“Os males do mundo não são produzidos pelos ateus, são produzidos pelos crentes.” A afirmação contundente de Frei Betto, dominicano e doutor honoris causa em Filosofia e Educação, marca o tom da entrevista concedida ao programa Dialogando com Paulo Cannabrava da última quinta-feira (15).
Com mais de 70 livros publicados e décadas de atuação na Igreja e na militância social, Frei Betto analisou o contexto da eleição do novo Papa, Leão XIV, e os rumos que o pontificado pode tomar.
Segundo o teólogo, a escolha do cardeal Robert Francis Prevost surpreende, mas tem lógica: 80% dos cardeais que votaram no conclave foram nomeados por Francisco e muitos deles deviam sua nomeação ao próprio Prevost, que presidia a congregação responsável pela escolha de bispos e cardeais. “Foi uma eleição rápida, com um nome que tinha trânsito com os novos cardeais. Ele era o elo entre eles”, afirma.
Frei Betto | Polarização, progressismo, legado de Francisco: os desafios do papa Leão XIV
Frei Betto acredita que Prevost é sensível às questões sociais, mas demonstra cautela nos temas doutrinários. Ele observa que o novo Papa adota um discurso voltado à crítica do ateísmo, o que considera uma inversão de prioridades. “O problema do mundo não é o ateísmo. É a desigualdade social, a crise ambiental, a exploração predatória dos recursos da terra. E quem comete os maiores crimes da humanidade não são os ateus, são os que enchem a boca para falar de Deus.”
Nesse sentido, o frade dominicano cobra que o novo pontífice mantenha a postura crítica do Papa Francisco em relação ao capitalismo e ao imperialismo. “Francisco teve a coragem de denunciar o sistema como ‘esterco do diabo’ e propor alternativas como a Economia de Francisco e Clara. Espero que Leão XIV assuma esse legado”, avalia.
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Ele também comenta a pressão dos setores conservadores dentro da Igreja, especialmente em relação ao celibato, à ordenação de mulheres e à inclusão de casais homoafetivos. “Não há razão teológica ou bíblica para excluir as mulheres do sacerdócio. Isso é patriarcalismo. Jesus tinha mulheres em sua comunidade e escolheu apóstolos casados. Pedro era casado. O celibato não é dogma, é tradição — e uma tradição que pode ser revista.”
Para finalizar, o líder religioso e parceiro recorrente da Diálogos do Sul Global destacou a importância do espaço que a TV DSG tem ganhado e em especial o programa “Dialogando com Paulo Cannabrava”, que é o decano da casa: “Fico muito feliz de ter esse espaço participativo, democrático, um espaço que é um alento para a nossa militância e, ao mesmo tempo, alimenta as nossas utopias”.
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube: