Pesquisar
Pesquisar
Conclave que elevou o Papa Francisco foi breve, concluído em menos de 48 horas (Foto: Vatican News)

Frei Betto | Conclave mais longo da história durou quase 3 anos. Atual eleição pode demorar?

Escolha do papa Gregório X, em 1271, só foi finalizada quando fiéis se revoltaram com o impasse prolongado e pressionaram os cardeais a concluírem a o conclave

Frei Betto
Diálogos do Sul Global

Tradução:

Conclave, palavra que deriva do latim cum clave, significa “com chave”, uma vez que os cardeais eleitores ficam trancados no Vaticano até elegerem um novo papa.

O sistema de eleição, tal como conhecemos hoje, foi instituído em 1274, durante o Concílio de Lyon II, pelo papa Gregório X. A motivação foi o conclave que o elegeu, o mais longo da história, em Viterbo. Durou 33 meses, quase três anos (1268 a 1271). Os cardeais se dividiam entre facções políticas, partidários dos angevinos (pró-França) e dos gibelinos (pró-Sacro Império Romano-Germânico). 

Isso causou o impasse prolongado, e tanta frustração e revolta, que a população local trancou os cardeais no palácio episcopal e, no início do inverno, removeu o teto e restringiu a entrada de alimentos para forçá-los a apressar a escolha do novo pontífice. 

O eleito, Gregório X (1271-1276), criou então regras para tornar o processo mais rápido e eficiente, como isolamento dos cardeais; restrição de contato externo; redução gradual de conforto (menos refeições); exigência de maioria qualificada (2/3) para a eleição, de modo a pressionar a decisão.

A eleição dos papas já era feita por cardeais desde 1059, por iniciativa do papa Nicolau II, mas não havia um sistema fechado nem regras tão definidas. O processo podia durar meses, envolver influência externa (sobretudo de reis e imperadores) e ser bastante caótico.

O conclave mais breve da história da Igreja Católica, realizado na Capela Sistina, foi o que elegeu o cardeal Eugenio Pacelli, ex-núncio na Alemanha nazista, papa Pio XII. Durou apenas 24 horas, com três votações realizadas no mesmo dia 1º de março de 1939 por 62 cardeais.

Confira mais notícias sobre o Papa Francisco e a sucessão papal.

Outro conclave longo foi o que elegeu Celestino V. Morto Nicolau IV, em 1292, cardeais italianos e franceses fizeram do conclave arena de disputas pelo poder, movidos mais por interesses políticos que pelas luzes do Espírito Santo. Após dois anos e três meses de impasse na eleição do novo papa, Pedro Morrone, eremita italiano, de sua caverna nas montanhas enviou carta aos cardeais, instigando-os a não abusar da paciência divina. O conclave viu na carta um sinal divino e decidiu fazer do monge o novo chefe da Igreja. Pedro Morrone relutou, não queria abandonar sua vida de pobreza, solidão e silêncio, mas os prelados o convenceram de que o consenso em torno de seu nome tiraria a Igreja do impasse. 

Novo Papa, Trump, impacto global: Igreja Católica escolhe entre a obra de Francisco e o reacionarismo

Com o nome de Celestino V, tornou-se papa em agosto de 1294. Menos de quatro meses depois, a politicagem vaticana o levou ao limite de sua resistência. E levantou a pergunta inesperada: posso renunciar? O colégio cardinalício não se opôs e, numa bula histórica, Morrone justificou-se, alegando que deixava o trono de Pedro para salvar sua saúde física e espiritual. A 13 de dezembro do mesmo ano, retornou à solidão contemplativa nas montanhas. 20 anos depois, foi canonizado, exaltado como exemplo de santidade. A 19 de maio, a Igreja celebra a festa de São Pedro Celestino.

Antes de Celestino V, o papa Gregório XII renunciou em 1415 para facilitar a resolução da crise durante o Grande Cisma do Ocidente, quando três papas estiveram à frente da Igreja.

O terceiro papa a renunciar foi Bento XVI, em 2013, devido à idade avançada e falta de alento. Intelectual, Ratzinger vivia o conflito entre sua afeição à teologia e as exigências de administração da Igreja. 

Pressinto que o conclave responsável pela eleição do sucessor de Francisco não será tão rápido quanto os que elegeram Ratzinger e Bergoglio, que não ultrapassaram 48 horas. Mas sobre isso escreverei em seguida.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Frei Betto Escritor, autor de “Cartas da prisão” (Companhia das Letras); “Batismo de sangue” (Rocco); e “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros 74 livros editados no Brasil, dos quais 42 também no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org. Ali os encontrará a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio.

LEIA tAMBÉM

Tributo e gratidão série “Operação Condor” vai dedicar episódio à memória de Pepe Mujica
Tributo e gratidão: série “Operação Condor” vai dedicar episódio à memória de Pepe Mujica
Frei Betto Polarização, progressismo, legado de Francisco os desafios do papa Leão XIV (2)
Frei Betto | Polarização, progressismo, legado de Francisco: os desafios do papa Leão XIV
ChatGPT Image 9 de mai
Estética nazi: como um corte de cabelo ecoa os horrores do fascismo
Nazismo nos trópicos como Exército Vermelho impediu Hitler de invadir América Latina
Nazismo nos trópicos: como Exército Vermelho impediu Hitler de invadir América Latina