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Estimados chefes de Estado e de Governo;
Personalidades proeminentes que nos acompanham;
Compatriotas que estão aqui hoje representando as províncias orientais e Camaguey;
Moradores de Santiago de Cuba;
Querido povo de Cuba:
Na tarde de hoje, após a chegada a esta cidade heroica do cortejo fúnebre com as cinzas de Fidel, que fez no sentido oposto à Caravana da Liberdade, que teve lugar em janeiro de 1959, o cortejo percorreu locais importantes de Santiago de Cuba, berço da Revolução, onde, tal como no resto do país, recebeu o testemunho de amor dos cubanos.
Amanhã, 4 de dezembro, suas cinzas serão depositadas, em uma cerimônia simples, no cemitério de Santa Ifigenia, perto do mausoléu do Herói Nacional José Martí; de seus companheiros de luta do Moncada, o iate Granma e do Exército Rebelde; da luta clandestina e das missões internacionalistas.
A poucos passos de distância estão os túmulos de Carlos Manuel de Cespedes, o pai da Nação, e da lendária Mariana Grajales mãe dos Maceo, e atrevo-me a improvisar neste ato, que também ela é mãe de todos os cubanos e cubanas. Perto também neste cemitério estão os restos de Frank País Garcia, jovem de Santiago, assassinado pelos capangas da ditadura de Batista, com apenas 22 anos, um mês depois que caísse em um combate nesta cidade seu irmão Josué. A idade de Frank não lhe impediu de acumular uma trajetória exemplar de luta contra a ditadura, na qual se destacou como chefe do levante armado de Santiago de Cuba, em 30 de novembro de 1956, em apoio ao desembarque da expedição do Granma, bem como a organização de decisivo embarque de armas e combatentes para o nascente Exército Rebelde na Serra Maestra.
Desde que se tornou conhecida, bem tarde na noite de 25 de novembro, a notícia da morte do líder histórico da Revolução Cubana, a dor e tristeza tomaram conta das pessoas que, profundamente comovidas por causa de sua perda física irreparável, mostraram firmeza, convicção patriótica, disciplina e maturidade para participar em massa das atividades de homenagem organizadas e se apropriarem do juramento de fidelidade ao conceito de Revolução, exposto por Fidel, em 1º de maio de 2000. Entre os dias 28 e 29 de novembro milhões de compatriotas botaram sua assinatura em apoio à Revolução.
Veja o vídeo:
Em meio à dor destes dias nos sentimos confortados e orgulhosos, mais uma vez, pela reação surpreendente das crianças e dos jovens cubanos, os quais reafirmaram sua vontade de ser fiéis seguidores dos ideais do líder da Revolução.
Em nome do nosso povo, o Partido, o Estado, o Governo e os familiares reitero a profunda gratidão pelas inúmeras manifestações de carinho e respeito por Fidel, por suas ideias e seu trabalho, que continuam chegando de todos os recantos do planeta.
Fiel à ética de José Marti que «toda a glória do mundo cabe em um grão de milho», o líder da Revolução rejeitou qualquer manifestação de culto da personalidade e foi consequente com essa atitude até as últimas horas de vida, insistindo em que, após ter falecido, seu nome e figura nunca fossem usados para nomear instituições, praças, parques, avenidas, ruas e outros locais públicos, nem que sejam erguidos, em sua memória, bustos, estátuas e outras formas similares de tributo.
Em correspondência com a determinação do companheiro Fidel, vamos apresentar na próxima sessão da Assembleia Nacional do Poder Popular, as propostas legislativas necessárias para sua vontade prevalecer.
Com razão, o querido amigo Abdelaziz Bouteflika, presidente da Argélia disse que Fidel tinha a extraordinária capacidade de viajar para o futuro, retornar e explicar. Em 26 de julho de 1989, na cidade de Camaguey, o comandante-em-chefe previu, com dois anos e meio de antecedência, o desaparecimento da União Soviética e do bloco socialista, e garantiu ao mundo que, caso ocorrerem essas circunstâncias, Cuba continuaria defendendo as bandeiras do socialismo.
A autoridade de Fidel e sua estreita relação com o povo foram decisivas para a heroica resistência do país, nos anos dramáticos do ‘período especial’, quando o Produto Interno Bruto caiu 34,8% e se deteriorou substancialmente a alimentação dos cubanos, sofremos apagões de 16 e até 20 horas por dia e boa parte da indústria e o transporte público ficou paralisado. No entanto, foi possível preservar a saúde pública e a educação para toda nossa população.
Vêm a minha mente as reuniões do Partido nos territórios: do Leste, na cidade de Holguín; no Central, na cidade de Santa Clara, e no Oeste, na capital da República, em Havana, realizadas em julho de 1994, para discutir como lidar com maior eficiência e coesão os desafios do ‘período especial’, o crescente bloqueio imperialista e as campanhas da mídia destinadas a espalhar o desânimo entre os cidadãos. Desses encontros, incluindo o feito em Ocidente, que presidiu Fidel, nós todos saímos convencidos de que com a força e a inteligência das massas coesas, sob a liderança do próprio Partido, nós podíamos lutar e o ‘período especial’ se poderia converter em uma nova batalha vitoriosa a história do país.
Na época, muito poucos no mundo apostaram em nossa capacidade de resistir e superar a adversidade e reforçado cerco inimigo; no entanto, nosso povo, sob a liderança de Fidel, deu uma lição inesquecível de firmeza e lealdade aos princípios da Revolução.
Ao lembrarmos aqueles momentos difíceis, eu acho justo e relevante relembrar aquilo que eu expressei sobre Fidel, em 26 de julho de 1994, um dos anos mais difíceis, na Ilha da Juventude, há 22 anos atrás, e cito: “.. o filho mais ilustre de Cuba neste século, aquele que nos mostrou que se podia tentar a conquista do quartel Moncada; sim, que se poderia transformar esse revés em vitória, a qual atingimos cinco anos, cinco meses e cinco dias depois, naquele glorioso dia 1º de janeiro de 1959”, isso último adicionado às palavras exatas que eu proferi naquela ocasião.
Ele nos demonstrou “que se podia chegar às costas de Cuba no iate Granma; que se podia resistir ao inimigo, a fome, a chuva e o frio e organizar um exército revolucionário na Serra Maestra, depois do fracasso de Alegria de Pio; que se podiam abrir novos fronts guerrilheiros na província de Oriente, com as colunas lideradas por Almeida e a nossa; sim, que se podia derrotar, com 300 fuzis, a grande ofensiva de mais de 10 mil soldados”, que após serem derrotados Che Guevara escreveu em seu diário que com esta vitória o exército da tirania acabou tendo a coluna vertebral quebrada; “Sim, que se podia repetir a ação épica de Antonio Maceo e Máximo Gómez, estendendo com as colunas de Che Guevara e Camilo Cienfuegos a luta a partir do leste para o oeste da Ilha; sim, que se podia derrubar, com o apoio do povo todo, a ditadura de Batista, apoiada pelo imperialismo norte-americano”.
“Aquele que nos ensinou que se podia derrotar em 72 horas” e ainda em menos tempo, “a invasão mercenária pela Baía dos Porcos e, ao mesmo tempo, continuar a campanha para erradicar o analfabetismo em um ano”, tal como foi alcançado em 1961.
Que se podia, sim, proclamar o caráter socialista da Revolução a 90 milhas do império, e quando os navios de guerra norte-americanos avançavam em direção a Cuba, após as tropas da brigada mercenária; que se podiam manter firmemente os princípios irrenunciáveis da nossa soberania, sem medo da chantagem nuclear dos EUA, nos dias da Crise dos Mísseis, em outubro de 1962.
“Que se podia, sim, enviar ajuda solidária a outros povos irmãos que lutavam contra a opressão colonial, a agressão externa e racismo”.
“Que podiam ser derrotados os racistas sul-africanos, salvando a integridade territorial de Angola, forçando a independência da Namíbia e desferindo um duro golpe ao regime do apartheid”.
“Que Cuba podia ser transformada em uma potência médica, reduzir a mortalidade infantil para a menor taxa no Terceiro Mundo, em primeiro lugar, e depois do outro mundo rico; porque neste continente, pelo menos, temos uma taxa de mortalidade infantil de crianças com menos de um ano de idade mais baixa que o Canadá e os próprios Estados Unidos, e, por sua vez, aumentar significativamente a expectativa de vida da nossa população”
“E que Cuba podia ser transformada em um importante centro científico, e avançar nas modernas e principais áreas da engenharia genética e da biotecnologia; inserir-nos no grupo fechado do comércio internacional de medicamentos; desenvolver o turismo, apesar do bloqueio norte-americano; construir aterros ou estradas no mar para tornar Cuba um arquipélago cada vez mais atraente, obtendo das nossas belezas naturais receitas crescentes em divisas”.
“Que se podia resistir mesmo, sobreviver e desenvolvermo-nos, sem abrir mão dos princípios e das conquistas do socialismo no mundo unipolar e de onipotência das corporações transnacionais que surgiu após o colapso do bloco socialista europeu e a desintegração da União Soviética”.
“O permanente ensinamento de Fidel é que tudo pode ser feito, que o homem é capaz de ultrapassar as condições mais difíceis, se não esmorecer sua vontade de vencer, se fizer uma avaliação correta de cada situação e não desiste dos seus princípios justos e nobres”.
Aquelas palavras que expressei há mais de duas décadas acerca de quem, depois do desastre da primeira batalha, em Alegria de Pio, da qual amanhã se completam 60 anos, nunca perdeu a fé na vitória, e que 13 dias mais tarde, já nas montanhas da serra Maestra, em 18 de dezembro do ano mencionado, quando já se tinham reunido sete fuzis e um punhado de combatentes, disse: “Agora nós vamos vencer a guerra!
Esse é o invicto Fidel que nos conclama com seu exemplo e com a demonstração de que sim, se pôde, pode ser feito e se poderá! Então, repito que ele provou que se podia, pode ser feito e que se poderá superar qualquer obstáculo, ameaça ou turbulência em nossa determinação de construir o socialismo em Cuba, ou seja, assegurar a independência e a soberania da pátria!
Diante dos restos de Fidel, na Praça da Revolução major-general Antonio Maceo Grajales, na cidade heroica de Santiago de Cuba: Vamos jurar defender a pátria e o socialismo! E todos juntos reafirmemos o julgamento do Titã de Bronze: “Quem tentar se apoderar de Cuba, só colherá o pó de seu solo alagado de sangue, se não perecer na luta!”.