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Soldados soviéticos na ofensiva contra tropas alemãs durante a Batalha de Stalingrado, fevereiro de 1943 (Imagem: Zelma/RIA Novosti )

Fevereiro vitorioso: mês de revoluções, do Manifesto Comunista e de batalhas contra o fascismo

Fevereiro foi sempre um mês de lutas e dores, mas também o prelúdio do triunfo dos povos. Agora, na América Latina e no mundo, volta a urgência de derrotar o fascismo
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

De maneira geral, a expressão “o fevereiro vitorioso” é associada ao que ocorreu em Praga a partir de 25 de fevereiro de 1948, quando, diante da crise da democracia formal, os trabalhadores da Checoslováquia, à frente de todo o povo, apoiaram o Partido Comunista de seu país para tomar o poder e proclamar a República Socialista, que forjou um regime social novo e distinto.

Mas, na realidade, fevereiro já era um mês vitorioso. 100 anos antes, em fevereiro de 1848, foi publicado o Manifesto Comunista, elaborado por Karl Marx e Friedrich Engels. O genial documento abriu uma nova era no pensamento humano e gerou mudanças substantivas que modificaram a face do planeta, especialmente a partir do século 20.

O Manifesto abriu os olhos de milhões de trabalhadores de todos os países e apontou um caminho orientado a construir um mundo novo, livre da opressão e da exploração humana. Hoje, 177 anos após sua primeira edição, o documento mantém plena vigência. Ninguém pode duvidar de sua assertiva: “Por meio da exploração do mercado mundial, a burguesia deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países”, nos disseram seus autores, como se vivessem em nossos dias.

No lugar das antigas necessidades satisfeitas com produtos nacionais, — acrescentaram, descrevendo com impressionante precisão o que vivemos hoje — surgem novas necessidades que exigem, para sua satisfação, produtos dos países mais distantes e dos climas mais diversos”. Mas, da descrição, passaram à ação e exigiram uma mudança radical que derrubasse a sociedade capitalista decadente e abrisse um novo cenário, construído com esforço e criatividade pelos próprios trabalhadores.

Fevereiros de muitas vitórias

Foi, talvez, essa a primeira experiência do “fevereiro vitorioso”, que coincidiu, além disso, com a terceira Revolução Francesa, a de 1848, a primeira na qual a classe operária interveio com um programa próprio e objetivos definidos. E foi em 25 de fevereiro de 1917 – de acordo com o antigo Calendário Gregoriano – que se iniciou na Rússia o processo que derrubou o regime czarista e abriu caminho para a primeira Revolução Socialista da História, em outubro daquele ano.

Anos depois, em fevereiro de 1943, a Batalha de Stalingrado marcou a virada decisiva que definiu a Segunda Guerra Mundial e abriu o caminho para a vitória da URSS sobre a Alemanha Nazista. Evocando a façanha, Pablo Neruda escreveu: “Hoje, sob tuas montanhas de castigo / não só estão os teus enterrados / treme a carne dos mortos / que tocaram tua fronte, Stalingrado”. E é verdade: além do legado do sangue derramado em cada canto, está a própria vida que floresce na luta cotidiana dos povos.

Batalha de Stalingrado: como há 80 anos, democracia global impõe luta contra o fascismo

No ano seguinte, em 1944, houve outro fevereiro vitorioso. Foi marcado pelo avanço imbatível do Exército Vermelho, que libertou seu próprio solo e o território dos países amigos do Leste Europeu ocupados pela Alemanha Nazista. Naquele ano, as planícies e montanhas da Polônia, Hungria, Romênia, Checoslováquia, Bulgária, Iugoslávia e até da Áustria testemunharam a passagem de seus libertadores.

E ali também foi possível compreender a magnitude e a integridade das palavras de Ilya Ehrenburg: “Os povos são como os homens; para alguns, o destino é fácil. Encontram rapidamente sua vocação, seguem o caminho certo; o caminho de outros é complexo, sinuoso, cheio de sofrimentos…”, mas a todos os homens ilumina um fogo que os conduz à vitória.

Em fevereiro de 1945 – há 80 anos – a luta se desenrolou em solo alemão. De 4 a 11 de fevereiro, ocorreu o último encontro “dos Grandes”, a Conferência de Yalta. Nela, os aliados planejaram a ofensiva final sobre Berlim. Ali, o fascismo lutou como uma fera ferida, mas finalmente caiu derrotado.

Um a um, cada reduto da Alemanha Nazista foi derrubado. Iulián Semionov descreve essa experiência maravilhosa por meio de seu personagem fictício Max Otto von Stirlitz, o agente soviético infiltrado nas altas esferas hitlerianas.

O “lado sombrio” de outros fevereiros

No entanto, não faltaram ações vis. O bombardeio de Dresden, que causou a morte de mais de 90 mil pessoas, foi um genocídio perpetrado pelos aliados ocidentais, liderados pelos Estados Unidos. Depois, haveria outros, também obra da mesma mão: Hiroshima e Nagasaki, ambos injustificáveis.

E não foi em fevereiro, mas em abril, que a guerra terminou. Mussolini, às margens do Lago de Como, foi capturado pelos partisans comunistas e executado por ordem do Coronel Valerio. Seu corpo foi exposto na Piazzale Loreto em 30 de abril daquele ano.

Hitler e os seus tiveram seu próprio fim. Alguns tiraram a própria vida, e outros fugiram, finalmente protegidos pelo governo dos Estados Unidos. O Julgamento de Nuremberg foi o epílogo desse drama.

Em abril deste ano, se completarão 80 anos da derrota do fascismo pelas mãos do povo soviético e do Exército Vermelho. Como diz o poeta, perceberemos novamente o olhar de Stalin na neve e evocaremos a maior epopeia de que se tem memória.

O que este fevereiro guarda para nós?

Em definitivo, fevereiro, um mês de vitória, foi sempre o prelúdio do triunfo dos povos. Será esse também o nosso caso?

A América Latina também teve seus fevereiros vitoriosos: em 4 de fevereiro de 1992, Hugo Chávez levantou-se em Caracas; e anos antes, em 5 de fevereiro de 1975, detivemos no Peru as investidas do fascismo.

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Agora, em 2025, reinicia-se a luta para derrotar aqui as práticas fascistas. Muito mais cedo do que tarde, a vitória será de nosso povo.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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