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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Frente ao êxito chavista, resta aos entreguistas clamarem por intervenção na Venezuela

Todas as ilusões de derrubar a soberania da Venezuela fracassaram; resta rogar por uma ação bélica que potencialmente se transformaria numa guerra continental
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Em 14 de janeiro, no portal Peru 21, um colunista pouco conhecido publicou uma “opinião” bastante guerreira. Nela, Héctor Romaña — uma pluma de prestígio, talvez — defendeu uma intervenção militar na Venezuela. Poderia-se considerar que este é o ponto de vista de um analista desesperado que não encontra outro caminho senão a guerra, agora que fracassaram todas as suas ilusões sustentadas em pressões políticas, campanhas de mídia ou sanções econômicas.

No contexto concreto — parece dizer — não há outro caminho senão as armas. Afinal, com elas ganhará não quem tiver a razão, mas a força. E claro, ele pensa que os Estados Unidos são, neste continente, o “matador do bairro”. Ele há de ganhar. Se estivermos ao seu lado, também ganharemos, parece ser sua conclusão simplista.

Esta não é uma opinião isolada, nem pessoal. Se perguntarmos ao Prefeito de Lima, ele dirá que está de acordo. E responderão o mesmo vários congressistas da República e diversos dirigentes de partidos representativos do mais arraigado pensamento conservador peruano. E Luis Gonzales Posada — reiteradamente apontado como agente da CIA — sustentará a mesma ideia, que, com entusiasmo, será respaldada por Fernando Rospigliosi, que, como se sabe, também trabalhou a serviço da embaixada dos EUA.

Raspando um pouco, poderemos ver até candidatos presidenciais, como Keiko Fujimori ou Hernando de Soto, com a mesma iniciativa. A questão é que ela revela não só o pensamento de um segmento definido do cenário político, mas também o desespero que toma conta de certos setores quando suas iniciativas vão de fracasso em fracasso, de derrota em derrota, de queda em queda. Já não podem mais, e gritam sua desesperança, esperando que alguém esteja disposto a lhes tirar as castanhas do fogo.

Porque é preciso estar claro: se houver intervenção militar contra a Venezuela, haverá guerra. E não local, mas continental. Por outro lado, onde há guerra, haverá mortos. Estes não serão os Romaña que escrevem, nem os López Aliaga que fraudam o fisco. Tampouco os Gonzales Posada nem os Rospigliosi. Menos ainda os Fujimori, nem os de Soto. A eles, não se contará entre os mortos. A essa lista macabra pertencerão outros, os soldados rasos que não tiverem padrinho que os livre de ir à guerra.

Ocidental e cristã

A “argumentação” do senhor Romaña é pitoresca: “A América foi fundada sobre os alicerces da Democracia Ocidental liberal. Portanto, tudo o que se opuser a isso, será destruído. Em outras palavras — o Santo Ofício nos tempos da Inquisição — deve prevalecer a todo custo “a civilização ocidental e cristã” e deve ser varrido tudo o que marque um caminho diferente. E isso, deve ser feito agora, porque já chegou a hora das armas.

Incitação à violência, poderia se chamar isso? Apologia ao terrorismo, talvez? A questão não é nova. Franco governou a Espanha por 35 anos sob um símbolo igual: a cruz e a espada. E hoje os “hispânicos” sentem saudades desses anos, seja porque se consideram espanhóis, ou porque aspiram viver em uma colônia. Por enquanto, batem palmas porque o vice-rei determinou o retorno de Pizarro à “Lima Quadrada”.

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Em todo caso, há outras expressões desta mesma concepção. Recentemente, pôde-se estabelecer um fato que se intuía, mas do qual não existiam até hoje evidências sólidas. Em nosso país, os sicários que assassinam cotidianamente matam com balas do exército. Por ora, foi possível estabelecer que mais de 60 mil munições foram subtraídas em cinco ocasiões ao longo de 2024 da Vila Militar, na capital peruana.

Um subtenente e um tenente surgem como os principais implicados no fato. Mas a gente se pergunta: “Os arsenais do Exército podem estar livremente nas mãos de oficiais de tão baixo posto, ou haverá outros de maior graduação já comprometidos?”. Porque, usualmente, foram denunciados atos desse tipo, mas “as autoridades” se encarregaram de proteger os acusados e encobrir as investigações. A “Grande Imprensa” se calou quando isso ocorreu.

Do mesmo modo, protegeram-se os oficiais da Polícia implicados em crimes de diversos tipos, incluindo feminicídios. E, claro, a senhora Boluarte designou para “serviços no exterior” – muito bem remunerados, aliás – todos os que, em seu entorno, lhe serviram docilmente.

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Mas há outras ações que provocam conflito neste cenário pré-bélico que alguns alicerçam com entusiasmo. Recentemente, o ex-premiê Alberto Otárola, o atual ministro Julio Demartini e o “Porta-voz Presidencial” Fredy Hinojosa se salvaram da prisão não por serem inocentes, mas graças às observações do Executivo à Lei de Detenção Preliminar, que a tornam inoperante.

Como se vê, há diversas formas de aplicar concepções bélicas e fazer soar tambores. Mas desvergonha maior, como a que estamos presenciando agora, dificilmente é superável. Os precários inquilinos do Palácio bateram todos os recordes nesta matéria.

Pesos e medidas diferentes

Cometer delitos e não dar a cara, “passar à clandestinidade” ou esconder-se, esperar apelações em instâncias superiores “mais controladas”, ou declarar guerra à Promotoria, como faz o ministro Santivañez, parece ser uma prática institucionalizada no Peru de hoje, onde se batem palmas por agredir irmãos e usar baionetas para oprimir povos.

Se pensarmos na Venezuela e quisermos “tranquilizar” esse cenário, poderíamos pedir que se programe a transferência do poder. Ou seja, que Juan Guaidó entregue a Presidência que vem exercendo a Edmundo Gonzales. E que o novo “Mandatário” busque a sede de seu governo. Poderia ser Kansas City.

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Em um nível mais alto, desde segunda-feira, 20, os planos guerreiristas marcham marcialmente ao compasso do Tamborileiro Maior, Donald Trump, o Supremo Diretor do Concerto de Tambores e Mísseis que ameaça a América.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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