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ToggleA recente atualização de políticas da Meta, anunciada por Mark Zuckerberg, para combater a desinformação nas plataformas controladas pela empresa, foi recebida com grande ceticismo por especialistas em comunicação, jornalistas e analistas políticos.
Sob o pretexto de fortalecer a integridade das eleições e promover um ambiente digital mais seguro, a empresa afirmou que novos mecanismos seriam implementados para limitar o alcance de conteúdos falsos e maliciosos. No entanto, ao observar o histórico da Meta, o otimismo em relação a tais medidas se dissolve rapidamente.
As promessas de Zuckerberg e o ceticismo necessário
O anúncio de Zuckerberg, que deveria soar como um compromisso genuíno com a responsabilidade social, levanta mais dúvidas do que oferece soluções reais. As plataformas da Meta, como o Facebook e o Instagram, foram consistentemente criticadas por serem terrenos férteis para a disseminação de fake news e discursos de ódio. Embora a empresa tenha prometido avançar em ferramentas de inteligência artificial para moderar conteúdos, não há clareza sobre como tais ferramentas serão aplicadas em diferentes contextos culturais e linguísticos. O que vemos, historicamente, é uma abordagem reativa e tardia às crises de desinformação, como ocorreu durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos e os levantes de janeiro no Brasil.
Mais alarmante ainda é a falta de transparência sobre o real alcance e eficácia dessas medidas. O ceticismo não é apenas válido, mas essencial, pois a Meta possui um longo histórico de priorizar seus interesses comerciais em detrimento da segurança informacional. Empresas como a Meta lucram diretamente com o engajamento, e conteúdos polarizantes – muitas vezes carregados de informações falsas – continuam sendo altamente engajadores. Ao mesmo tempo, as declarações de Zuckerberg pouco abordam os desafios de fiscalizar campanhas de desinformação patrocinadas, que têm um impacto ainda mais devastador, especialmente em contextos de instabilidade política.
Especialistas apontam que a aplicação prática dessas políticas enfrenta desafios, como a complexidade cultural e linguística de países como o Brasil. Aqui, fake news são disseminadas em proporções alarmantes, como evidenciado recentemente pelo caso das fake news relacionadas às novas regras do Pix. O volume de desinformação foi tamanho que impactou diretamente a percepção pública sobre um dos métodos de pagamento mais populares do país.
Além disso, há uma preocupação crescente com a transparência das plataformas. A Meta ainda não esclareceu detalhes sobre como as mudanças serão implementadas em mercados fora dos EUA e Europa. Essa lacuna reforça a crítica de que essas políticas, muitas vezes, refletem uma visão centralizada que não dialoga com os desafios locais.
O caso brasileiro: a desinformação e o papel do Estado
O episódio envolvendo o Pix expôs as fragilidades da comunicação governamental no Brasil. A falta de um posicionamento claro e ágil para combater as fake news deixou espaço para que narrativas falsas ganhassem tração nas redes. Em um momento onde o Pix é um dos pilares da inclusão financeira, o impacto dessas notícias prejudica diretamente a confiança da população no sistema.
No entanto, o problema vai além. O Estado brasileiro ainda não conseguiu estabelecer uma estratégia consistente para lidar com desinformação em escala nacional. Embora iniciativas como a criação da Secretaria de Políticas Digitais sejam um passo na direção certa, o governo precisa adotar uma postura mais proativa, como utilizar cadeias nacionais de comunicação para esclarecer fatos rapidamente e contrabalançar narrativas falsas.
No campo legislativo, o Brasil aprovou o chamado “PL das Fake News” (Lei 14.155/2021), que responsabiliza plataformas por conteúdos publicados e impõe multas por descumprimento. Ainda assim, sua eficácia depende diretamente da fiscalização e da parceria com as grandes empresas de tecnologia.
Enquanto isso, a Meta permanece no centro das críticas pela lentidão em adaptar suas ferramentas às realidades locais, deixando um vácuo que governos e jornalistas precisam preencher.
O papel do jornalismo no combate às fake news
Se as redes sociais são um terreno fértil para desinformação, o jornalismo deve atuar como o principal antídoto. Contudo, o cenário atual apresenta contradições. Muitas redações ainda reproduzem um jornalismo declaratório, limitando-se a relatar fatos sem aprofundar análises ou oferecer contexto. Essa prática não apenas enfraquece a credibilidade da mídia como também deixa o público mais vulnerável às narrativas falsas.
O caso do Pix ilustra bem essa questão. Apesar da ampla cobertura sobre as mudanças no sistema de pagamentos, muitas matérias falharam em desmentir de forma clara e contundente os boatos disseminados nas redes. Um jornalismo comprometido com a verdade deveria ter assumido um papel educativo, explicando como o Pix funciona e desmontando as falácias com dados e especialistas.
A responsabilidade, porém, não é apenas das redações. As plataformas de checagem, que se tornaram essenciais no combate às fake news, precisam se expandir e criar métodos mais ágeis para desmentir informações falsas. Parcerias entre jornalistas, acadêmicos e empresas de tecnologia são fundamentais para construir uma rede de proteção contra desinformação.
Além disso, o público deve ser envolvido nesse processo. Campanhas educativas sobre consumo crítico de notícias são essenciais para fortalecer a resiliência da sociedade frente às fake news. Como exemplo, iniciativas de alfabetização digital podem ajudar a reduzir o impacto da desinformação em comunidades mais vulneráveis.
O que esperar de 2025
Em 2025, governos, empresas e jornalistas enfrentarão enormes desafios. As novas regras da Meta e o discurso de Zuckerberg são apenas partes de um complexo quebra-cabeça. No Brasil, onde a desinformação afeta profundamente política e economia, é urgente repensar estratégias.
O Estado deve assumir um papel ativo, utilizando todas as ferramentas para combater narrativas falsas e proteger a democracia. O jornalismo, por sua vez, precisa abandonar práticas superficiais e comprometer-se com a verdade e a educação do público. O sucesso em reduzir a desinformação dependerá da colaboração entre governos, empresas de tecnologia e a sociedade civil.
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Neste cenário, a educação midiática emerge como uma ferramenta essencial. Incentivar uma cidadania crítica e informada é vital para que o público possa discernir entre fontes confiáveis e conteúdos enganosos. Programas de capacitação que ensinem habilidades de verificação e análise da informação precisam ser incorporados aos currículos escolares e oferecidos em iniciativas comunitárias.
A colaboração entre distintos setores da sociedade deve ser fortalecida. Iniciativas que envolvem parcerias entre universidades, centros de pesquisa, organizações não governamentais e a própria população são fundamentais para criar projetos inovadores que abordem a desinformação. A pesquisa acadêmica, por exemplo, pode fornecer dados valiosos sobre o impacto da desinformação e ajudar a desenvolver soluções eficazes.