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Foto: Ron Lach / Unsplash

Frei Betto | Carta aos jovens internautas: não se deixem escravizar e iludir

Não existe almoço grátis; não se iludam com a ideia de que o computador ou o celular lhes custa apenas a taxa de consumo de energia elétrica
Frei Betto
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Sei que vocês passam longas horas no computador e/ou celular, navegam a bordo de todas as ferramentas disponíveis. Não os invejo. Na sua idade, eu me iniciava na militância estudantil e injetava utopia na veia. Já tinha lido toda a obra de Monteiro Lobato e me adentrava pelas obras de Jorge Amado, guiado pelo “Capitães de areia“.

A TV não me atraía e, após o jantar, eu me juntava à turma de rua, entregue às emoções de flertes juvenis ou sentava à mesa de uma lanchonete com meus amigos para falar de Cinema Novo, bossa nova – porque tudo era novo – ou das obras de Jean Paul Sartre.

Sei que a internet é uma imensa janela para o mundo e a história, e costumo parafrasear que o Google é meu pastor, se o acessar, nenhuma informação me há de faltar…

O que me preocupa em vocês é a falta de síntese cognitiva. Ao se postarem diante do computador ou ficarem presos ao celular recebem uma avalanche de informações e imagens, como as lavas de um vulcão se precipitam sobre uma aldeia. Sem clareza do que realmente lhes interessa, não conseguem transformar informação em conhecimento e entretenimento em cultura. Vocês borboleteiam por inúmeros nichos, enquanto a mente navega à deriva qual bote sem remos jogado ao sabor das ondas.

Quanto tempo perdem percorrendo nichos de conversa fiada? Sim, é bom trocar mensagens com os amigos. Mas, no mínimo, convém ter o que dizer e perguntar. É excitante enveredar-se pelos corredores virtuais de pessoas anônimas acostumadas ao jogo do esconde-esconde.

Cuidado! Aquela garota, aquele jovem que os fascina com tanto palavreado picante talvez não passe de um velho pedófilo que, acobertado pelo anonimato, se fantasia de beldade ou um galanteador.

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Desconfiem de quem não tem o que fazer, exceto entrincheirar-se horas seguidas na digitação compulsiva à caça de incautos que se deixam ludibriar por mensagens eróticas.

Façam bom uso da internet. Usem como ferramenta de pesquisa para aprofundar seus estudos; visitem os nichos que emitem cultura; conheçam a biografia de pessoas que admiram; saibam a história do time preferido; vejam as incríveis imagens do Universo captadas pelo telescópio Hubble; ouçam sinfonias e música pop.

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Mas fiquem alertas à saúde! O uso prolongado do computador ou do celular pode causar-lhes lesão por esforço repetitivo (ler) nas mãos e torná-los sedentários, obesos, sobretudo se ao lado do teclado mantêm uma garrafa de refrigerante e um pacote de batatas fritas…

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Cuidem da vista, aumentem o corpo das letras, deixem seus olhos se distraírem periodicamente com alguma paisagem que não seja a que o monitor ou a tela do celular exibe.

E prestem atenção: não existe almoço grátis. Não se iludam com a ideia de que o computador ou o celular lhes custa apenas a taxa de consumo de energia elétrica, as mensalidades do provedor ou da operadora e do acesso à internet. O que mantém em funcionamento esta máquina na qual divulgo este artigo é a publicidade. Reparem como há anúncios por todos os cantos! São eles que bancam o Google, as notícias, a Wikipédia, etc. É a poluição consumista mordiscando o nosso inconsciente.

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Não se deixem escravizar pelo computador e o celular. Não permitam que roubem seu tempo de lazer, de ler um bom livro (de papel, não virtual), de convivência com a família e os amigos. Submeta-os à sua qualidade de vida. Saibam fazê-los funcionar apenas em determinadas horas do dia. Vençam a compulsão provocada em muitas pessoas.

E não se deixem iludir. Jamais a máquina será mais inteligente que o ser humano. Contém milhares de informações, mas nada sabe. É capaz de vencê-lo no xadrez – porque alguém semelhante a você e a mim a programou para jogar. Exibe os melhores filmes e nos permite escutar as mais emocionantes músicas, mas nunca se deliciará com o amplo cardápio que nos oferece.

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Se preferem máquinas às pessoas e as usam como refúgio de sua aversão à sociabilidade, devem procurar um médico. Porque sua autoestima está lá embaixo. Ou atingiu os píncaros e vocês acreditam que não existem pessoas à sua altura, melhor ficar sozinho.

Nas duas hipóteses vocês estão sendo canibalizados pelo computador e/ou o celular. E, aos poucos, se transformarão em seres meramente virtuais. O que não é uma virtude. Antes, é a comprovação de que já sofrem de uma doença grave: a síndrome do onanismo eletrônico.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Frei Betto Escritor, autor de “Cartas da prisão” (Companhia das Letras); “Batismo de sangue” (Rocco); e “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros 74 livros editados no Brasil, dos quais 42 também no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org. Ali os encontrará a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio.

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