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Eva Bartlett*
Em 17 de novembro de 2012, em meio ao ataque de oito dias contra o território palestino de Gaza, o vice-primeiro ministro de Israel, Eli Yishai, exortou publicamente o exército de seu país a “arrebentar Gaza até deixá-la como na Idade Media, destruir toda a infraestrutura, incluindo caminhos e rede de abastecimento de água.
No dia seguinte, Gilad Sharon, filho do ex-primeiro ministro Ariel Sharon, chamou Israel a “invadir bairros inteiros. Arrasem com toda Gaza. Que não sobre eletricidade, nem gasolina, nem veículos em movimento, nada” (…) “Não há caminhos intermediários: os gazaties e sua infraestrutura pagam o preço ou recuperamos toda a franja de Gaza”. Sentenciou.
Mais de um mês depois de firmado um cessar fogo entre Israel e Hamás (acrônimo árabe de Movimento de Resistência Islâmica), que controla a franja de Gaza, as autoridades locais e organizações internacionais não concluíram a avaliação dos danos causados pelos bombardeios.
Estimativas preliminares indicam que as perdas ascendem a 250 milhões de dólares, com outros 700 milhões em danos diretos, segundo o porta-voz do governo de Hamás, Taher al Nanu.
Em termos mais tangíveis, a vasta destruição inclui pontes, milhares de vivendas, centenas de refúgios da Organização das Nações Unidas (ONU), dezenas de mesquitas, muitos edifícios governamentais e de meios de comunicação, instituições financeiras, hospitais e centros de saúde, dois estádios, um centro de treinamento para esportista com deficiência, redes de água, saneamento e eletricidade, mais de 100 escolas, túneis subterrâneos que conectam Gaza com Egito e inumeráveis caminhos.
Durante o bombardeio, a cadeia de notícias qatari Al Jazeera informou que 400 mil pessoas estavam sem eletricidade devido a destruição de cinco transformadores. Depois de cessado o fogo, a dimensão dos danos na rede elétrica ficou evidente. Outros 32 transformadores distribuídos em toda a franja foram destruídos ou ficaram danificados, segundo a Corporação de Distribuição Elétrica de Gaza (GEDCO). “Reconectamos todas as linhas afetadas durante os ataques. Porém, devemos corrigir as reparações temporárias porque não fizeram de acordo com as normas técnicas”, disse Usama Dabbour, do departamento de relações externas do GEDCO.
“Não obstante, ainda há umas cinco mil pessoas sem eletricidade em toda a zona fronteiriça. Não podemos conectá-los porque continua muito perigoso ir ali apesar do cessar fogo”, explicou. Os danos incluem cabos rompidos, postes caídos, veículos da GEDCO destruídos e um depósito da empresa bombardeado. “Temos 5,5 milhões de shequeles em danos diretos e 7.700 milhões de shequeles em indiretos”, precisou Dabbour.
Não é a primeira vez que o exército de Israel arremete contra a rede elétrica de Gaza. “Cada vez que bombardeiam Gaza, danificam a rede elétrica”, relatou. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o bombardeio israelita de três semanas, entre 2008 e 2009, representou 10.4 milhões de dólares em danos na rede elétrica.
Desde o bombardeamento da única usina de geração de eletricidade de Gaza em 2006, toda a franja sofre apagões programados e de surpresa, alguns chegam a durar 18 horas ininterruptas. A rede de água e saneamento também sofreu colapso sob as bombas israelitas. Ibrahim al-Aleja, responsável pela comunicação da empresa de Água dos Municípios Costeiros (CMWU), informou que o dano se estende por toda a rede na franja.
Entre os danos mais graves, desde Beit Hanoun, no norte, até Rafah, no sul, incluem adutoras subterrâneas arrebentadas pela bombas lançadas sobre as ruas, casa, áreas livres e reservatórios de água. “Destruíram uma represa em Kohza’a, a leste de Khab Younis. Não representava nenhuma ameaça para os israelitas”, lamentou-se Al-Aleja. Dois poços de águas servidas no mesmo povoado também foram destruídos. Ainda em Khan Younis, o ataque destruiu um depósito de 350 mil litros de água, bem como uma adutora principal no bairro de Amal, acrescentou.
Partes dos povoados d Nusseirat e Mughraga, no centro de Gaza, continuam sem água. “Quando os israelitas bombardearam uma ponte entre os dois lados, destruíram uma tubulação subterrânea. Ainda há 20 mil pessoas sem água na zona”, disse.
Bassam Abu Dahrouj, de 14 anos, subiu na laje inclinada da ponte feita pedaços. O bombardeio de 21 de novembro a destruiu pela quarta vez, recordou o adolescente. “Metade das famílias de Mughraga utilizam a ponte e as crianças passam por ela para ir a escola (…) Agora têm dar uma volta enorme”, contou.
Alguns não se incomodam de dar toda essa volta. E enquanto ele fala, dois meninos trepam a parede de cimento. Porém, “no inverno, os israelitas abrem as comportas e inundam o vale. A água sobe muito e ninguém pode cruzar o rio”, acrescentou.
Mais ao oeste, a ponte da rota costeira que une o centro de Gaza com o norte também resultou danificada. Uma montanha de concreto e de vigas de metal, materiais difíceis de ser encontrado ali devido ao bloqueio imposto por Israel, formam pilhas de escombros. Alguns metais são resgatados para vender para as construtoras.
Na parte sul da ponte destruída, uma fila de táxis se aventura no fundo do vale enlameado, optando por um percurso esburacado, mas mais curto que pela rua Salah el Din, vários quilômetros mais ao leste. Um arranjo temporário que ficará inutilizado durante o inverno, quando as fortes chuvas invadem o vale
As estimativas iniciais resumem danos no setor agrícola de 20 milhões de dólares, 136 escolas e jardins da infância danificados ou destruídos e 450 moradias destruídas ou muito danificadas, o que deixou três mil pessoas sem moradia, segundo a ONU. O vice-primeiro ministro Yishai, que em novembro havia anunciado a aniquilação de Gaza, declarou depois do ataque israelita de 2008-2009 que, “temos que destruir sua infraestrutura e 100 casas”.
Os convênios de Genebra destinados a evitar a barbárie da guerra proíbem “a destruição desnecessária da propriedade do inimigo” e a “destruição ampla e apropriação de propriedades sem justificativa militar e efetuada de forma ilegal e gratuita”
*enviada especial de IPS