proibiu mediante um decreto negociar conosco”. 

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Para Putin, “todos os problemas da Ucrânia começaram após o golpe de Estado, inconstitucional, armado e sangrento em 2014, um golpe apoiado por patrocinadores ocidentais. (…) E esta é a fonte de poder dos atuais governantes de Kiev: um golpe de Estado”. 

Contou aos seus interlocutores africanos que “o regime de Kiev fez repetidas tentativas de resolver o problema em Donbass pela via armada e essencialmente iniciou as hostilidades em 2014, utilizando aviões, tanques e artilharia contra estes civis. O regime de Kiev desencadeou esta guerra em 2014, e nós tínhamos direito, em virtude do artigo 51 da Carta das Nações Unidas, de ajudá-los invocando a cláusula de defesa”. 

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Putin fez referência a outros dos princípios enumerados por seu colega sul-africano: disse que a evacuação das crianças ucranianas “foi feita para salvar-lhes a vida”; afirmou que a crise alimentar não começou com a “operação militar especial” na Ucrânia, mas é o resultado da emissão injustificada de EUA e outros países para paliar seus problemas com a pandemia do coronavírus; enfatizou que não estão sendo cumpridos os compromissos do chamado pacto dos cereais e que dificultam que a Rússia entregue seus fertilizantes aos países mais necessitados, enquanto “só 3% dos cereais ucranianos chegaram na África”; indicou ainda que o intercâmbio de prisioneiros “está em marcha”. 

Após a reunião, que durou mais de três horas, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, comentou aos jornalistas da fonte que “nem todos os pontos da iniciativa africana correspondem à postura da Rússia, mas isso não quer dizer que não se deva manter o diálogo”.


A posição da Ucrânia

A delegação africana levou da capital ucraniana a impressão de que sua iniciativa de paz não contou com a aprovação do governo de Zelensky.

Não recebeu uma negativa categórica, inclusive o presidente ucraniano se disse a favor de negociar, mas formulou uma condição que torna quase impossível que se concretize: a Ucrânia não vai negociar enquanto a Rússia mantiver um só soldado em seu território. 

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“Necessitamos uma paz real e, portanto, uma retirada real das tropas da Rússia de nossas terras soberanas”, sublinhou Zelensky na versão difundida pela agência noticiosa ucraniana UNIAN.

Segundo as palavras de Zelensky, Kiev considera que não é hora de negociar com Moscou: “Permitir qualquer negociação com a Rússia agora, enquanto o ocupante se encontra em nossa terra, é congelar a guerra, congelar tudo; a dor e o sofrimento. Seria um engano que só poderia beneficiar a Rússia”. 

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À raiz de que Putin acusou a Ucrânia de suspender as negociações em março de 2022, a imprensa e as redes sociais na Ucrânia ofereceram neste sábado sua própria versão do que aconteceu em Istambul. 

Recordaram que, segundo o governo de Zelensky, as negociações se romperam quando o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, pediu para consultar com Moscou um dos anexos que acompanhavam o compromisso da Ucrânia de tornar-se país neutro, de não ingressar à aliança norte-atlântica e de não instalar bases militares estrangeiras. 

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Tratava-se do futuro da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e que a Ucrânia propunha deixar pendente para decidir dentro de 10 anos com um novo referendo organizado pelas Nações Unidas e com observadores internacionais. O Kremlin, asseveram, deu por terminadas as negociações. 

Também sustentam que o governo de Zelensky se negou a negociar com o titular do Kremlin depois dos sucessos em Bucha, que Moscou qualificou de “montagem”, e Kiev, de “massacre”.

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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